O Rio de Janeiro de 1960 vivia uma época de mudanças. Com a
fundação de Brasília, que passou a ser capital do Brasil a partir de 21 de
abril, o município virou uma cidade-estado, com no nome Guanabara. A história,
a partir daquela década, iria indicar diversas novidades, no campo político e
social, como a ditadura militar. No futebol, não foi diferente. Os anos 60, de
hegemonia do Santos de Pelé, trouxe glórias, como o bi da Libertadores e do
Mundial. E teve o Maracanã como palco. Ao adotar o estádio carioca visando
explorar um campo maior e arrecadar rendas polpudas, a direção do Peixe fez no
passado o que as de Flamengo e Fluminense repetem no presente. Muito antes do
Fla-Flu do Pacaembu, neste domingo, a partir das 16h, o time paulista teve como
casa o Rio.
Foram seis jogos com mando do Santos no Maraca, entre
Libertadores, Mundial e Recopa Sul-Americana. Quatro títulos, uma eliminação. O
Peixe ainda enfrentou o Bahia, em 1960, e perdeu a final da Taça Brasil de 59:
3 a 1, no terceiro jogo em campo neutro. Como visitante, o time paulista tem
151 duelos.
- O Santos jogava (no Maracanã) porque na Vila Belmiro cabia
15 mil e queria uma renda maior. Com a popularidade de Pelé e cia., não tinha
por que ganhar pouco dinheiro. E por que não jogar em São Paulo? Porque Santos
fugia da torcida de lá. Se jogasse no Pacaembu, por exemplo, teria minoria de
santistas, e os rivais para torcer contra. Já no Rio de Janeiro, torcedor
carioca apoiava. Cidade praiana como Santos. Torcedor queria ver Pelé no auge -
conta o historiador Guilherme Gomes Guarche.
A decisão da gestão do presidente Athiê Jorge Coury teve
críticas. Os jornais paulistas da época reclamavam.
- Criticavam o time sair da sua cidade e do seu Estado. Para
ser politicamente correto, Santos dizia que teria no máximo 70 mil torcedores
em São Paulo e que no Maracanã, em final de Libertadores ou Mundial, passaria
de 100 mil. Mas a verdade era que Santos fazia isso para fugir da torcida de
São Paulo, ter estádio cheio, maior renda, e também o apoio dos cariocas -
completa o historiador.
E foi o que aconteceu. De acordo com reportagem do jornal O
Globo de 15 de novembro de 1963, os 132.728 espectadores de Santos 4 x 2 Milan,
partida definida pela reportagem como "A mais sensacional vitória brasileira", que obrigou o terceiro jogo para apontar o campeão mundial, geraram uma
arrecadação recorde do estádio: Cr$ 98.075.500,00. Mas não era só financeiro.
Pelé, em entrevista à TV Globo em 2012, contou algo que
ajudava ele e os demais colegas
(veja no vídeo acima, que conta a história do Rei no Maracanã)
. E era o terror dos adversários:
- Aquele ataque do Santos, com Pelé, Dorval, Coutinho e Pepe
era muito rápido. Então, quanto mais espaço, melhor para a gente. E o Maracanã
dava isso. Passou a ser a nossa casa.
Também deu certo. Só houve uma derrota. Em 1964, para o
argentino Independiente: 3 a 2 e eliminação da semifinal da Libertadores. Mas a
casa adotada valeu a pena...