A mensagem enviada pelo chefe do departamento médico do Flamengo , José Luiz Runco, sobre a condição clínica de De la Cruz aumentou a tensão que ronda há meses o relacionamento entre o DM rubro-negro e outros setores do clube. Desde as demissões na área no início do ano até a crítica de Runco ao uruguaio feita em um grupo com 71 pessoas, diversas polêmicas deixaram o clima pesado.
A forma como Runco tratou o uruguaio na mensagem pegou muito mal no clube. Jogadores, integrantes da comissão técnica e dirigentes se irritaram com o conteúdo do texto do chefe do departamento médico. Ele escreveu no grupo de WhatsApp que De la Cruz tem uma "lesão crônica e irreparável" e foi comprado "sem a menor condição".
Na Gávea, os bastidores ficaram agitados desde que o ge divulgou a mensagem, na tarde de terça-feira. Aliados de Bap defendem a demissão do chefe do departamento médico, mas o presidente ainda não se posicionou sobre a situação do profissional. Na tarde desta quarta, o Flamengo enviou nota oficial a jornalistas na qual distancia Runco do dia a dia do futebol.
— A mensagem vazada recentemente não foi escrita por nenhum dos cinco médicos que integram o departamento do futebol profissional — diz trecho da nota (leia a íntegra no fim desta reportagem).
De la Cruz ao lado de Arrascaeta: exposição do camisa 18 pegou muito mal no clube — Foto: Reprodução Instagram
Apesar da posição oficial do clube, há intensa pressão sobre Runco, inclusive no futebol. Minutos depois da divulgação da mensagem na terça, Arrascaeta postou foto de solidariedade a De la Cruz, que recebeu apoio de outros jogadores nos bastidores. O estafe do camisa 18 disse publicamente que faltou ética a Runco. Os empresários dele estudam ainda processar o médico.
Nos bastidores, existe grande expectativa para saber se Filipe Luís comentará o assunto na entrevista após o jogo contra o Bragantino, nesta quarta.
O caso da mensagem levou ao ápice a insatisfação presente desde janeiro com o departamento médico, setor do Flamengo que sofreu mais mudanças com a chegada ao poder da nova diretoria. Após vencer a eleição presidencial em dezembro de 2024, Bap indicou José Luiz Runco para chefiar a área.
Runco sucedeu a Márcio Tannure, que comandava o setor na gestão Rodolfo Landim. Os dois são desafetos declarados, e o novo chefe decidiu mandar embora quase 40 pessoas no DM . A iniciativa pegou muito mal com jogadores e integrantes da comissão técnica. Dois dos demitidos (um fisioterapeuta e um nutricionista) foram readmitidos dias depois após forte pressão interna.
Já no primeiro mês da gestão, aliados de Bap questionaram a escolha por Runco. Eles entendiam que poderia haver problemas porque Runco estava fora da rotina de um clube havia quase uma década e, ainda assim, trocou a metodologia do DM. O presidente, no entanto, decidiu manter o médico, que já havia passado pelo próprio Rubro-Negro e pela seleção brasileira.
Na reapresentação dos jogadores, em janeiro, o clima foi de desconforto . Runco tentou acabar com os nutricionistas de performance nas viagens, mas recuou. A função está diretamente ligada às dietas dos atletas, com a responsabilidade, por exemplo, de prescrever suplementos individualizados.
O segundo atrito ocorreu quando Runco ordenou a retirada do futmesa que fica na academia do CT. Naquele momento, José Boto entrou em cena. O diretor de futebol alegou que a utilização do equipamento não tinha a ver com o DM e mandou que o futmesa permanecesse no local. Na ocasião, o português venceu a queda de braço com o médico.
A tensão continuou nos meses seguintes. A incerteza sobre o funcionamento do novo departamento médico fez com que vários jogadores procurassem profissionais de fora, inclusive alguns que haviam sido demitidos do Flamengo em janeiro. O objetivo era checar se os diagnósticos do clube estavam corretos e pedir indicações de tratamento. Outros atletas fazem acompanhamento de rotina com profissionais de fora do CT.
A busca por trabalhos complementares fora do CT não é incomum nos clubes, mas pessoas que trabalham no Ninho dizem que esse movimento ganhou força no Flamengo este ano em razão da falta de confiança de diversos atletas no atual departamento médico.
A insatisfação e a preocupação do elenco estão ligadas à metodologia aplicada pelos profissionais que assumiram este ano. Os jogadores relatam a pessoas próximas que alguns processos são "completamente distintos" daquilo que observaram na medicina esportiva atual em outros clubes, seja no Brasil ou na Europa. Alguns processos são considerados "ultrapassados".
