Da badalada "Geração 2000" de Vinicius Jr no Flamengo , poucos fizeram sucesso, muitos ainda tentam um lugar ao sol, e um deles surpreendeu ao se aposentar com apenas 19 anos. Renan era zagueiro titular daquele time que marcou época, ficou dois anos sem perder, entre 2014 e 2015, e tinha sete jogadores nas seleção brasileira sub-15.
Renan não era um desses sete, mas profissionais que conviviam com ele na base rubro-negra enchiam a bola do garoto, considerado um "ótimo zagueiro" na categoria. Porém, ele diz que forçado a mudar de posição devido à baixa estatura, não se adaptou como volante ou lateral-direito e desistiu do futebol para estudar.
Em 2020, ingressou na faculdade de Educação Física em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e concluiu o curso no fim de 2023. Em seu primeiro ano de formado, dá aulas em academias como personal trainer num centro de treinamento que conta com ortopedia, fisioterapia, nutrição, funcional e massoterapia, e tem como alunos desde ex-jogadores, como Fellipe Bastos, até ex-BBBs, como Arthur Picoli e Arcrebiano Araújo (o Bil).
- Cara, eu não me arrependo nem um pouco de ter parado. Hoje eu dou aula de personal trainer, sou coordenador do estúdio da 4 Health & Performance aqui no Recreio. Até conversei com os professores da empresa que eu nem imaginava com um ano de formado estar conseguindo chegar onde eu estou agora. Para mim está sendo muito bom mesmo esse ano, estou conseguindo ter meus alunos, fazer meu trabalho aqui na empresa. Costumo dizer que sempre pode melhorar, mas está tudo caminhando bem.
Como foi ver o Vini Jr, um cara que você cresceu jogando junto, ser eleito melhor do mundo?
- Teve a votação que ele não foi eleito (Bola de Ouro), eu fiquei até chateado porque a gente sabia que ele já podia ter ganhado. E ter visto essa, cara, fiquei muito feliz porque é um moleque que está com a gente desde pequeno, eu conheço o Vini desde os meus 11 anos de idade. Até hoje costumo dizer que o Vini é um cara muito humilde, quando estive em Portugal eu fui num jogo do Real Madrid, ele me deu ingresso... Então ele continua sendo um moleque muito tranquilo, sempre que consegue a gente troca uma ideia pelo Instagram. Hoje é um pouco mais difícil conseguir ter acesso a ele assim, mas uma felicidade enorme ver ele conseguindo conquistar seus objetivos.
Que ano foi esse convite para o jogo do Real Madrid?
- Foi em 2019. Inclusive, acho que ele tinha acabado de chegar, entrou depois no jogo, estava no banco. E nesse dia foi no Santiago Bernabéu, e o Real Madri perdeu, cara. Depois disso ele não me chamou mais (risos).
Ainda tem contato com ele?
- Pouco. Tipo, meu aniversário dois anos atrás ele me mandou mensagem, sempre que posso eu mando mensagem para ele também. Mas é um pouco mais difícil pela quantidade de mensagens que deve ter no Instagram dele hoje (risos).
Como você chegou ao Flamengo ?
- Eu jogava futsal na época, morava em Santa Cruz, jogava futsal no Apolo, colégio que disputava alguns estaduais. De lá, eu fui jogar futsal no Bangu. Depois fui para o campo do Bangu e fizemos alguns jogos contra o Flamengo . A galera na época gostou, me convidou para fazer uma avaliação, aí eu aceitei, óbvio. Fiz essa avaliação no Flamengo , inclusive foi até junto com o Lincoln, a gente entrou junto. Cheguei ao Flamengo em 2011, com 11 anos, e fiquei até 2017.
Você parou de jogar cedo, o que aconteceu?
