Sampaoli no Flamengo: três atos de um namoro antigo e sem final feliz

Flamengo procura técnico. Quando você ler essa frase tenha certeza de que dois nomes logo aparecerão. Um em tom de brincadeira: o de Waldemar Lemos – por conta do vídeo que viralizou quando um dirigente rubro-negro anuncia o irmão de Oswaldo de Oliveira como técnico, em 2003, e é alvo de protestos de torcedores; o outro de forma séria. Jorge Sampaoli. Grande parte da torcida já torceu um dia pelo acerto, outros tantos fizeram campanha em redes sociais. O antigo namoro com o técnico argentino – prestes a assumir o Sevilla - começou em 2012. E, até hoje, não teve final feliz.

Veja três atos entre Flamengo e Sampaoli.

Técnico Jorge Sampaoli, do Universidad de Chile, concede entrevista coletiva (Foto: Janir Junior/Globoesporte.com) Jorge Sampaoli começou a bombar quando dirigia o Universidad de Chile (Foto:Janir Junior)

Em 2012, os primeiros olhares

Antes de tudo é necessário explicar o porquê de tanta devoção ao treinador. Entre 2011 e 2012, a Universidad de Chile de Sampaoli encantou a América do Sul com um futebol vistoso, envolvente e baseado em movimentação constante e posse de bola. Sustentou uma invencibilidade por 36 jogos, dominou o Campeonato Chileno e levou a Copa Sul-Americana sem perder (10 vitórias e dois empates).

O time chegou a ser chamado de Barcelona das Américas. Normalmente vendado a técnicos de países vizinhos, o Flamengo arregalou os olhos quando trombou com La U, na Copa Sul-Americana de 2011. O primeiro jogo, no Engenhão, foi um daqueles bailes inesquecíveis. Quatro a zero. E o careca irrequieto, que andava e gesticulava incessantemente à frente do banco, despertou uma paixão platônica que aflorou no início do ano seguinte.

O Flamengo enfrentava grande crise, Vanderlei Luxemburgo foi demitido em fevereiro de 2012 e, pela primeira vez, o nome de Jorge Sampaoli, que pela Universidad de Chile conquistara o título chileno e a Copa Sul-Americana, surgiu no imaginário rubro-negro, sugestão do então vice de futebol Paulo Cesar Coutinho. Teve até quem o ironizasse. Joel Santana logo foi contratado. Cinco meses depois, Joel já era fritado em fogo alto. Sampaoli voltou à pauta. Três dirigentes da época - os vice-presidentes Michel Levy (finanças), Coutinho (futebol) e Walter Oaquim (relações externas) - defendiam a contratação do argentino. Zinho, então diretor de futebol, preferia Dunga.

Existia na Gávea - tal qual como atualmente - preocupação com a adaptação de Sampaoli ao futebol brasileiro. Os treinamentos do técnico tinham grande ênfase na parte tática e eram bem diferentes do dia a dia no Brasil. No contato inicial feito pela diretoria rubro-negra, a resposta de Sampaoli foi positiva, mas a negociação só poderia ser concretizada depois do segundo e decisivo jogo do Apertura. Zinho chegou a comentar durante a procura pelo novo comandante:

- Nunca vi o trabalho desse rapaz (Sampaoli), só vi a campanha do Universidad na Sul-Americana e agora na Libertadores. Não conheço o trabalho de dia a dia. Não tenho nem o telefone do Sampaoli. Fiquei sabendo que o empresário dele é o Gelson Baresi, que jogou aqui. Ele me ligou para falar de jogador e nunca me ofereceu o treinador..

Dorival Júnior foi o escolhido para substituir Joel. Nas eleições de 2012, Lysias Itapicuru, então candidato, colocou Sampaoli como treinador da sua chapa.

Jorge Sampaoli Chile x Holanda (Foto: Getty Images) Jorge Sampaoli Chile x Holanda (Foto: Getty Images)

Em 2015, desmentidos e palanque eleitoral

No ano passado, em meio à corrida presidencial, o nome de Sampaoli causou rebuliço na Gávea. A chapa de oposição a Eduardo Bandeira de Mello – composta por Wallim Vasconcellos e Bap, dissidentes da situação – usou o treinador como promessa de campanha e garantiu que já existia um acordo para que ele fosse o novo treinador em caso de vitória nas urnas.

O anúncio caiu como uma bomba e logo repercutiu na imprensa chilena, já que em dezembro – mês das eleições do Flamengo – seria decidido também o futuro do comandante à frente da seleção chilena.

Representante de Sampaoli no Brasil, o ex-zagueiro Gélson Baresi confirmou o entendimento. “É verdade, o Jorge Sampaoli ficou muito bem impressionado com os integrantes do grupo da Chapa Verde”, disse Baresi.

Pouco depois, em entrevista à imprensa chilena, Sampaoli negou a versão. “Isso do Flamengo só pode ser uma intenção política. Não conheço esse senhor (Baresi), não tenho representante, sempre cuidei sozinho. Falar que tenho algo firmado me parece vergonhoso, não tem nenhuma verdade, impossível que eu tenha um acordo”, disse o treinador.

Horas mais tarde, o grupo de oposição reiterou a confiança em tê-lo no cargo. Wallim Vasconcelos, candidato à presidência, destacou: “Se a gente ganhar a eleição, vamos ter o Sampaoli, que não será só um grande ganho para o Flamengo, mas para o futebol brasileiro”.

Baresi também voltou a se pronunciar: "Ele (Sampaoli) foi mal nessa entrevista. Ele quis fugir do assunto, mas fugiu de uma maneira ruim. Nós não somos mentirosos. Eu tenho encontro com ele desde 2011. A situação toda procede. O Sampaoli tem um contrato com a seleção chilena, e nós estamos conversando sobre suposições, porque o Flamengo vai passar por um processo eleitoral, e nós não sabemos quem vai ser o presidente. Mas, se for o Wallim, há essa possibilidade". Bandeira ganhou e contratou Muricy Ramalho.


Sampaoli durante o evento em Zurique (Foto: Facebook) Estilo Sampaoli no imaginário rubro-negro desde 2012  (Foto: Facebook)

Em 2016, bombado no Twitter, longe da realidade

Por conta de problemas de saúde, Muricy Ramalho deixou o Flamengo na última semana de maio. Entre nomes como o de Abel Braga e o de Zé Ricardo, pinçado dos juniores para preencher momentaneamente a lacuna de treinador, eis quem surge: Sampaoli, sempre ele. A torcida  se movimentou no Twitter com um pedido pela vinda do treinador e emplacou "trending topics", uma lista das "hashtags" mais compartilhadas na rede social. Eleito o terceiro melhor técnico do mundo, atrás apenas de Guardiola e de Luis Enrique na eleição da Fifa, o então desempregado Jorge Sampaoli, povoou os pensamentos da atual direção. Na Gávea, houve quem defendesse esticar a corda até R$ 1 milhão para o treinador e sua comissão técnica. Mas ainda assim pareceu pouco para o argentino. O Flamengo procurou informação dos salários do treinador na seleção chilena - US$ 4,5 milhões por ano. Para vir para o Brasil, a "marca Sampaoli" custaria algo em torno de R$ 1,3 milhão por mês ao Rubro-Negro. Um dos intermediários do técnico comentou que a sondagem do Flamengo não teria agradado, pois não teria sido falado nada do projeto para o futebol. Sampaoli, garante uma pessoa próxima, tem sonho de ser treinador da seleção brasileira e via o clube carioca como ponte para seu objetivo. Não foi, de novo, dessa vez.

Fonte: Globo Esporte