A sonora goleada por 5 a 0 do Flamengo sobre o Grêmio no Maracanã , pela semifinal da Copa Libertadores , marcou um dos momentos mais importantes de 2019 dentro do futebol brasileiro.
Nas horas que se seguiram à partida, viralizou na internet um vídeo de Portugal que detalhava a tática utilizada por Jorge Jesus para superar Renato Gaúcho. E quem dissecava as atividades de bola parada do Rubro-Negro era Pedro Bouças, que à época trabalhava ao lado do treinador nas análises de programadas esportivos da TV Canal 11 e agora um dos analistas de desempenho na comissão do experiente Jesualdo Ferreira.
Idealizador do site Lateral Esquerdo, que se debruça sobre tática no futebol, Pedro é formado em Educação Física e Desporto, com especialização em Futebol pela Universidade Lusófona. Ele teve destaque no futebol português comandado a equipe feminina do Clube Futebol Benfica, onde conquistou duas vezes o Campeonato Português e a Taça de Portugal. Aos 40 anos, ele aceitou o convite para fazer parte da comissão técnica de Jesualdo Ferreira no Santos, onde estiveram até agosto.
Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, o português abordou temas importantes no futebol brasileiro como a evolução dos treinadores locais, a formação e os ‘vícios’ dos jogadores, as razões por trás do domínio do Flamengo em 2019 e outros temas.
O mérito de Jesus no Flamengo, o tático e o craque
Confirmado como técnico do Flamengo em 1º de julho de 2019, Jorge Jesus mudou o rumo do futebol brasileiro na última temporada. Foi sob o comando do técnico que o Rubro-Negro se tornou soberano em campo, conquistando praticamente tudo o que disputou: Conmebol Libertadores e Campeonato Brasileiro em 2019, além de Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil e Campeonato Carioca em 2020. O treinador de 66 anos deixou o Rio de Janeiro no último mês de julho para retornar ao Benfica com mais títulos do que derrotas no Brasil.
Questionado pela reportagem do ESPN.com.br sobre o segredo por trás dos títulos do treinador no comando do Flamengo, Pedro não hesitou em destacar a intensidade de todos os jogadores em torno das funções táticas estabelecidas pela comissão. Na visão do português, esta mentalidade foi o trunfo do Rubro-Negro com Jorge Jesus.
“Essa foi a grande diferença do Flamengo para o restante das equipes em 2019. Há um mérito grande do Jorge Jesus, porque nós víamos os destaques da equipe, os nomes da frente, que em tese não deveriam se desgastar desta maneira sem a bola, mas corriam a todo momento e com intensidade, com inteligência. O Jorge Jesus conseguiu convencer a sua equipe de que todo o tipo de trabalho é importante. Todo mundo fala que o Flamengo era uma equipe com qualidade com bola e ofensiva, mas porque tinha a mesma qualidade sem a bola. Tinha intensidade, bom trabalho tático. Mesmo ofensivamente, o fato de ter os movimentos inteligentes, um movimento como equipe, houve um mérito muito grande do Jorge Jesus. Um conhecimento tático muito bom. Ele não é muito bom comparado ao Brasil, ele é bom no mundo inteiro. Isso não teria sido suficiente se ele não tivesse convencido o próprio elenco”, afirmou Pedro, que ainda se debruçou mais sobre o trabalho de destaque no Rubro-Negro.
E este cara que não pára de marcar gols? Vai ser artilheiro pelo 3º ano consecutivo?! pic.twitter.com/rkEGtuHDXW
— Pedro Bouças (@boucas_pedro) September 10, 2020
E no contexto fora de domínio do Flamengo em 2019, as individualidades ficaram à tona na Gávea. Ao ser questionado sobre o jogador que mais chamava atenção no plano tático no cenário brasileiro, Pedro não titubeou: Gerson. O meio-campista, escolhido para as seleções do Brasileirão de 2019 e para o time ideal do campeonato no Prêmio ESPN Bola de Prata Sportingbet , encheu os olhos do português pelo futebol na última temporada.
“Taticamente, ele cumpre tudo o que é necessário. Ainda tem uma dimensão técnica e física muito forte. Chega rápido à área de ataque, quando perde a bola, consegue voltar para ajudar na reorganização. Consegue carregar a bola com qualidade. Um papel tático muito importante com a bola quando o time saía ao ataque. O Arão virava um terceiro zagueiro, e o Gérson avançava bastante. Quando perdia a bola, tinha a função de impedir a transição ofensiva do adversário. Acredito que muito do sucesso do Flamengo passou por essa questão. Era um time muito eficaz quando perdia a bola. Ele tinha um papel muito importante. Há muitos outros nomes também. Não conheço todo mundo, mas acho o melhor jogador do futebol brasileiro”, afirmou.
Mas em uma partida de equipes ajustadas taticamente, quem sobressai é o jogador que 'quebra a tática' com a qualidade técnica. Para Pedro Bouças, quem melhor faz isso no Brasil é Everton Ribeiro. Melhor jogador do Brasileirão de 2013 e 2014 com o Cruzeiro e vencedor de praticamente tudo o que disputou com o Flamengo, o meia é destacado pelo português como um dos nomes mais eficientes do futebol nacional.