- Então, eu era zagueiro na época, costumo brincar que eu tenho a mesma altura hoje (1,77m) que eu tinha em 2013, então acredito que a altura tenha me atrapalhado bastante. Na época eu fui até em um médico que tinha alguns estímulos para crescer, só que era um tratamento caro, e de repente podia não dar resultado porque já fui um pouco tarde. Na época os fisiologistas do Flamengo fizeram estudo para ver até quanto de altura eu ia chegar, então para zagueiro era um pouco complicado. Eu mudei de posição no Flamengo ainda, passei para volante, só que já tinha muitos moleques bons para caramba também lá, acabei perdendo um pouco espaço. Acho que isso foi o principal que me desanimou com o futebol. Perdi espaço na posição e tive que me adaptar a uma nova posição.
Você virou volante em qual categoria?
- Foi em 2017, no sub-17. Dali eu já estava jogando pouco, ia para os jogos e não entrava. Alguns jogos eu nem ia. Então isso foi me desanimando um pouquinho com o futebol. Mas ainda assim, depois do Flamengo , eu ainda tentei, busquei outros lugares para tentar me adaptar à posição. Lugares que eu conseguisse jogar, no Flamengo já não estava jogando mais por causa que já tinha mais jogadores há mais tempo na posição. Então isso me atrapalhou um pouquinho no Flamengo , acredito eu.
Vocês tinham um time muito forte na base, mas poucos vingaram no profissional. Futebol tem muito de estar no lugar certo e na hora certa, principalmente nesse início?
- É aproveitar as oportunidades. Nossa geração era muito forte, cara. Como vocês falaram, a gente ficou de 2011 até 2015 sem perder um jogo, tanto amistoso quanto jogo valendo mesmo. E o Vinicius sempre fez muita diferença no nosso time, cara. Eu costumo dizer isso para todo mundo que me pergunta sobre o Vinicius, a gente já sabia que ele ia chegar. De repente não na proporção que tomou, mas já sabia que o Vinicius ia ser jogador de futebol profissional. Graças a Deus ele conseguiu surpreender mais a gente ainda, sendo o melhor jogador do mundo esse ano.
Você tinha empresário naquela época?
- Cara, tive, mudei de empresário algumas vezes, mas quando estava saindo do Flamengo estava sem ninguém, estava sozinho. Algumas pessoas que me ajudavam, até pai de meninos que estavam no Flamengo , o Ulysses me ajudou bastante, que é o tio do Vinícius; o Ricardo, que era pai do Luan, também. Algumas pessoas me ajudaram, mas empresário nessa época eu já estava sem.
Pintou time no Brasil ou foi direto para Portugal?
- Eu saí do Flamengo em 2017 e fui para São Paulo, morei um ano lá. Passei pelo Juventus da Moca, fui para o Nacional também, fiquei mais ou menos seis meses em cada. Depois eu voltei para o Rio e fiquei treinando na Boa Vista, foi quando apareceu a oportunidade de ir para Portugal. Mentes do Desporto, era um time de Segunda Divisão distrital na época, hoje em dia não sei se já subiu. Morei um ano lá, e mais ou menos em agosto, setembro, recebi uma oportunidade no CSA. Eu fui, só que estava perto da inscrição da Copinha, então eu não tive tanto tempo para mostrar e acabou que eu não ia ser inscrito na Copinha. A galera até ofereceu para ficar, jogar o estadual, mas optei por vir embora.
- Já estava desanimado. Quando percebi que não ia chegar onde queria com o futebol eu decidi parar. Não queria ficar batendo cabeça, não queria ficar passando por clubes menores, recebendo pouco talvez. Então eu sabia que eu não ia chegar onde eu queria, até pelo meu desempenho na nova posição, eu sabia que não estava contribuindo tanto. Então foi onde já começou a passar pela minha cabeça parar com o futebol.
O que mais pesou para decidir parar? Desilusão, parte financeira...
