Trio de 81 se arrepende de não levar Mundial contra Flamengo a sério e vê Liverpool atual focado

A preparação do Liverpool para o Mundial de 1981 não foi exatamente profissional. Em vez de estudo sobre o adversário, teve voo regado a álcool e golfe na véspera do jogo contra o Flamengo . A perda do título em si não é lamentada, mas alguns jogadores daquele elenco dos Reds demonstram arrependimento pela forma como a competição foi encarada. E garantem: nesta edição o time de Jürgen Klopp deve ter postura totalmente diferente.

Zico levanta taça do Mundial observado por Ray Kennedy, Alan Hansen e Phil Thompson, com cara de poucos amigos — Foto: Getty Images

Zico levanta taça do Mundial observado por Ray Kennedy, Alan Hansen e Phil Thompson, com cara de poucos amigos — Foto: Getty Images

Phil Thompson era o capitão daquela geração do Liverpool. Lembra que, após os títulos da antiga Copa dos Campeões da Europa de 1976/77 e 1977/78, o clube sequer quis disputar o Mundial – no primeiro, cedeu a vaga ao Borussia Möchengladbach, vice-campeão continental, enquanto no segundo ano o evento não ocorreu porque o Boca Juniors, então campeão da Libertadores, também alegou problemas de calendário.

Disse que a participação do Nottingham Forrest, então potência inglesa, em 1980, abriu as portas para que os Reds finalmente estreassem no evento, mas ainda sem ter a dimensão da importância que deveria ser dada.

"Temos muitos arrependimentos. E demorou alguns anos para a gente perceber"

- O Mundial de Clubes era algo muito novo para os times ingleses. (...) A preparação para o jogo foi simplesmente errada. E quando voltamos, Bob Paisley pediu desculpas à imprensa, aos jogadores e assumiu a responsabilidade, porque ele não tinha levado a sério - disse Phil Thompson, continuando:

"Não estou tentando diminuir o jogo e a importância dele, porque, obviamente o Flamengo mereceu muito no dia"
Capitão daquela geração do Liverpool, Phil Thompson exibe camisa daquela final — Foto: Helena Rebello

Capitão daquela geração do Liverpool, Phil Thompson exibe camisa daquela final — Foto: Helena Rebello

- Sim, eles eram um time muito, muito bom. Tecnicamente, naquelas imagens, eles pareciam estar mais adaptados às condições do que nós estávamos, e no final eles nos deram uma aula de futebol. De como manter a posse de bola, de como manter a movimentação, que era exatamente uma das maiores qualidades do nosso Liverpool, manter a posse de bola. Então, foi um daqueles jogos assim... surpreendentes - afirmou, complementando:

"E eu me lembro muito dele por todas as razões erradas. Nós não deveríamos ter feito aquilo. Nós deveríamos ter levado a sério" – disse Phil Thompson.

Lembranças de Zico, Leandro e Nunes

Enfatizar que não houve desrespeito ou pouco caso do feito do Flamengo é um discurso comum aos ex-jogadores do Liverpool entrevistados pelo Esporte Espetacular . Todos frisam que era realmente uma questão cultural, de foco absoluto no Campeonato Inglês.

Nunes chuta para marcar o terceiro gol do Flamengo contra o Liverpool no Mundial de 1981 — Foto: Getty Images

Nunes chuta para marcar o terceiro gol do Flamengo contra o Liverpool no Mundial de 1981 — Foto: Getty Images

Assim, nem mesmo o fato de que vários jogadores do Flamengo defendiam a seleção brasileira fazia diferença para o time inglês. A exceção era Zico, citado como referência por todos. Mas Leandro e Nunes, por exemplo, se tornaram relevantes mesmo para eles somente com a atuação no Japão. Quem lembra bem, até rindo de si mesmo, é Mark Lawrenson, que era zagueiro de ofício, mas naquele jogo atuou na lateral esquerda.

"Todos nós lembramos de Zico. Leandro era o que vivia passando por mim?"

- Provavelmente, ouvindo os nomes na época, nós diríamos: “Ah, sim, eu conhecia esse”. O Leandro, por exemplo... Se eu sei algo sobre o Nunes? Pode ter certeza que hoje eu sei sobre o Nunes... Porque isso ficou gravado na minha memória, ele fazendo gol em cima de mim... E meio que virou parte do folclore depois de tudo. Nós não éramos batidos por 3 a 0 com muita frequência. Então, foi um daqueles jogos muito ruins. Mas todo o cenário em volta foi de uma preparação nada boa – disse Phil Thompson.

