Hoje, o maior entrave para o sonho do estádio próprio do Flamengo não é o remanejamento da estação de gás existente no terreno e, sim, um acordo que ainda não foi finalizado envolvendo a Caixa Econômica Federal , administradora do fundo privado que era dono do terreno até ele ser desapropriado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Sem a assinatura, que deveria ter ocorrido na primeira semana de janeiro e foi adiada por 90 dias a pedido do presidente Bap, o clube ainda não pode ser considerado proprietário da área do antigo Gasômetro.
E o que acontece se a atual diretoria do Flamengo decidir não assinar este termo? Nesse caso, a posse do terreno tomada pelo clube em outubro do ano passado seria anulada, e todo o acordo que foi fechado com a Caixa, com a mediação da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Prefeitura do Rio, seria desfeito. Com isso, a disputa pelo Gasômetro voltaria a correr na Justiça.
Nesse caso, o Flamengo não precisaria pagar a complementação de R$ 23,9 milhões que parcelou pelos próximos cinco anos para fechar o acordo. Assim como a prefeitura não remanejaria mais os Cepacs (Certificado de Potencial Adicional de Construção) do Gasômetro para outras localidades da cidade administrados pela Caixa (esse processo é que "aliviaria" o cofre rubro-negro, que não precisaria pagar por eles junto ao terreno).
No cenário de o acordo ser desfeito e o imbróglio voltar para a Justiça, o Flamengo teria que aguardar a disputa entre a Caixa e a prefeitura nos tribunais referente à desapropriação. Em caso de ser necessária uma nova mediação envolvendo a prefeitura e a AGU, que antes foram "aliados" no pleito rubro-negro, o clube correria o risco de perder força política por não ter cumprido com o que já havia sido pactuado.
O Flamengo já pagou à vista R$ 146 milhões para comprar o terreno do Gasômetro, sendo R$ 138,2 milhões no leilão e mais R$ 7,8 milhões depositados após perícia. Para esse valor voltar aos cofres rubro-negros, precisaria haver um acordo tanto com a Caixa Econômica Federal quanto com a Prefeitura do Rio, que dificilmente aceitaria desfazer o negócio.
Ainda assim, não seria simples. Porque a compra do terreno foi aprovada pelo Flamengo em reunião do Conselho Deliberativo em julho do ano passado (foram 602 votos a favor, 33 contra e quatro abstenções) . A anulação da compra também precisaria passar por uma nova reunião e ter o consentimento da maioria dos sócios do clube.
Além disso, o Flamengo também gastou para contratar a "Arena Events+Venues" para montar o projeto do estádio e fazer o estudo de viabilidade técnica que previu R$ 1,93 bilhão em investimentos no total. Esses valores de contratação, que não foram divulgados na época, não teriam como ser devolvidos, uma vez que o projeto foi entregue e o serviço finalizado.
O pedido de adiamento não significa que o Flamengo não vai assinar. Essa hipótese sequer é falada nos bastidores até o momento . Oficialmente, o clube não se pronunciará sobre o assunto enquanto não tiver acesso a todas as informações que considera importantes sobre o estádio. Recentemente, a diretoria contratou um novo estudo de viabilidade com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
— A discussão do estádio ficou contaminada no processo eleitoral. Não existe um estudo de viabilidade financeiro-econômica até agora. Ninguém constrói do zero sem um estudo desse, e no Flamengo não é diferente. Esse é o projeto da vida do clube. Vamos fazer nosso estádio, mas não a custo de performance esportiva nem a custo de um endividamento brutal. Vamos construir no ritmo que não prejudique a performance esportiva do clube — afirmou Bap no dia 18 de dezembro, quando tomou posse como presidente do Flamengo para o triênio 2025-2027.
O discurso se mantém atual. Bap e sua equipe definiram dois passos imediatos: um novo estudo de viabilidade e debates com a Prefeitura do Rio de Janeiro sobre o prazo de construção. A gestão anterior estimou a inauguração do estádio para o dia 15 de novembro de 2029, data em que o Flamengo completará 134 anos. A nova gestão não quer apressar a discussão.
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