- Cara, parte financeira não foi tanto, graças a Deus meus pais sempre me ajudaram muito com isso. Meus pais tinham uma condição financeira ok, então não foi isso que pesou, foi mais questão de eu desanimar um pouco com as coisas que vinham acontecendo no futebol, por eu não ter crescido, não ter conseguido firmar na minha posição. Isso foi me desanimando aos pouquinhos, e chegou uma hora em que eu já estava empurrando com a barriga. Meus pais conseguiriam pagar a minha faculdade na época, e decidi parar e me dedicar aos estudos.
Mas foi simples tomar essa decisão de parar ou foi difícil?
- Foi muito difícil porque a minha vida toda eu vivi para o futebol, até os 19 anos. Desde que eu jogo bola, desde os 7, 8 anos de idade. Inclusive minha mãe me colocou no futebol porque eu era um pouco tímido, depois eu não queria parar mais de jogar. Foi bem difícil. Realmente eu estava pensando muito se deveria parar, se deveria continuar, mas segui com a ajuda dos meus pais também. Eles sempre me apoiaram em tudo que eu pretendia fazer, então foi difícil, mas costumo dizer que não me arrependo.
O que fez depois de parar?
- Assim que eu parei, final de 2019, em 2020 eu já comecei na faculdade e comecei a trabalhar também. Trabalhei no escritório de contabilidade do meu pai. Aí eu comecei a vida real, estudar e trabalhar ao mesmo tempo (risos). O começo foi meio difícil, você sair da zona de conforto que é ficar ali só treinando, para estudar, trabalhar, pegar transporte público, enfim...
E como é sua rotina hoje?
- Hoje eu começo dando aula cedo, desde 6h da manhã e vou até 19h, 20h. Eu me divido entre aulas de personal, em outras academias fora, em condomínio, e essa parte de coordenação aqui no estúdio. Aqui são aulas personalizadas, em grupo, então eu fico mais nessa parte de coordenação e dou aula de personal. Quando eu comecei na faculdade eu queria trabalhar diretamente com futebol, queria ir para um clube. Com o tempo isso foi mudando na minha cabeça porque eu tinha vivido o futebol e fui perdendo um pouquinho o prazer de estar ali dentro. Hoje trabalho com alguns atletas, mas atendo um público em geral, desde gente que quer emagrecer ou ficar forte até o atleta recuperando de lesão.
- Aqui são quatro sócios, um deles é o doutor Gustavo, que é médico-chefe do Botafogo. Até mandar um abraço para ele, que foi campeão de Libertadores, Brasileiro (risos). Também tem o Rafa, que é coordenador técnico do Botafogo hoje da base, e o Danng, que está na preparação física no Vasco. E o Cadu, que é um pouco mais fora do futebol.
E ainda acompanha o Flamengo ? Trocou o campo pela arquibancada?
- Sou flamenguista doente, sempre que posso estou no Maracanã. Costumo dizer que uma cinco, seis vezes por ano eu tenho que ir. Jogos importantes estou por lá (risos)... Mas sempre acompanhando de casa também quando não estou no estádio. O último foi contra o Inter no Brasileiro. Flamengo fez 3 a 0 no primeiro tempo e depois tomou dois gols.
Você que viveu as dificuldades de um zagueiro virar volante, como avalia o Léo Ortiz na função?
- Pô, Léo Ortiz é craque, né? Então tanto de volante e zagueiro ele dominou bastante a posição. Foi muito bem de volante, se saiu muito bem. De zagueiro eu acho um dos melhores que tem no futebol brasileiro hoje, mas de volante também foi muito bem.
E como está sua expectativa como torcedor para 2025?
- Acho que tem tudo para ser melhor do que em 2024. O Filipe Luís está fazendo um trabalho sensacional. Acho que o Flamengo pode buscar muitos títulos, brigar pelo Brasileiro, pela Libertadores, pela Copa do Brasil... O Flamengo é um elenco que tem que brigar por títulos assim como foi esse ano e vai ser melhor ainda em 2025.
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