Um caso mais recente foi o de Pulgar, que sofreu uma fratura no quinto metatarso do pé direito na derrota para o Bayern de Munique por 4 a 2, no dia 29 de junho, na Copa do Mundo de Clubes. O volante decidiu ser operado no Chile. Do Brasil, o chefe do DM do futebol rubro-negro, Fernando Sassaki, manteve contato com o responsável pela operação e teve acesso ao raio-x pós-operatório, mas não participou da cirurgia. O jogador permaneceu em seu país para os primeiros 20 dias de recuperação.
Outro caso que movimentou o DM este ano foi o de Plata. O atacante sofreu um edema ósseo no joelho direito em abril e ficou mais de um mês fora de combate. Houve impasse no tratamento. O Flamengo realizou um procedimento e, quando o equatoriano recebeu o DM do Equador em sua casa, outro procedimento foi realizado. O clube e a seleção chegaram a publicar notas oficiais tornando público o desentendimento.
Funcionários que frequentam o CT relatam uma mudança na rotina este ano. Se antes os atletas passavam parte do período de treinamento no DM para trabalhos de prevenção de lesão, o local agora é ocupado apenas pelos lesionados. No entanto, o ge apurou que isso não preocupa os membros do atual departamento. Estes entendem que o local serve preferencialmente para recuperação de lesão, e não para prevenção.
No início do ano, um dos fisioterapeutas então recém-contratados foi demitido em menos de um mês. Segundo relatos, houve um pequeno desentendimento entre o profissional e um jogador durante uma atividade na academia. O atleta, que se recuperava de lesão, questionou o tratamento e afirmou que havia regredido nas semanas anteriores. O atrito foi o estopim para o desligamento do fisioterapeuta.
Há também uma preocupação nos bastidores com o número de lesões. No início do ano, a nova gestão rubro-negra fez críticas à quantidade de problemas físicos dos jogadores rubro-negros em 2024. Neste ano, porém, a situação também é preocupante. Para o jogo contra o Bragantino nesta quarta, por exemplo, são sete desfalques.
No ano passado, o Flamengo teve 30 lesões em toda a temporada. Até o dia 22 de julho, foram registradas 15 baixas. Em 2025, são 19 casos até o momento, um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2024.
O Flamengo costuma divulgar para a imprensa a situação médica da maioria dos jogadores. Com De la Cruz, o médico Luiz Macedo foi o responsável por comunicar a ausência do uruguaio entre os relacionados do jogo desta quarta, mas não antes do Fla-Flu de domingo. Macedo informou que o clube retirou o volante das próximas partidas para fazer um "trabalho especializado", com o objetivo de que o uruguaio consiga ter uma sequência maior de jogos no segundo semestre.
Mas, afinal, o que faz José Luiz Runco no dia a dia do Flamengo? Apesar de ter aparecido no Ninho do Urubu nos primeiros dias do elenco por lá em 2025, o chefe do departamento médico responde pela parte médica de todas as pastas, incluindo esportes olímpicos. Assim, ele costuma ir ao CT somente uma ou duas vezes por semana, mas é consultado para tomadas de decisão.
Gerson, Runco e Boto no Ninho na reapresentação do Flamengo — Foto: Reprodução / FlaTV
Runco retornou ao clube após nove anos fora. A ideia de Bap era que ele fosse o responsável por padronizar a medicina no clube, indicando profissionais de sua confiança para cada departamento. Sete meses depois, a pressão sobre o chefe do DM alcançou o maior nível.
"A Diretoria de Futebol do Clube de Regatas do Flamengo esclarece que a mensagem vazada recentemente não foi escrita por nenhum dos cinco médicos que integram o departamento do futebol profissional: Fernando Sassaki (ortopedista e chefe do setor), Luiz Macedo (cardiologista), Dieno Portella (ortopedista), Vitor Pereira (ortopedista) e Bruno Hassel (radiologista). Como é de conhecimento público, são esses profissionais os responsáveis pelo atendimento diário aos atletas em treinamentos, jogos e viagens, além de levarem de forma constante e transparente todas as informações de interesse da imprensa e da torcida.
A Diretoria de Futebol reitera que não comentará especulações e manterá seu foco única e exclusivamente em preservar o alto nível de performance e concentração que levaram o Clube, neste primeiro semestre, ao melhor desempenho entre todos no cenário nacional.
O Flamengo seguirá trabalhando com seriedade, buscando seus objetivos esportivos, cuidando tecnicamente da saúde de seus atletas, investindo em uma equipe de alto nível e reforçando seu elenco com jogadores do padrão de Seleção."
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