O Flamengo estreia no Campeonato Brasileiro neste sábado, às 21h (de Brasília), contra o Inter no Maracanã. Mesmo adversário e palco do único jogo oficial de Romário e Bebeto juntos com a camisa rubro-negra há quase 30 anos. Conhece essa história?
Antes é preciso entender o contexto. O "melhor ataque do mundo, Sávio, Romário e Edmundo", como dizia a música da torcida em 1995, não deixou saudades no Flamengo . Mas o que poucos se lembram é que no ano seguinte o clube tentou criar uma espécie de "versão 2.0" desse ataque com a dupla do tetra da seleção brasileira.
Bebeto e Romário na campanha do tetra da Seleção — Foto: Getty Images
Dois anos antes, Romário e Bebeto comandaram o Brasil na conquista da Copa do Mundo nos Estados Unidos e eternizaram seus nomes com a amarelinha. Antes, ambos já haviam sido medalhistas de prata nas Olimpíadas de 1988 e campeões da Copa América de 1989, quando enfrentaram a Argentina de Maradona. Juntos, assim como Pelé e Garrincha, eles nunca perderam pela seleção principal: foram 23 partidas, com 17 vitórias, seis empates e 33 gols da dupla.
O Flamengo , que em 1995 havia repatriado Romário do Barcelona, na época em que era o melhor jogador do mundo, mas não ganhou nada, apostou suas fichas em fazer o mesmo com Bebeto. O Rubro-Negro, que começou 1996 ganhando o Carioca, foi buscar o craque no Deportivo La Coruña, também da Espanha, para o lugar de Edmundo.
Bebeto e Romário juntos no Flamengo em 1995 — Foto: Reprodução
— Edmundo é um dos três maiores jogadores do Brasil, mas o ambiente não era favorável. Isso aqui estava uma confusão. Bebeto é um astro internacional e pegará o clima bem mais tranquilo — declarou Romário ao jornal O Globo, em 8 de março de 1996.
A contratação de Bebeto foi uma novela que só chegou ao capítulo final no meio do ano. O astro se apresentou à Gávea em julho e empolgava o técnico Joel Santana:
— Com ele (Romário), Bebeto e Sávio, o Fla passou a ter um ataque igual ou melhor do que o do Barcelona.
Mas o "melhor ataque do mundo 2.0", ou "novo ataque dos sonhos" como estampou o jornal O Globo, só esteve em campo uma única vez. Um amistoso no dia 3 de julho no Vivaldão, em Manaus, local onde hoje está a Arena da Amazônia, contra o Corinthians de Edmundo: 2 a 2, com dois gols de Romário (veja no vídeo acima) .
— Adorei jogar com ele nas Olimpíadas de Seul, na Copa América e na Copa do Mundo. Aqui vai ser igual — afirmou Bebeto após a partida.
Porém, o que seria o "ataque dos sonhos" nunca mais deu as caras. Por diferentes motivos. Primeiro porque surgiu, ainda em julho, uma proposta considerada irrecusável do Valencia para Romário, que receberia um salário de US$ 8 milhões em um contrato de três anos, um dos mais altos do mundo na época.
"Ataque dos sonhos", Romário e Bebeto no Flamengo em 1996 — Foto: Reprodução / O Globo
Só que ele não repetiu o sucesso do Barcelona pelo Valencia e três meses depois, em outubro, voltou ao Flamengo por empréstimo. Porém, foi a vez das lesões atrapalharem o ataque rubro-negro. Quando Romário retornou, Sávio estava se recuperando de uma cirurgia no joelho. E na reestreia do Baixinho, ele se lesionou ainda no primeiro tempo e ficou quase um mês fora.
Quando se recuperou, Bebeto já tinha feito seu último jogo pelo Flamengo no início de novembro. O Rubro-Negro tinha chances muito remotas de se classificar para a fase final do Brasileirão e aceitou uma proposta do Sevilla de US$ 4 milhões mais o passe do meia Moacir, que estava emprestado ao Atlético-MG.
A única partida oficial de Romário e Bebeto juntos com a camisa rubro-negra foi contra o Inter no Maracanã, no dia 27 de outubro, pela 17ª rodada da primeira fase do Brasileirão. O Baixinho havia acabado de voltar do Valencia e mal deu tempo de treinar antes do jogo.
— Eu e Roma nem precisamos treinar. Nos conhecemos há tanto tempo... — falou Bebeto, que havia virado o capitão do time quando Romário saiu, em declaração publicada pelo jornal O Globo no dia da partida.
— Formamos uma grande dupla. Ele continuará sendo o capitão do time. Marcaremos muitos gols e todo o time é bom. Sinto-me em forma e estou pronto para o jogo — afirmou Romário para os jornalistas na véspera.
Romário saiu machucado no único jogo oficial com Bebeto no Flamengo — Foto: Reprodução / O Globo
Diante de 36.576 torcedores no Maracanã, Joel Santana escalou o time com: Zé Carlos, Rivera, Júnior Baiano, Ronaldão e Athirson; Mancuso, Márcio Costa e Nélio; Bebeto, Romário e Marques. Talvez seja um jogo de pouca lembrança para a torcida rubro-negra porque foi uma derrota. O Flamengo até saiu na frente com Nélio, aos 26 do primeiro tempo, com assistência de Bebeto (veja no vídeo acima) . Mas nos minutos finais da partida, o jovem atacante Fabiano, recém-chegado do Juventude ao Colorado, virou o placar.
— Esse jogo aí era a volta do Romário, o Flamengo com grandes jogadores como o Bebeto, Maracanã cheio... E a nossa equipe não estava muito boa, a ideia era: "Vamos ao Maracanã tentar buscar um empate fora de casa". Lembro que foi a primeira vez que pisava no Maracanã, que só tinha visto pela TV. Tinha 21 ou 22 anos e estava no banco. O Figueroa (treinador) me deu 10 ou 15 minutos de oportunidade e fiz dois gols, foi surreal. No fim do jogo chegou a imprensa para me entrevistar e brinquei: "Quem foi ver Romário viu o Fabiano". Isso me deu uma visibilidade muito grande, surfei naquela onda por muito tempo — contou Fabiano ao ge.
Fabiano comemora um gol pelo Inter — Foto: Reprodução
A dupla Romário e Bebeto atuou menos que um tempo. Aos 40 minutos de jogo, o Baixinho se lesionou e foi substituído por Aloísio. Fabiano, que atualmente está com 50 anos e continua morando em Porto Alegre, acredita que a saída do craque foi importante para a reação do Inter na partida:
— Ele machucou foi bem na lateral, a gente no banco e logo veio a notícia: "Não volta". O Flamengo tinha vários jogadores de alto nível, mas sem ele aliviou bastante. A preparação era segurar o Baixinho, a preleção era essa (risos). Mas como? Era difícil. E o Bebeto era um jogador muito inteligente, de jogar fora da área, armando, e com uma conclusão muito boa. Para mim, foi uma honra ver os dois e jogar com eles.
Romário e Bebeto voltaram a se encontrar cinco anos depois, só que no rival Vasco. Porém, a dupla também não fez sucesso. Após encerrarem a carreira, os dois trabalharam juntos novamente no América-RJ em 2010, quando o ex-camisa 11 era dirigente e o ex-camisa 7 tentava a carreira de treinador. Depois se enveredaram pela política, chegaram a virar desafetos um do outro, mas fizeram as pazes.
Em 2021, em gravação para o Esporte Espetacular no Maracanã (veja no vídeo acima) , o Baixinho cravou: "Fomos a melhor dupla do futebol mundial".
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