Ao receber amigos de longa data na sala da mansão localizada no Itanhangá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Zico vê nos olhos de todos eles o brilho da lembrança que cada item da longa história de ídolo do Flamengo e da seleção brasileira desperta mesmo depois de décadas. Os convidados reencontram fotos e memórias nessa espécie de museu criado como cenário para o documentário “Zico, o Samurai de Quintino”, que será lançado nos cinemas brasileiros próximo ao aniversário de 73 anos do ex-jogador, em março do ano que vem.
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O silêncio e as inúmeras câmeras típicas de um set de filmagem mal parecem existir enquanto eles navegam pelo passado do amigo e ídolo, que, muitas vezes, se mistura com o deles. O anfitrião, reconhecido pela memória afiada, reconta causos e histórias como se tivesse vencido o Carioca de 1979 pelo Flamengo meses atrás — foram dois títulos naquele ano, como bem lembrou Júnior a Paulo Cesar Carpegiani durante a gravação que O GLOBO acompanhou.
— Ganhei essa bola dourada pela artilharia de 1979. Voltei para casa, deixei no quarto. Quando acordei, a bola não estava lá. Meus filhos Júnior e Bruno estavam brincando com o avô... — contou aos ex-companheiros de Fla e ao cantor Fagner, seu compadre, outro convidado da gravação.
O ex-lateral e hoje comentarista Júnior, amigo de mais de cinco décadas de Zico, costuma dizer que o Galo, como o chama, tem uma memória melhor do que a perna esquerda do eterno camisa 10 da Gávea. Por isso, não é surpresa para quem o conhece a capacidade de contar as histórias das centenas de memorabilia presentes no “museu”.
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Detalhes como o da camisa da final do Mundial de Clubes, em 1981, no Japão , lavada apenas uma vez na vida — e que é sua preferida da coleção com mais de mil. Zico recorda que aquela foi a primeira e única vez em que vestiu o uniforme do Flamengo com seu nome nas costas num jogo oficial. Nomear os atletas se tornou comum só nos anos 1990:
— Eu tinha uma do Maradona, que era a camisa azul e branca da Argentina e ficou toda branca. Saiu o azul. Era a camisa do Maradona, pô! E sabe qual era o número com o qual ele jogou contra nós? Número 6. Foi um Brasil x Argentina numa Copa América.
Além da mesa-redonda com os amigos, Zico recebeu ex-jogadores, como Alex e Ronaldo, e jornalistas de várias gerações que acompanharam sua carreira nos campos e fora deles. Teve até gol de falta do camisa 10 na mesa de futebol de botão. Material que daria bem mais que um filme para quem conhece ou não o Galinho de Quintino.
— Nós vamos recontar as histórias. É impossível contar algo novo. Depois de quase 60 anos de amizade... Recontaremos com o maior prazer do mundo. E, se puxar o fio da meada, dá para fazer uns três documentários — brinca Júnior.
Criado pelo diretor de arte Claudio Amaral Peixoto, o “museu” conta apenas com objetos pessoais de Zico. Além de camisas, fotos, prêmios e troféus, há o caderno em que o jogador anotava cada gol marcado e diversos livros organizados pela mulher Sandra com recortes da mídia impressa.
— Tudo está catalogado. Contamos com museólogos para registrar tudo. Há dezenas de rolos de Super8 com filmagens da família e de concentrações — conta João Wainer, diretor do filme, que tem produção da Vudoo Filmes e da Guará Entretenimento (coprodução Globo Filmes, Sportv e Pontos de Fuga e distribuição Downtown Filmes).
O documentário, no entanto, não se resumirá aos bate-papos com os convidados. A produção ainda fará filmagens em locais marcantes da vida e da carreira de Zico, como Quintino, de onde saiu para o mundo do futebol, e Japão, onde se tornou ídolo no fim da carreira e praticamente refundou o esporte no país.
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