Especialista sobre crime organizado em torcidas: "é um fenômeno complexo"

Com o crescimento da quantidade de membros das torcidas organizadas, uma das preocupações nos últimos anos em relação aos grupos é a infiltração do crime organizado e a disputa por poder dentro das facções. O sociólogo Bernardo Buarque de Hollanda, pesquisador e especialista em torcidas organizadas, diz que é preciso ter o cuidado de não generalizar este fenômeno, que é complexo e mais um desafio para lidar.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida , do Canal UOL , o especialista afirma que a presença do crime organizado nas torcidas se dá de forma semelhante ao que ocorre em outros segmentos e é mais um problema social brasileiro.

"Sempre com o cuidado de não tomar a parte pelo todo, mas a gente sabe que a reunião de grupos de jovens e toda e qualquer reunião, no caso das torcidas, em torno do futebol, ela mobiliza, entre outras coisas, o consumo de drogas e no caso das torcidas a gente tem as caravanas, a gente tem diversos momentos desses encontros e a gente sabe que essa presença, ela acontece", afirma Buarque.

"É um dado da realidade brasileira, da juventude brasileira, da juventude periférica, que vem sendo bastante marginalizada, assim como se falava em relação ao funk, havia todo um estímulo em relação ao baile funk e continua tendo, essa é uma influência que existe, que a gente também conhece a partir dos bastidores e que de fato é muito difícil de lidar, de ter parâmetros para lidar. Uma série de torcidas que conseguem estabelecer regras, conseguem estabelecer, vamos dizer, um cinturão ali de isolamento em relação a isso, mas a gente sabe que é um tema que tem capilaridade, que entra mesmo que como hoje você tem uma adesão muito grande, muitas pessoas são vinculadas à torcida e você não tem esses mecanismos de controle", completa.

O sociólogo aponta que o crescimento de membros do crime organizado nas torcidas é semelhante ao que ocorre em relação às milícias na sociedade e que é difícil de conter pela forma como o crime está mais estruturado, o que torna uma questão de difícil solução.

"Em maior ou menor grau existem torcidas que sofrem essa pressão, sofrem essa influência, assim como a gente tem crescentemente no Rio de Janeiro, a gente observa o crescimento das milícias, isso vai também chegando nessas zonas, vamos dizer, porosas, que estão abertas para influências, e no caso das torcidas essa presença também está colocada. Vamos dizer, desde os anos 1990 que isso começa a ser uma questão e ela vai se tornando cada vez mais complexa, à medida que o próprio crime organizado também está mais estruturado e isso é uma realidade que é muito difícil de lidar", afirma Buarque.

"Realmente a gente não consegue ver muito como, os grupos têm os seus próprios mecanismos, mas existe também uma pressão grande e nesse limiar entre a legalidade e a ilegalidade os mecanismos são muito difíceis de controle, de contenção dessa pressão externa. Então é um fenômeno que a gente ainda está, que os grupos têm de lidar e que não se pode ser hipócrita que ele não exista. Ele está colocado e ele é um fenômeno bastante complexo", conclui.

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Fonte: Uol