Flamengo e Fluminense vivenciaram sensações bem condizentes com as diferentes temporadas que fazem durante o empate da noite deste sábado no Maracanã. Crescendo em organização tática no sexto jogo com o novo treinador, o rubro-negro foi bem superior no 1º tempo. Mas pagou o preço do desgaste inerente à terceira metodologia de trabalho diferente em três comissões técnicas.
Não só pela queda física do Flamengo, mas também pelas mexidas de Diniz e a maior assimilação dos jogadores em um trabalho de mais de um ano, o Fluminense conseguiu tranformar totalmente o cenário depois do intervalo. Chegou a ter mais de 70% da posse de bola até metade do 2º tempo e finalizou três vezes mais que o rival. Atrapalhou a busca rubro-negra pelo título.
Escalações
Mesmo com o retorno de Thiago Maia, Tite manteve o meio-campo escalado na vitória sobre o Palmeiras. Na lateral-esquerda, Filipe Luís retomou a titularidade e Ayrton Lucas foi para o banco. Fernando Diniz não teve Felipe Melo e Germán Cano. Marlon e John Kennedy entraram no time.
Como Flamengo e Fluminense iniciaram o clássico válido pela 34ª rodada do Brasileirão 2023 — Foto: Rodrigo Coutinho
O jogo
O Flamengo foi melhor no 1º tempo. Com regulares, intensas, e coordenadas pressões na saída de bola do Fluminense, impediu a progressão do rival do gramado e recuperou a posse com frequência na intermediária adversária. Com a pelota nos pés, mostrou saber exatamente o que fazer para criar.
Tite tem trabalho com Everton Cebolinha e Luiz Araújo como pontas bem abertos. Eles só se desgarram dos flancos na direção da área ou da intermediária em jogadas de condução de bola ou quando os laterais passam, o que não é tão costumeiro. Filipe Luís e Matheuzinho trabalharam bem novamente como ''laterais articuladores'', auxiliando os meio-campistas na distribuição dos passes.
Essa estratégia visa ''alargar'' a última linha de defesa adversária, algo que aconteceu no Maracanã. Não foram poucas as vezes em que Arrascaeta e Gérson infiltraram na ''janela'' aberta pelos pontas entre zagueiros e laterais do Fluminense, e muitas jogadas bem trabalhadas foram produzidas assim.
Além de atacarem a última linha rival, Gérson e Arrascaeta articularam com qualidade à frente de Pulgar, e a conexão entre o chileno e o uruguaio gerou o merecido gol inaugural do placar nos acréscimos do 1º tempo. O Fluminense não conseguia dar uma resposta eficaz na parte defensiva. A liberdade dada na construção do tento rubro-negro foi um bom exemplo.
Arrascaeta comemora gol pelo Flamengo contra o Fluminense — Foto: André Durão
Desconfortável ao ter a bola numa zona muito próxima de seu gol, o Tricolor fez muito pouco o trabalho de aproximação de peças no campo rival antes do intervalo. O Flamengo não deixava! Marcelo teve total liberdade para sair da esquerda. Foi muito mais um meio-campista que um lateral, e contou com o pronto posicionamento de Martinelli cobrindo o seu setor.
O camisa 12 até conseguiu articular um ou outro ataque, mas não houve regularidade coletiva para o Fluminense se instalar na intermediária do Flamengo. Quando chegou, esbarrou em uma área bem protegida pela linha defensiva rubro-negra, bloqueando finalizações e passes promissores. Pulgar e Gérson também foram importantes nesse aspecto.
Não havia um jogador sequer do Mais Querido mal em campo, algo que chama a atenção se comparado com o histórico recente do elenco. Uma grande prova de que o coletivo se ajustando vai potencializar a individualidade do plantel. Pedro talvez seja o melhor exemplo. Já é um jogador muito mais próximo do rendimento que teve nos melhores momentos da carreira. Foi importante de novo.
Fernando Diniz mexeu triplamente no intervalo. Marlon, Marcelo e Keno saíram para as entradas de Lima, Diogo Barbosa e Yony González. André passou a ser zagueiro mais uma vez e Lima fez a dupla de volantes com Martinelli. As mudanças mudaram completamente o comportamento do Fluminense e consequentemente o jogo.
Gerson, Martinelli, Flamengo x Fluminense — Foto: André Durão
Com mais qualidade no passe inicial para superar pressões com André, capacidade de retenção de bola e habilidade com Lima, o Tricolor superou as tentativas de marcação do Flamengo em sua saída. Já encarava um rival bem debilitado fisicamente, e isso ficou nítido em combates frouxos por parte do rubro-negro seja qual fosse o setor do campo.
Acuado, o rubro-negro recuou o bloco de marcação para tentar defender o resultado e era pressionado em saída de bola. Yony González empatou o jogo antes dos 20 minutos, aproveitando assistência de Jhon Arias, um dos que mais cresceram com a melhora do campeão da América no 2º tempo.
Tite fez as cinco mexidas num intervalo de dez minutos. Bruno Henrique, Thiago Maia, Gabigol, Ayrton Lucas e Everton Ribeiro entraram nas vagas de Everton Cebolinha, Luiz Araújo, Pedro, Filipe Luís e Arrascaeta. Gérson passou a jogar na ponta-direita. Foi o suficiente para sair do sufoco e reequilibrar as ações no fim, mas não reassumir o controle do jogo.
A primeira finalização do Flamengo na 2ª etapa aconteceu perto dos 40 minutos. Para completar a decepção do clube da Gávea, Gabigol, em mais uma demonstração de destempero, foi expulso ao se envolver em atrito com Nino, que também recebeu o cartão vermelho por enforcá-lo.