Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) é um dos principais entusiastas do projeto de lei do deputado Otavio Leite (PSDB) - PL 5082/2016 - que visa obrigar, futuramente, que os clubes de futebol se tornem sociedades anônimas de futebol (SAF). Em outras palavras, clubes-empresas.
Segundo Maia, a intenção com isso é estruturar melhor os clubes, em termos de gestão e governança, dando a eles transparência para, entre outras coisas, atrair capital privado e/ou estrangeiro para o futebol brasileiro.
Atualmente consultor da Chapecoense , e um dos principais responsáveis pela mais bem-sucedida parceria entre um clube de futebol e uma empresa - a co-gestão Palmeiras /Parmalat -, José Carlos Brunoro vê a possibilidade com bons olhos. Mas também com ressalvas.
"Esse é um projeto muito interessante. Mas não sei se os grandes, por exemplo, conseguiriam se adequar, dadas as suas complexidades políticas internas", afirmou em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br .
"Mas vai fazer muito bem para os clubes médios. Creio que será uma boa maneira de as equipes médias fazerem frente aos faturamentos dos grandes", acrescentou. "Poderá significar uma nova era para o futebol brasileiro."
Para Brunoro, o impasse com os grandes vai se dar principalmente pelo controle das decisões. Em outras palavras, sobre quem vai ter o "poder da caneta".
"Os investidores vão querer participar da gestão, vão querer saber o que está sendo feito com o dinheiro deles, colocar executivos deles. E vai ser difícil os clubes aceitarem isso", acredita.
Brunoro, a partir de outubro, será coordenador e professor no “Curso de Aperfeiçoamento em Gestão, Marketing e Negócios do Esporte”, ministrado pela Federal Esportes.
SEPARAÇÃO DOS PODERES
No Brasil, os grandes clubes de futebol são muitas vezes também clubes sociais. O presidente do clube responsável pela gestão de um time que tem milhões de torcedores é também o dirigente que decide sobre a reforma dos vestiários da piscina aquecida, utilizados por milhares de sócios, por exemplo.
Com a lei das SAF, isso poderia acabar. O presidente ou CEO da SAF não teria ingerência no clube social e vice-versa - exceto como votante em assembleia, caso o clube social seja acionista da SAF.
Por exemplo: caso existam ao mesmo tempo, o clube Corinthians e a SAF Corinthians passam a ser duas entidades diferentes, com a segunda vinculada à primeira.
"O futebol se desvencilha da parte social. A meu ver, o clube na realidade tem que permanecer com percentual, mas os investidores vão querer maioria para administrar o departamento de futebol", afirmou Brnoro.
"Os grandes, por questões políticas e não profissionais, vão ter dificuldade com este modelo", disse ele, apesar de alguns clubes grandes, como São Paulo , Botafogo e Athletico Paranaense estarem estudando como se aproveitar, caso a lei seja aprovada.
"Não resta dúvida que é um passo que pode trazer muitos benefícios, consolidando a profissionalização. Porque vão aparecer profissionais de mercado que vão poder segurar jogadores por mais tempo e fazer negociações mais profissionais", acredita.
É claro, pondera Brunoro, que para fazer frente às investidas dos clubes estrangeiros, a lei não basta. A economia do país também precisa estar forte para que o dinheiro em circulação tenha maior peso.
"Um outro ponto é entender e selecionar esse investidor. Saber bem se é um cara que só pensa no negócio como um multiplicador de dinheiro ou se valoriza também a parte esportiva", advertiu.
Brunoro diz que, na época do Parmalat, a empresa partia da premissa de que os jogadores deveriam ficar ao menos dois anos nos clubes co-geridos por ela, para que houvesse, além de resultado técnico, a chance de a torcida se apegar aos jogadores.
"Esse tipo de premissa é algo que deve ficar muito claro para as partes no começo da relação", disse. "Na época da Parmalat, havia uma divisão clara dos papéis, direitos e deveres do Palmeiras e da empresa", encerrou.