Análise: vitória no fim e rodada amiga não escondem atuação pobre do Flamengo

O Flamengo teve excelente quarta-feira ao bater o Vitória no Barradão e contar com os tropeços de Botafogo no São Paulo - empate por 2 a 2 - e Palmeiras no Fluminense - derrota por 1 a 0. O mesmo não se pode dizer em relação ao rendimento . A torcida rubro-negra penou com uma atuação marcada por lentidão e pouquíssima criatividade do meio-campo.

Apesar da partida ruim do Flamengo , o gol salvador aos 44 minutos do segundo tempo conquistado com belo passe de Gabigol e atitude de centroavante de Carlinhos garantiram aos rubro-negros uma noite de sono bem dormida em relação à tabela. Além de escapar do famoso "jogo com carinha de tragédia", o time de Tite ficou com o segundo lugar e a três pontos do Botafogo, que tem um jogo a mais.

Como candidato ao título que é, o Flamengo ocupou o campo de defesa de Vitória e exerceu uma forte marcação alta. Logo no primeiro minuto, uma pressão de Pedro e Arrascaeta na saída de bola adversária quase proporcionou uma jogada de perigo.

Apesar de bem postado à frente, o Flamengo mostrou imensa dificuldade para furar a retranca baiana. Esbarrou em muitos erros de passes e na morosidade para fazer a transição entre defesa e ataque.

Léo Pereira errou três tentativas de ligação direta. Allan também equivocou-se constantemente em tomadas de decisão. Numa boa triangulação pela direita, o volante deu um toque na frente que ninguém entendeu.

Gerson vinha sendo pouco acionado pela direita e resolveu voltar mais para buscar o jogo. Numa dessas idas ao círculo central, fez boa jogada ao vencer o primeiro combate de Alerrandro e depois tirou Ricardo Ryller com um lindo drible de corpo.

A movimentação fez Gerson abrir um clarão. Com espaço, ele esticou em Arrascaeta, que, por sua vez, desconcertou Willean Lepo e soltou a bomba.

Com 58% de posse de bola e três finalizações, o Flamengo não fez um primeiro tempo amarrado. Marcou corretamente, mas pouco criou.

Matheusinho e Arrascaeta em Vitória x Flamengo — Foto: Victor Ferreira / EC Vitória

Logo aos 20 segundos, a pressão alta do Flamengo voltou a funcionar como acontecera no minuto inicial do primeiro tempo. Cebolinha roubou bola na ponta esquerda, mas Pedro hesitou entre chutar ou tocar para Gerson. Tentou a segunda opção, mas, como perdeu tempo, o passe não saiu da melhor forma. A blitz que deu esperança aos torcedores rubro-negros se mostraria efêmera. Durou pouco demais e não passou de um raro momento.

Aos cinco minutos, Fabrício Bruno até fez um golaço, mas na origem do lance Arrascaeta deu dois toques na bola em cobrança de escanteio. Depois disso, Arrascaeta e Gerson protagonizaram algumas boas jogadas, mas nada que resultasse em oportunidades reais.

O Flamengo voltava a se arrastar, não criava, e Tite não se mexia. Por outro lado, Thiago Carpini resolveu fazer mexida tática aos 14 minutos. O ponta Zé Hugo entrou no lugar do volante Ricardo Ryller, e a inércia demonstrada pelo Flamengo fez o Vitória gostar do jogo.

O empate quase veio com Willian Oliveira aos 21 minutos, numa ótima trama ofensiva do Vitória. Tite, enfim, mudou peças. Tirou Pedro, que não fazia um bom jogo, e De la Cruz, que parecia ter perdido força física. Aliás, se isso não tiver motivado a mudança, não há como entender a saída do uruguaio e a permanência de Allan em campo. Entraram Gabigol e Luiz Araújo.

Gabigol foi uma boa notícia. Entrou querendo jogo e mostrou que pode ser útil. Está deixando de jogar pelo nome, história ou carisma. Tem recebido chances porque tem se movimentado mais, ocupado melhor os espaços e se apresentado para finalizar.

Mas antes de o camisa 99 se tornar figura decisiva ao lado de Carlinhos veio o empate do Vitória. Aos 29 minutos, depois de Viña parar em grande defesa de Lucas Arcanjo, o time não se recompôs da maneira adequada e se desconcentrou com o "quase gol" do uruguaio. A volta do escanteio foi de maneira completamente desordenada, Matheusinho ligou em Zé Hugo, que virou para Everaldo pegar o sistema defensivo rubro-negro de calça arriada. O ponta bateu no canto de Rossi, sem chances.

O balde de água fria dava toda a impressão daquele "joguinho com cara de tragédia". O Flamengo não criava, e o Vitória, que não merecia melhor sorte na partida, aproximava-se da área dos cariocas. Pois Tite, que errara ao manter Allan por longos minutos, foi para o tudo ou nada. Tirou Viña por questões físicas e colocou Ayrton Lucas, botou Matheus Gonçalves no lugar de Allan e ousou ao trocar Cebolinha por Carlinhos.

Tais mexidas reconfiguraram o time da seguinte forma. Gerson virou primeiro homem de meio-campo, Arrasca tornou-se o 8, e Gabigol ficou centralizado atrás de Carlinhos, o centroavante. Luiz Araújo e Matheus Gonçalves tornaram-se os extremos.

Pois no contra-ataque do gol da vitória essas peças ficaram bem definidas. Everaldo tentou ligar no comando do meio-campo, e Gerson, como um cabeça de área, interceptou o passe. Arrasca, como segundo homem, fez a pressão em Wagner Leonardo e o fez errar o passe. Gabigol, o ponta-de-lança, recebeu onde gostam os grandes armadores e tocou no timing certo. Carlinhos, como um autêntico centroavante, acelerou, sustentou na força e bateu com a parte de fora do pé. Um belo gol.

Belo gol que premiou a ousadia de Tite na reta final do jogo, mas que não encobre a atuação pobre do Flamengo em termos de criação . A falta de imaginação, porém, também é incapaz de esconder que o time voltou a ter mais opções ofensivas. Antes de ser garçom, Gabigol correra bastante e por pouco não marcou belo gol ao driblar o goleiro Lucas Arcanjo. Carlinhos, por sua vez, livrou-se da timidez demonstradas nos primeiros jogos e reafirmou-se como jogador que pode decidir duelos encardidos.

O jogo não foi bom, mas a rodada esteve próxima da perfeição. O domingo será com Maracanã cheio, e Tite tem três dias para encontrar soluções para fazer o time mais pensante e envolvente.

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Fonte: Globo Esporte