Especialistas criticam frase de diretor da base do Flamengo sobre jogadores africanos; dirigente se desculpa

O novo diretor das categorias de base do Flamengo , Alfredo Almeida, concedeu entrevista coletiva de apresentação na tarde desta segunda-feira, no Ninho do Urubu. Uma das respostas do português despertou críticas de especialistas nos estudos raciais.

Ao ser perguntado se tentaria promover uma volta às origens na formação do jogador brasileiro, priorizando a magia em detrimento da parte física, o português respondeu da seguinte maneira:

— Aquilo que o atleta brasileiro tem, provavelmente não há em mais nenhuma parte do mundo. Tem a ver com o dom, a magia, a irreverência, a bola fazer parte do corpo, a relação com a bola. Isso não existe em quase parte nenhuma do mundo. Depois, existem outras zonas do globo onde há outras valências. Como, por exemplo, a África tem valências físicas como quase nenhuma parte do mundo. Se quisermos ir para a parte mental, temos que ir a outras zonas da Europa, do globo — disse Almeida.

Alfredo Almeida, diretor da base do Flamengo — Foto: Divulgação: Gilvan de Souza/Flamengo

O ge procurou o diretor do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, que criticou a declaração do dirigente do Flamengo.

— É algo que muito se reproduziu, mas não existe estudo sobre as características específicas para jogadores europeus e africanos. Essa fala reforça estereótipos que se tinham e ainda se têm da população negra. A frase reproduz uma ideia de eugenia. Que ao europeu cabe a inteligência. E a força, aos africanos. Por mais que a gente tenha jogadores cerebrais, lideranças negras no futebol , as pessoas no futebol continuam reproduzindo essas ideias racistas — afirmou o diretor do Observatório de Discriminação Racial.

Há mais de 10 anos, Marcelo Carvalho e sua equipe monitoram casos de preconceito no futebol. Anualmente, o Observatório divulga um levantamento que quantifica e analisa denúncias não só de racismo, mas de xenofobia, machismo e LGBTfobia no âmbito do futebol.

Alfredo Almeida chegou ao Flamengo ao lado de José Boto, em janeiro — Foto: Divulgação

O jornalista Luis Fernando Filho é um dos fundadores do podcast Ponta de Lança que, desde 2019, cobre esporte, cultura e política no continente africano. Ele destacou a diversidade no futebol da África.

— Não se pode conceber a África como se fosse um só país, mas um continente com diversidade. No futebol não é diferente. No norte, com o Marrocos, você vai ver um estilo muito diferente do sul, com Senegal, África do Sul. É só dar uma olhada no Mamelodi Sundowns, o jogo é muito inspirado no futebol brasileiro, de posse de bola, ofensivo (...) Se for para as seleções, você tem uma seleção que trata bem a bola, o Senegal, que nada tem a ver com aspecto físico, é muito técnica — analisou.

— As seleções de Senegal e do Mali estão cada vez formando mais meio-campistas. Escolas pós-Yaya Toure, da Costa do Marfim. Meias extremamente inteligentes. Escolas que vão além de formar atacantes — completou.

O ge entrou em contato com a assessoria de imprensa do Flamengo, que enviou um pedido de desculpas de Alfredo Almeida (leia a íntegra no fim desta reportagem).

— Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de soar discriminatório — argumentou o português em trecho da nota.

Alfredo Almeida chegou ao Brasil em janeiro de 2025 como braço direito de José Boto, diretor do futebol profissional, e atuava especialmente junto à comissão técnica e às categorias de base. Mas, na última semana, com a demissão de Carlos Noval do comando das categorias de base do Flamengo, o português recebeu a responsabilidade de cuidar da formação dos jovens rubro-negros. Nesta segunda, foi apresentado no novo cargo.

"Durante a entrevista coletiva de minha apresentação como diretor da base do Flamengo, fiz uma explanação mais ampla sobre os diferentes perfis de atletas ao redor do mundo e as valências que costumam ser observadas por clubes no processo de formação e recrutamento.

Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de soar discriminatório

Tenho total consciência de que há atletas com grande capacidade tática no futebol africano, assim como existem jogadores europeus com enorme talento criativo e brasileiros com impressionante força física. As características dos jogadores não se limitam à sua origem geográfica.

Reforço meu respeito a todas as culturas, povos e escolas do futebol. Sigo comprometido com o trabalho de formação no Flamengo, pautado por valores como inclusão, diversidade, ética e desenvolvimento integral dos nossos atletas."

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Fonte: Globo Esporte
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