Confiança, o dragão operário que encara o Flamengo na Copa do Brasil

Os apelidos “Dragão do Bairro Industrial” e “Gigante Operário” inspiram confiança — com o perdão do trocadilho. Contra o Flamengo, nesta quarta-feira, na Arena Batistão, às 21h45m, pela Copa do Brasil, o Confiança colocará à prova a fama cultivada em Aracaju, no Sergipe. Proletário desde sua fundação, em 1936, por trabalhadores de uma fábrica de tecidos, o time sergipano mantém o feijão com arroz como receita ideal para não fazer feio.

Em caso de bobeira dos cariocas, no entanto, o Dragão promete abocanhar ao menos uma partida de volta no Rio, o que aumentaria ainda mais a maratona rubro-negra de viagens.

A ideia de vencer por dois ou mais gols de diferença, placar que elimina o segundo jogo, é atraente para o Flamengo em um começo de ano atípico. Com a Primeira Liga e sem o Maracanã, o time de Muricy Ramalho vem pegando a estrada mais do que o normal no primeiro semestre, o que aumenta a possibilidade de problemas físicos. Se quiser um descanso na Copa do Brasil, o caminho do Flamengo é explorar as deficiências no miolo da defesa do Confiança.

— A dupla de zaga, formada por Valdo e Lucas Rocha, não vem se entendendo bem. Alguns gols sofridos no Campeonato Sergipano surgiram de desencontros entre os dois. O goleiro Rafael Sandes apareceu muito bem na Série C em 2015, mas neste ano vem se complicando em jogadas aéreas e chutes de longe — analisa Thiago Barbosa, comentarista da TV Sergipe, afiliada da Rede Globo.

Também pesa contra o Confiança o fato de, em março, ainda ter um time nos estágios iniciais de construção. Fato que, vale destacar, não tem qualquer relação com instabilidade no comando técnico: o treinador Betinho está em sua terceira temporada à frente da equipe, feito raro no Brasil. As razões são econômicas:

— Seria necessário um investimento muito alto para bater de frente com os times de Série A na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste, o que não vale a pena. O gasto de verdade em montar um time só vai ser feito para a disputa da Série C — observa Jorge Henrique, repórter fotográfico do “Jornal da Cidade”.

ARTILHEIRO E XODÓ

Mas o Confiança também prepara suas surpresas. Segundo Barbosa, os avanços do lateral-direito Caíque, líder de assistência da equipe, podem causar estragos. Embora não tenha revelado o time, é provável que o técnico Betinho mude um pouco seu tradicional 4-4-2 para um mais cauteloso 4-1-4-1, com o volante Eliélton reforçando a marcação atrás da linha de quatro jogadores no meio.

— Temos que prestar atenção aos jogadores de beirada, Emerson Sheik e Marcelo Cirino, e também ao Willian Arão. Não pode deixar ele levantar a cabeça — explica o atacante Leandro Kível, artilheiro e xodó da torcida. — Vamos tentar pressionar a saída de bola, para ver se dá certo, mas em alguns momentos vamos recuar. Não dá para passar 90 minutos em cima, ainda mais contra uma equipe grande como o Flamengo.

Gaúcho de São Borja, Kível, hoje com 32 anos, se juntou ao Confiança em janeiro de 2014, após rodar por outros times de Sergipe. Ele e o técnico Betinho foram os pilares da subida para a Série C, em 2014, e do quase acesso para a segundona em 2015, quando faltou apenas um gol para eliminar o Londrina nas quartas de final. Neste intervalo, houve ainda um bicampeonato estadual, encerrando a fila de cinco anos sem títulos.

— O primeiro jogo do Betinho foi um clássico contra o Sergipe, em março de 2014, um teste de fogo. Mas vencemos por 3 a 1, com três gols meus. Ele é um cara muito calmo, que passa tranquilidade para o time. Dificilmente fica nervoso à beira do campo — elogia Kível.

Fonte: O Globo
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