Atualmente sócio de um escritório de advocacia, Paulo Marcel Pereira Merabet ficou conhecido no mundo do futebol como Roma. Revelado no Flamengo no começo dos anos 2000, o atacante veloz, baixinho e com faro de gol chegou a ser comandado por Jorge Jesus em Portugal.

Descoberto no futsal em Belém, ele foi levado por um dirigente rubro-negro para fazer testes no clube da Gávea, em 1997. Aprovado na peneira, o garoto se profissionalizou cerca de três anos depois.

Nesta época, Paulinho ganhou o apelido que o acompanha até hoje por causa da semelhança física e no estilo de jogo com Romário, grande astro do clube à época.

"Todo mundo só me chamava de Roma na base. A minha empresária [Marlene Mattos] achou que era um nome curto e forte. Eu gostei e me agradou muito", contou, ao ESPN.com.br .

"Eu amaciei muito as chuteiras novas do Romário durante os treinos. Ele falava que tinha que fazer gol por causa do apelido que eu tinha (risos). Porque um jogador que faz gol marca história no clube. Infelizmente não tive o prazer de jogar uma partida oficial ao lado dele.”

Do Maraca para a Xuxa

Roma trabalhava com Marlene Mattos, que era empresária e diretora da apresentadora Xuxa, que estava à época na Rede Globo .

"Assim que vencemos o tricampeonato do Carioca com o gol de falta do Pet foi sensacional. A Marlene alugou um helicóptero para eu, o Edílson Capetinha e o Júlio César irmos do Maracanã para a TV Globo , onde estava passando o Planeta Xuxa. Foi muito legal porque participamos e dançamos uma música por lá. Ainda pude conhecer a Xuxa, fiquei muito feliz".

"Eu venci duas vezes o Carioca [2000 e 2001] e também a Copa do Campeões de 2001, que nos deu a vaga para a Libertadores", contou.

O atacante fez um gol na vitória sobre o Palmeiras que ajudou o Flamengo a escapar do rebaixamento no Brasileiro.

"Tive a felicidade de entrar no primeiro tempo no lugar do Beto, que se machucou. Eu fiz uma partida muito boa e isso foi muito marcante na minha vida".

'Fica com Jesus'

Após sair do Flamengo, Roma passou por Jeonbuk Motors-COR, Lokeren-BEL e Pumas-MEX antes de chegar ao Belenenses-POR, em 2006. Na equipe portuguesa, ele foi comandado por Jorge Jesus.

"O 'mister' já me acompanhava no Brasil e me contratou depois que chegou um DVD com meus lances no clube. Ele gostava do meu estilo de jogo rápido e finalizador. No esquema tático dele, o jogador precisa ter mais de uma função. Eu me enquadrava bem nisso. É um cara que gosta de ensinar e de fazer o atleta se desenvolver."

O técnico tinha o costume de levar todas as contratações para ter uma conversa particular na sala dele.

"Ele era muito transparente com os jogadores e falava: 'Você vai ter seu horário para descanso e poder sair. Treino para mim é jogo, e jogo é decisão'". Taticamente e tecnicamente foi um dos melhores que já trabalhei. Ele quer sempre melhorar nos fudamentos."

"Eu tinha muito respeito por ele, mas gostava de brincar um pouco. Sempre que me despedia depois treinos, eu falava: 'Mister, até amanhã e fica com Jesus!' Ele respondia: 'Roma, não preciso ficar com ele porque eu já sou Jesus' (risos)."

"Ele é muito engraçado nas reuniões, treinos e preleções. Ele te elogia, mas também faz uma crítica construtiva para você poder crescer. Nunca para destruir. E um cara muito exigente e vive o futebol 24 horas por dia. Não tem hora para dormir ou acordar."

Treino até em dia de jogo

Roma costumava contar para o treinador sobre seus tempos de Flamengo.

"Jesus falava que tinha vontade de um dia trabalhar em um grande clube do Brasil. Já acompanhava muito o Brasileirão e gosta dos jogadores brasileiros. E por uma coincidência ele hoje está na Gávea."

"Nós treinávamos até mesmo no dia do jogo porque ele gostava de ver o time taticamente perfeito. Nunca tinha visto isso na minha vida. Aprendi muito trabalhando com ele em Portugal. O que o Jesus treinava acontecia depois nos jogos."

Ao lado do técnico, ele foi vice-campeão da Taça de Portugal (perdendo a final para Sporting) e quinto colocado na Liga de Portugal. Após fazer três gols em 19 jogos, Roma deixou a equipe no final da temporada rumo ao Santa Cruz-PE, em 2007.

Advogado e torcedor

Roma resolveu aposentar dos gramados em 2011. Filho de uma juíza desembargadora aposentada, ele resolveu retomar os estudos que havia parado quando virou jogador profissional no Flamengo.

"Eu sofria com lesões, estava jogando em times de menor porte e queria ficar mais perto das minhas filhas."

Em 2016, o ex-atacante de 40 anos se formou em Direito e montou um escritório de advocacia especializado em direito do trabalho e do esporte ao lado de seu irmão, em Belém.

"Resolvi unir o futebol e a advocacia. Acho que tem tudo a ver. Fiz vários cursos e procuro estar sempre atualizado no mercado", explicou.

Além da parte jurídica, ele trabalha cuidando da carreira de jogadores.

O antigo atacante hoje se dedica a duas paixões: o futevôlei e o Flamengo.

"Estou muito feliz e torcendo pelo 'mister' e sofro mais hoje em dia do que quando jogava, acredita? Queremos ser campeões de tudo. No final do ano eu quero ir ao Rio de Janeiro para poder conversar com o Jesus e dar um abraço nele", concluiu.