Ex-capitães Beto e Léo Moura dizem que Wallace deve perder a braçadeira

Riasco e Wallace Vasco x Flamengo (Foto: Carlos Gregório Jr/Vasco.com.br) Wallace é capitão desde 2015 (Foto:Carlos Gregório Jr/Vasco.com.br)

Capitão do Flamengo desde fevereiro de 2015, Wallace foi do céu ao inferno no clube. Chegou desacreditado em 2013 por ter sido reserva na maior parte de sua passagem pelo Corinthians, mas se firmou com a boa participação no título da Copa do Brasil. Meses depois, tornou-se campeão carioca e virou exemplo para a torcida. Inclusive, chegou a filmá-la nas comemorações posteriores à final com o Vasco, no Carioca de 2014.

Parecia a construção de um ídolo que se destacaria pela devoção aos rubro-negros. Porém, constantes maus resultados do time e falta de habilidade (dentro e fora de campo) ajudaram a miná-lo. Atualmente, o Flamengo tem um capitão desprestigiado com seu público. O carinho acabou e restaram as vaias, muitas vezes ainda no primeiro tempo das partidas.

A falta de ligação entre o elenco - marcado pela sequência de nove jogos sem vitórias sobre o Vasco - e os rubro-negros tem em Wallace seu fiel retrato 3x4. Desde que as críticas começaram, no ano passado, o capitão as confrontou veladamente. Fechou a cara, passou a jogar com raiva e cortou qualquer vínculo afetivo entre as partes.

Para piorar, no último fim de semana, virou símbolo da criticada entrada em campo contra o Vasco , quando os atletas ignoraram as crianças e entraram à la NFL. À frente do time, Wallace fincou a bandeira no centro do gramado e desgastou ainda mais sua relação com a torcida.

Até o hábito de ler livros, uma das grandes virtudes da breve lua-de-mel que teve no Flamengo, voltou-se contra ele. Atualmente, os torcedores usam as redes sociais para ironizar o lado culto do jogador.

Diante do panorama, ficam as questões: é possível um jogador que não conta com a empatia dos fãs seguir com a braçadeira? Quais são os requisitos para assumi-la com segurança?

O GloboEsporte.com tentou contato com ex-capitães como Zico, Fábio Luciano, Paulo César Carpegiani, Beto e Léo Moura, para responder as questões, porém, só os últimos três se sentiram à vontade para falar. O ex-jogador Beto, dono da braçadeira nas conquistas do Carioca e da Copa dos Campeões de 2001, foi o mais incisivo: disse que, mesmo incomodado de fazer comentários a respeito de um colega de profissão, a torcida odeia Wallace. E, por isso, crê que uma mudança é urgente.

- Vem pesando bastante essa falta de empatia da torcida com ele. Acho que ele não tem postura de capitão nem liderança em relação ao grupo. Pelo meu modo de ver, não tem. Não é um jogador que chama, que dá bronca na hora de dar bronca e que incentiva na hora certa. Hoje a torcida odeia o Wallace. A gente vê isso. Chego a ficar nervoso quando assisto a jogos perto de caras que o odeiam, porque não gosto que falem mal de companheiro. É até difícil de eu falar, mas acho que o ciclo dele está se encerrando no Flamengo. Isso está pegando muito, e ele já entra em campo pensando: "Mano, eu não posso errar". Ele entra pilhado, com medo. Qualquer erro atrás hoje é Wallace. Ele está marcado assim - afirmou Beto.

O ex-jogador jogador indica Juan para o cargo.

Beto (Foto: Marcelo Barone) Beto foi tri em 2001 ao lado de Juan (Foto: Marcelo Barone)

- Acho que o Juan deveria pegar essa braçadeira. É um jogador que o torcedor gosta. Chegou em dúvida porque não tava jogando no Inter, mas é experiente, vem jogando bem e conquistou muita coisa. Mesmo sendo calado, é um líder. Ele é quieto e centrado, mas na hora de falar, fala.

Léo Moura foi outro a argumentar que a troca de capitão é a decisão mais prudente para o momento turbulento do Flamengo. Wallace herdou a braçadeira justamente de Léo, que, em fevereiro do ano passado, acertou com o Fort Lauderdale Strikers, dos Estados Unidos.

- Na minha opinião, o capitão, lógico que ainda mais sendo do Flamengo, tem que ter identificação com o clube. Lógico que a gente respeita a escolha de quando o treinador optou por ele, mas é difícil que um jogador que não tenha empatia com a torcida ser capitão e se tornar líder. É muito complicado. Na minha visão, acho que era melhor preservá-lo um pouco. Para mudar esse histórico só depende dele, porque acho que, independentemente de ser capitão ou não, se a torcida cobra, pega no pé, é porque ela vê que alguma coisa não está indo bem. Acho que melhor seria dar uma preservada - afirmou o atleta, hoje no Santa Cruz.

Paulo César Carpegiani, capitão do Flamengo no início da Geração de Ouro, foi treinador de Wallace no Vitória. O ex-volante disse que o defensor sempre foi muito introvertido, mas evitou opinar se é correto mudar o dono da braçadeira. Preferiu listar quais são as características ideais para a função.

Internacional Inter Paulo César Carpegiani Campeonato Brasileiro 1975 especial primeira estrela (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com) Carpegiani foi capitão do Flamengo até Zico assumir a braçadeira, ano em que virou técnico (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com)

- Não poderia me meter no que é do Muricy, ele que tem de responder, não vivo o dia a dia. Mas o capitão é a ligação com o treinador e a torcida. Muitas vezes um cara que é bem aceito pela torcida contorna crise. Então a palavra do capitão tem muito valor. Menos do que a do treinador, mas tem muito valor para acalmar ambiente. É muito importante a escolha certa do capitão. É o treinador dentro de campo. Tem que saber se dirigir, não adianta o torcedor não gostar do cara. Eu tinha uma abertura com o Coutinho (Cláudio, técnico do Flamengo de meados dos anos 70 até 1980), falávamos dos caras, ele me perguntava, e eu respondia. Não pode ser cara temperamental. Tem que ser sereno e tranquilo para dar explicações convincentes quando as coisas não estão boas.

Os argumentos contrários a Wallace se baseiam em alguns pilares: questionamento da qualidade técnica, falta de empatia com a torcida e postura "emburrada". Léo Moura e Beto levantaram os requisitos um capitão do Flamengo precisa atender.

- Acho que primeiramente ele tem que ter uma liderança natural, nada pode ser de uma força que não seja natural. O cara tem que ser respeitado e querido pelo grupo. Para liderar um time, tem que ser bem quisto. São fatores principais, ser querido e ter liderança positiva - disse Léo.

Beto destacou a liderança interna.

- Para ser capitão, tem que ter liderança no grupo. Além disso tem que ter o companheirismo de todos, que todos te ouçam e que conversem. É preciso disso para discutir em campo o que tem de acertar e o que tem de ser feito. Isso te leva a ter o respeito do grupo para poder ser o capitão. Vai do treinador também, mas se tiver respeito e confiança do treinador e companheiros, o perfil é esse - completou Beto.

Fonte: Globo Esporte
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