Liverpool de Klopp levará Mundial a sério

Nas semanas que antecederam o Mundial, a imprensa brasileira questionou o técnico Jürgen Klopp e os jogadores do Liverpool atual sobre a competição e o Flamengo . E todos admitiram conhecer pouquíssimo sobre os possíveis adversários no Catar . A postura, no entanto, não reflete soberba ou qualquer semelhança com a falta de interesse demonstrada pelo time de 81. É o que reforça o ex-goleiro Bruce Grobbelaar, revelando o apelido que deram ao torneio.

"Naquela época, era um 'troféu Mickey Mouse', agora não. Agora é um Mundial de Clubes, porque você tem outros times tentando vencer o Flamengo e nos vencer para chegar à final"

- Eu acho que vai haver uma final entre Liverpool e Flamengo, mas desta vez não tenho dúvidas de que o Liverpool vai jogar bem. Eles querem esse troféu, e você sabe por quê? - questionou Bruce, respondendo em seguida:

"Porque quando vencermos o Flamengo teremos três troféus antes do Natal, e nenhum outro time fez isso, conquistar um triplete antes do Natal, três troféus no exterior: a Supercopa, a Champions e o Mundial de Clubes"

- Então é algo muito, muito, muito grande – disse o ex-goleiro.

Mark Lawrenson concorda. E vê como forte indicativo da seriedade com a qual o clube encara a competição a decisão de levar força máxima para o Catar , apesar de um conflito de datas – o Liverpool vai escalar o time sub-23 para encarar o Aston Vila pela Copa da Liga Inglesa, na terça-feira que vem, dia 17, véspera de sua estreia no Mundial.

O ex-zagueiro e hoje comentarista da BBC acredita que Klopp jamais teria uma postura displicente com o Mundial, principalmente sabendo que a viagem tira o foco do Campeonato Inglês, prioridade do clube e da torcida nesta temporada.

- Esse clube sempre venceu todas as competições que participou exceto uma, que é o Mundial de Clubes. Todos os jogadores aqui já ganharam a Liga dos Campeões e podem adicionar o Mundial de Clubes aos troféus, claro, se tiverem sucesso. (...) Acho que para todos os jogadores seria significativo, e não esqueça do técnico. O técnico vai querer vencer isso. Ele não vai levar os jogadores para o Catar e dizer: “Vamos ter férias, aproveitar o sol”. Ele vai levar, muito, muito a sério - disse Mark Lawrenson, acrescentando:

"Para um clube que venceu todas as competições, essa é basicamente a última coisa que precisa vencer e gostaria de vencer, e agora todo mundo reconhece a enormidade da competição"

- Vocês, o Flamengo, reconheceram isso todos esses anos, há 38 anos, nós não, infelizmente - afirmou.

Phil Thompson engrossa o coro. Também comentarista de uma importante rede de televisão na Inglaterra, a Sky Sports, ele disse que conversou com dirigentes do clube e que conquistar o título do Mundial é sim uma prioridade. E que todas as ferramentas estarão disponíveis para que o elenco entre em campo pronto para neutralizar os pontos fortes do Flamengo.

- No Campeonato Inglês, nós sempre sabíamos sobre os times que iríamos enfrentar, sobre algumas jogadas. Mas, na época que fomos para Tóquio, não sabíamos do Flamengo. Agora tudo mudou - disse Phil, acrescentando:

"Pode ter certeza que o Jürgen Klopp e o time dele vão ter DVDs do Flamengo, dados sobre os últimos 10 jogos"

- Vão ter tudo necessário para a preparação... Vão saber qual é o pé bom de cada jogador, o que eles tomam no café da manhã.... Agora, a preparação para os jogos é completamente diferente da que nós tínhamos lá atrás - afirmou.

Klopp levanta o troféu da Liga dos Campeões: clube venceu torneio seis vezes, mas não tem título Mundial — Foto: Sergio Perez/Reuters

Klopp levanta o troféu da Liga dos Campeões: clube venceu torneio seis vezes, mas não tem título Mundial — Foto: Sergio Perez/Reuters

Fonte: Globo Esporte
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