On Tour: O Flamengo é Zico, Gerson e mais 9

Não, não é verdade que o Chapolin Rubro-Negro, nosso torcedor de estimação, tenha sido barrado na imigração por se vestir como herói mexicano.

Seja como for, a política de deportações de Donald Trump tem assustado os fãs de futebol. Fomos devorar umas azeitonas num bar – a Guinness foi só para acompanhar – e conversamos com uma garçonete, residente ilegal há anos por aqui. Ela contava que leva a vida normal, com uma simples – e drástica – mudança de hábito: não frequenta mais lugares onde se reúnem brasileiros como ela, por medo de uma batida surpresa. Com isso, nada de churrascarias, amigos e, claro, estádios.

Nos aeroportos, nossa torcida segue chegando, e talvez por nossa boa educação e elegância, entrando sem baixas. Todos sabem que Flamengo x Chelsea não é uma partida comum. Afinal, quando o Manto Sagrado entra em campo contra um esquadrão inglês, o mundo inteiro para tudo e se põe a assistir – uma história que vem desde 1948, em partida contra o tradicional Southampton, em São Januário.

No trem da Filadélfia para Nova York, embarcamos com o goleirão Raul, e o papo descambou para, entre uma azeitona e outra, tentarmos escalar o Flamengo de todos os tempos. Raul ou Julio Cesar? O Rossi já pleiteia uma vaguinha?

Arrisco então uma mensagem rápida para o escritor flamengo Ruy Castro, ciente de que o imortal da ABL está roendo as unhas até de seus gatos na expectativa pelo clássico. Seria possível, Ruy, escalar os onze mais importantes da nossa rica história?

Pouco depois, o e-mail chegou. Ruy admitiu que, desde 2019, tenta atualizar sua escalação do Flamengo de todos os tempos. E que enfim conseguiu. Bastou, para tal, escalar três supertimes.

O terceiro time de Ruy Castro é de apavorar qualquer Real Madrid: Garcia; Jorginho, Jadir, Rondinelli e Paulo Henrique; Andrade e Everton Ribeiro; Doval, Henrique Frade (Nunes), Evaristo e Zagallo.

Seu maior dilema foi como incluir nosso endiabrado Artilheiro das Decisões: “Mas onde botar o Nunes? O Henrique é o terceiro maior artilheiro da história do Flamengo, não pode sair.”

O segundo escrete golearia o PSG, fácil: Raul; Biguá, Aldair, Mozer e Jordan; Dequinha e Adílio; Joel, Leônidas, Dida e Bruno Henrique.

E o primeiro? Todos prontos? Aí vai: Julio Cesar no gol; Leandro, Domingos da Guia, Reyes e Junior; Carlinhos Violino e Zizinho; Gerson, Gabigol, Zico e Arrascaeta.

Confirmo: o nosso Gerson de hoje?

“Claro! O Gerson Canhota começou conosco e jogou muito bem, mas apenas durante dois anos.” Para Ruy, o atual capitão do time tem bola e méritos de sobra para estar no escrete rubro-negro de todos os tempos, “por tudo que fez pelo Flamengo”.

Será que esse supertime pode mudar depois de sexta? Terá um dia o zagueiro Léo Ortiz vaga em nossa “selemengo” dos sonhos, talvez na vaguinha do paraguaio Francisco Reyes, xerifão dos anos 1970? Ou, quem sabe, no lugar do mitológico Zizinho? Futebol para isso ainda não sabemos – mas o bigodinho ele já tem.

*Marcelo Dunlop é o cronista rubro-negro da ‘On Tour’, coluna do GLOBO que mostra a visão dos torcedores brasileiros nos EUA durante a Copa do Mundo de Clubes

Fonte: O Globo
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