'Cartola' do cinema: 'O público se encanta, e ano no após ano o número de espectadores aumenta'

O executivo Laudson Diniz, 33 anos, tem um sonho: exibir nos cinemas a final do Mundial Interclubes da Fifa tendo o Palmeiras em campo. Ele é o responsável, desde 2010, por levar às telonas de todo o Brasil eventos esportivos internacionais, como acontecerá, neste sábado, na final da Champions.

Palestrino como toda a família, Laudson e o filho de 9 anos são sócios-torcedores do Palmeiras e frequentadores assíduos do Alianz Parque. Quando menino, ele chegou a passar em peneira da Portuguesa, queria seguir carreira, mas rompeu os ligamentos de um joelho aos 16 anos. Incentivado pelo pai, focou nos estudos, desistiu da bola e formou-se em administração.

O futebol pode ter perdido um talento, vai saber. Mas o esporte ganhou um aliado nos bastidores. Após atuar em redes de supermercados e de ensino, Laudson tornou-se gerente executivo da Cinelive, empresa responsável pela exibição ao vivo de eventos musicais, esportivos e corporativos nos cinemas. Foi por suas mãos que as finais da Champions, o Super Bowl, a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o UFC e games chegaram às telas grandes.

Foi uma uma aposta na tecnologia digital e na multiplicação das salas 3D. Quando a Cinelive nasceu, o negócio de conteúdo ao vivo nos cinemas era incipiente não só no Brasil, mas em todo o mundo. Não haviam referências relevantes, o que existia à época era a expectativa de se tratar de uma ideia com enorme potencial. A Casablanca – grupo de imagem a que está ligada a Cinelive – já tinha a engenharia necessária, equipamentos que recebem o sinal via satélite e fazem a integração com os projetores digitais das salas. O que faltava era alguém que convencesse os cinemas de que o negócio era viável e lucrativo para todos. Esse alguém foi o Laudson.

A tarefa pode não ter sido fácil, mas deu resultado. Quando a primeira final da Champions foi exibida, em 2011 (Barcelona x Manchester United), apenas 11 salas aderiram ao projeto. Agora, cinco anos depois, serão 103 salas em 46 cidades de 18 estados a exibir o confronto entre os espanhóis Real e Atlético. Um salto geométrico, mas que, para Laudson, é apenas o primeiro tempo do jogo.

BATE-BOLA

Por que a UEFA Champions League e não o Brasileirão?

A Champions é o principal campeonato de clubes do mundo e vem ganhando cada vez mais visibilidade junto ao público brasileiro, muito por conta da presença de jogadores nacionais nos times europeus. Por isso, quisemos levar a sensação de estar no estádio sem o espectador precisar viajar milhares de quilômetros para assistir à final. Um dos fatores que motiva a ida do público ao cinema é a partida especial, única. O Brasileirão há alguns anos segue o formato de pontos corridos, ou seja, sem final e sem saber com antecedência quando será o “jogo do título”, o que dificulta atrair o interesse do público de cinema. Mas não descartamos nenhum campeonato. Transmitimos partidas da Copa no Brasil e foi sucesso de público, mesmo sem ser final. Esse formato de futebol no cinema é relativamente novo no Brasil e, certamente, tende a ganhar força e adeptos nos próximos anos.

- Como tem sido a reação do público nos cinemas?

O público se encanta. Por isso, ano após ano o número de espectadores aumenta. A pessoa vai, se emociona com a experiência e no próximo ano convida amigos para irem juntos. Para se ter uma ideia, a primeira final da Champions que transmitimos, quando o Bayern perdeu da Internazionale em Madri, levou cerca de 1.200 mil pessoas aos cinemas. No ano passado, já foram 24 mil pessoas para assistir à vitória do Barcelona sobre a Juventus, direto de Berlim.

- O que diferencia a exibição dos cinemas de uma transmissão convencional da TV?

Ir ao cinema para assistir qualquer tipo de conteúdo diferente de um filme já é uma nova e rica experiência. Quando você opta por assistir a um jogo no cinema, você abre um leque de opções: o conforto, a telona, alta definição, qualidade de som, o público comportando-se como torcida, narrador e comentarista exclusivos para os cinemas, que têm interatividade direta com o público, o que transforma a transmissão em um programa dinâmico e diferenciado.

Mas se é para torcedor se sentir numa arena, a cerveja, também está liberada, como na Europa?

A torcida é completamente liberada! Quanto às bebidas, alguns cinemas estão liberados para comercializá-las. E assumem a responsabilidade de vender somente para maiores de 18 anos, é claro.

Este ano a Cinelive anunciou uma parceria com a Globo. O que muda em relação ao acordo com a ESPN, que tinha os direitos até o ano passado?

A parceria com a Globo é mais uma prova de que o conteúdo especial está ganhando força e se consolidando. Para este ano, o espectador contará com a narração de Jader Rocha e comentários de Wagner Vilaron, exclusivamente para os cinemas. Quem for poderá interagir com eles pelo Twitter, uma outra vantagem que implementamos, nas últimas transmissões de finais da Champions

Além da Champions League, quais outros eventos vocês já transmitiram?

A primeira iniciativa ocorreu em 2010, quando realizamos quatro jogos da Copa do Mundo  na Africa do Sul, em caráter experimental, juntamente com a Globo. De lá para cá, além das cinco finais da Champions, exibimos vários jogos da Copa de 2014, todos os do Brasil e inclusive a partida final entre Argentina e Alemanha. Também fizemos uma final da Copa do Rei da Espanha, com bastante sucesso.

E os outras esportes?

Fizemos incursões em outras modalidades, sim. Já são três edições do Super Bowl exibidas no cinema, em parceria com a ESPN com narradores e comentaristas exclusivos. Transmitimos três edições do UFC, inclusive o de Londres, que marcou o retorno do Anderson Silva ao octógono, e mostramos ainda eventos Olímpicos, nos Jogos de Londres em 2012.

A transmissão de campeonatos de games segue esse mesmo espírito?

Em julho transmitiremos a segunda etapa da final do Campeonato Brasileiro de League of Legends (jogo eletrônico online em que duas equipes lutam em diversos campos de batalha). Esse é outro fenômeno que leva aos cinemas milhares de pessoas. Já exibimos duas edições anteriores. No ano passado, com exclusividade e diretamente do Allianz Parque, tivemos sucesso absoluto entre os fãs e jogadores.

Número de pessoas nas transmissões:

Final da Liga de 2015 - Barcelona 3x1 Juventus - 24 mil
Final da Liga de 2014 - Real Madrid 4x1 Atlético de Madrid - 14 mil
Semifinal da Copa 2014 - Brasil 1x7 Alemanha - 12 mil
Super Bowl 50 (2016) - Denver Broncos 24x10 Carolina Panthers - 10,7 mil
League of Legendes (2016) - Paim Gaming 3x0 INTZ - 10 mil

Laudson (foto:Divulgação)

Laudson Diniz sonha levar eventos esportivos para as telas do Brasil inteiro  (foto:Divulgação)

Fonte: Lancenet