Uma distorção no regulamento do Campeonato Carioca em relação aos cartões amarelos, descoberta pelo comentarista de arbitragem da Rede Globo Renato Marsiglia, pode complicar a reta final da competição. As advertências são zeradas ao fim das fases de grupos de cada um dos turnos (Taça Guanabara e Taça Rio). Mas o mesmo não acontece após as finais dos respectivos turnos. Dessa forma, quem disputa a fase decisiva dos turnos está sujeito a suspensões pelo terceiro cartão amarelo logo no início da fase seguinte, como aconteceu com Richarlison, do Fluminense, na segunda rodada da Taça Rio. E pior. Depois da final do segundo turno, são disputadas as semifinais e a final do Carioca. Ou seja, quem disputar a fase decisiva da Taça Rio corre um risco muito maior de perder jogadores na decisão do campeonato.
A fase final do Carioca será disputada pelos campeões da Taça Guanabara e da Taça Rio, além dos dois melhores classificados na tabela. Dessa forma, o clube que se classificar para a fase final vencendo o segundo turno tem uma probabilidade bem maior de desfalques por terceiro cartão amarelo na fase decisiva do Carioca.
O atacante tricolor Richarlison recebeu cartões amarelos na semifinal e final da Taça Guanabara, contra Madureira e Flamengo, respectivamente. No primeiro jogo da fase de grupos da Taça Rio, contra o Boavista, também foi advertido. Acabou fora da rodada seguinte, contra o Nova Iguaçu. O problema com os cartões cria distorções também para os critérios de desempate, uma vez que os clubes que disputam os jogos finais de turno têm maior possibilidade de ter jogadores advertidos.
A questão foi debatida pelos comentaristas de arbitragem da Rede Globo, em reunião coordenada por Arnaldo Cezar Coelho. Renato Marsiglia comentou a questão com o diretor de competições da Ferj, Marcelo Vianna, que prometeu esclarecer o critério aos clubes.
- Os critérios de punição por suspensão pelo terceiro cartão amarelo são confusos e prejudicam um clube que foi eficiente, como prejudicaram o Fluminense nessa virada de turno. O cartão como critério de desempate é o último item, mas pode acontecer - analisou Marsiglia.
Apesar de potencialmente prejudicar os clubes mais eficientes na Taça Rio, o diretor de competições da Ferj disse que o critério será mantido:
- Na verdade, não tem problema. Já está tudo decidido e tudo será colocado aos clubes através de resolução de diretoria, como foi no caso do Richarlison. Assim que terminou a Taça Guanabara fizemos uma resolução de diretoria deixando claro que os cartões acumulados na semifinal e final da Taça Guanabara são levados em consideração para a Taça Rio. Tanto que o Richarlison já cumpriu. E haverá o mesmo critério para as finais do Carioca, não tem como haver dois critérios. Os cartões das semifinais e final da Taça Rio serão levados em conta para as semifinais e finais do Carioca. Será expedida uma nova resolução de diretoria para ser enviada aos clubes e publicada no site - analisou Vianna.
Questionado se não estaria, dessa forma, punindo os clubes mais eficientes, Vianna respondeu:
- De certa maneira, sim. Mas tem de trabalhar o lado da prevenção da violência no futebol. Já é feito dessa maneira há algum tempo. A fase final nada mais é do que a terceira fase. Os cartões da primeira fase são levados para a segunda, que é a Taça Rio, e os cartões da Taça Rio contam para a terceira fase. Aí o justo e o injusto fica um pouco distante de julgamento. O importante é que existe um critério, e o critério é esse.
No Paulista, final sob risco de desfalques, analisa Paulo César Oliveira
No Campeonato Paulista, os cartões amarelos nunca são zerados em qualquer fase. Paulo César Oliveira mostrou preocupação em relação ao alto risco de ter algumas das principais estrelas da competição fora da final. Ele avaliou o regulamento na reunião dos comentaristas:
- O regulamento é simples e de fácil entendimento. Todavia, as quartas de final e semifinal serão disputadas com jogos de ida e volta. Bem que os cartões poderia ser zerados para a final, porque aí preservaria os principais jogadores para a decisão.
Copa do Brasil tem regulamento "justo", diz Gaciba
Na Copa do Brasil, por sua vez, os cartões são zerados ao fim da quarta fase (a fase atual), já que na fase seguinte, as oitavas de final, os clubes que disputam a Libertadores, além dos campeões da Copa Nordeste, Copa Verde e Série B do Brasileiro, se juntarão aos demais. Ou seja, todas as equipes - tanto as que se classificaram na quarta fase como as que entram diretamente na quinta fase - iniciam as oitavas de final com cartões zerados. Isso não se aplica somente no caso de um jogador ter recebido o terceiro cartão amarelo na quarta fase. Nesse caso, ele terá de cumprir a suspensão automática na fase seguinte. O regulamento foi elogiado pelo comentarista Leonardo Gaciba, na reunião.
- Acho um regulamento justo nesse critério. Com a entrada das 11 equipes, os amarelos dos cinco times que estavam na competição desde a primeira fase são zerados. A medida evita injustiças técnicas na competição - disse Gaciba.
Arnaldo Cezar Coelho vê regulamentos confusos até no exterior
Arnaldo Cezar Coelho trouxe até o regulamento da Liga dos Campeões da Europa para o debate:
- Sabe como é o regulamento? Na fase de grupos, o jogador é suspenso depois de três cartões amarelos. Agora, no mata-mata, dois cartões amarelos suspendem por um jogo. A regra é clara, os regulamentos em relação às punições pelos cartões amarelos é que são muito confusos pelo mundo afora.