Há 100 dias, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, assumiu o mandato de presidente do Flamengo, encerrando seis anos consecutivos de gestão de Rodolfo Landim. A promessa do empresário desde a campanha era instaurar uma gestão profissional, principalmente no que se refere ao departamento de futebol, além de apontar a necessidade de maior sustentabilidade nas finanças do clube, mais transparência nas decisões e a continuidade — com responsabilidade — de projetos sensíveis, como a construção do estádio no terreno do Gasômetro. Completando a marca redonda hoje, Bap já soma os títulos da Supercopa do Brasil e do Carioca, além de alguns episódios que permitem prever como será seu triênio, até 2027.
Profissionalismo
Crítico à atuação de Marcos Braz como vice-presidente de futebol durante a última gestão, Bap teve como primeiro ato a contratação do português José Boto para a função de diretor-técnico. Deixando claro que queria decisões técnicas a partir de então, ele chegou a dar aval para que o português avaliasse a continuidade de Filipe Luís como treinador. Na prática, o presidente tem separado a Gávea do Ninho do Urubu, blindando o departamento ao afastar vice-presidentes e pessoas não essenciais — inclusive ele próprio — do ambiente, para que não interfiram no dia a dia. Boto e Filipe são os responsáveis pelas decisões da equipe, e o presidente apenas referenda suas escolhas.
Contenção de danos financeiros
Durante a apresentação do balanço do último ano, Bap externou a preocupação com o aumento exponencial da dívida do Flamengo, de R$ 48 milhões em 2023 para R$ 327 milhões em 2024. Consciente de que o fluxo de caixa estaria comprometido após as pesadas contratações feitas na última temporada e a compra do terreno do Gasômetro, o novo presidente optou por conter danos. A postura ficou clara com as poucas contratações realizadas — apenas Danilo e Juninho chegaram no início do ano — e com as saídas que deram fôlego, como a venda do zagueiro Fabrício Bruno e o empréstimo do argentino Carlos Alcaraz. Ao mesmo tempo, as renovações com ídolos vêm sendo prioridade, sendo a de Gerson — até 2030 — a mais recente.
Estádio
Até agora, a atitude de Bap em relação à construção do estádio do Flamengo tem sido oposta ao otimismo demonstrado pela gestão anterior, que prometia a inauguração até 2029. Sem se declarar contrário ao projeto, o presidente externou a preocupação de que este ainda não conta sequer com um estudo de viabilidade financeira, e vem adiando a assinatura definitiva. Pensando cada passo com cautela, Bap chega a considerar 2031 como uma meta plausível para a entrega da sonhada arena.
Polêmicas
Indicando ter um estilo tão ou mais empresarial e negociador que o de Landim, Bap ainda não demonstrou preocupação em adotar uma gestão exatamente simpática. Algumas demissões em massa foram promovidas no clube, classificadas como “reestruturação estratégica”, e atingiram setores como o futebol de base e o departamento médico. No extracampo, ele também chamou atenção ao fazer do Flamengo o único clube da Libra a se recusar a assinar o manifesto antirracista em protesto contra a Conmebol — um episódio que também expôs divisões internas no grupo, sobretudo em relação aos valores negociados antes de sua posse.
Em busca de mudança
O contrato firmado com a Libra durante a gestão de Landim se tornou alvo de críticas por parte de Bap, que considera que o Flamengo sofreu um prejuízo milionário — estimado em R$ 100 milhões já em 2024. “Estimo que o clube perdeu algo em torno de 450 a 500 milhões de reais em cinco anos. Isso é um desafio que já temos, e eu não aceito uma situação dessa”, declarou à Flamengo TV. A insatisfação tem levado o presidente a se aproximar da Liga Forte União e a sinalizar uma possível adesão ao bloco, o que pode provocar uma grande mudança no cenário do futebol brasileiro.
Maracanã e Vasco
O objetivo de conseguir acordos vantajosos levou Bap a se aproximar até mesmo do Vasco na questão do Maracanã. Aproveitando o fato de o cruz-maltino não conseguir levar para São Januário o clássico da 5ª rodada do Brasileirão, o presidente selou, nesta semana, um acordo pontual para que o rival não apenas mande esse jogo no maior estádio da cidade — administrado em conjunto com o Fluminense —, como também o utilize em outras partidas nas temporadas de 2025 e 2026. A medida atrai mais uma grande torcida para o local, algo que até pouco tempo era impensável, após tantas batalhas judiciais ao longo dos últimos anos.