“Quem mais me encanta é o Everton Ribeiro. Ele não é o que mais faz gols e o que mais corre, mas é quem mais cria condições para os companheiros. Pode não ser o nome do último passe, mas, quando a bola passa por ele, vai chegar ao gol ou ao último passe. É muito inteligente, muito eficiente. Para mim, o melhor jogador é que sem a bola acerta 95 de 100 ações. Naquelas 100 ações, eu tenho que cobrar o melhor dele nesse período, mesmo que muitas vezes não resulte em gols. Dentro do futebol ofensivo, que é o que eu gosto, vejo ele como o mais eficiente”, analisou.
Futebol brasileiro está atrasado em relação ao europeu?
"Não há jogadores como os brasileiros. Pode haver nomes que se equiparem, mas ninguém é melhor tecnicamente. Mas do ponto de vista tático, há diferenças grandes entre os brasileiros e os melhores europeus. Há várias razões para isso, mas, para mim, não passa pelo treinador. Não é que ele é incapaz. Acredito que o jogador chega ao profissional com inúmeros vícios adquiridos desde a base, que impedem que ele realize algumas funções no futebol profissional", diz Bouças ao ESPN.com.br.
"A principal diferença é no poder de marcação dos atacantes. Assistindo ao Liverpool e ao Bayern, você vê os 11 atacando e os 11 defendendo. Salah e Mané voltam para marcar. Isso para mim é um futebol bem jogado. Isso faz com que a equipe atue mais próximas e superem as linhas mais baixas. No Brasil, isso quase não acontece", completou.
"O jogador brasileiro ofensivo costuma ser talentoso e acredita que não precisa gastar a mesma energia marcando e atacando. Não existe uma correção dos treinadores na base. Quando chega ao profissional, com 20, 21 anos, ele já teve 10, 11 anos de futebol na base apenas atacando e não marcando. Nós vemos no futebol brasileiro as equipes não andando juntas, com um espaçamento grande. Não existe uma pré-disposição com a defesa. Isso vem da base. Ninguém vai criticar um garoto que anota três gols, mas que só ataca. É menos importante ganhar aos 12 anos do que formar bons atletas. Se você não cumprir com tudo o que a equipe precisa, você não entra em campo", finalizou.
E está justamente neste momento da formação que, para Pedro Bouças, está o maior problema na evolução tática dos jogadores brasileiros. Esse processo, muitas vezes, é retomado apenas em alguns casos em que atletas chegam à Europa e precisam se adequar ao plano tático para conseguirem jogar.
“É uma questão cultural. Quando um brasileiro chega à Europa, ele passa a cumprir uma questão tática e se destaca por ser melhor taticamente. No Brasil, se um ponta driblar três vezes e fizer um gol, pode não defender o resto da partida, pode quebrar as linhas da própria equipe, que será elogiado pela torcida. Na Europa, se o Salah não voltar para marcar na primeira vez, a torcida perdoa, na segunda vez, vai receber uma vaia grande das arquibancadas, porque está prejudicando a equipe como um todo. No Brasil, o ponta é para atacar e o zagueiro para defender. Na Europa, se um jogador não cumpre todas as funções, os demais companheiros também vão criticar e falar: 'Você não é melhor do que ninguém'. A não ser que seja um Ronaldo, um Robinho, um jogador muito diferenciado”, afirmou Pedro, apontando uma cultura que passa pela estrutura de formação no Brasil como empecilho para o crescimento para o plano tático dos jogadores ofensivos.
“Ninguém tenta deixar esses atacantes ainda melhores. É a cobrança de fora e de dentro, na Europa, que faz o atleta crescer. O rigor tático, de ser bom com bola e sem bola, que faz ele ser ainda melhor. É isso que falta ao jogador brasileiro, até mesmo falando de Seleção, para que possa ter um nível ainda melhor. Porém, existe o tipo de pensamento: 'Como seremos criticados por ser pentacampeões?'. Para mim, se tivesse um empenho e um rigor tático maior, teria conquistado de nove a dez Copas do Mundo”.
O velho discurso de que o futebol brasileiro é taticamente ultrapassado e engessado, entretanto, não ecoa com Pedro Bouças, que em 2016 publicou o livro 'Construir uma Equipa Campeã', contando sua experiência à frente da equipe feminina do Benfica. Para o português, os modelos de jogo adotados no país passam por movimentos que são encontrados também na Europa, e que recentemente aconteceu com Jorge Jesus.
“Os modelos no Campeonato Brasileiro não diferem muito. Mas, na verdade, se pensarmos nos europeus, tudo funciona também na base da moda. Alguns clubes estão usando três zagueiros quando há dois anos ninguém fazia isso e estamos vendo agora uma grande maioria das equipes se estruturando da mesma maneira. Vemos muitas semelhanças entre times brasileiros. Na questão defensiva, a grande maioria usava 4-4-2 e 4-1-4-1. Não vejo isso como um problema. Acredito que o modelo precisa ser bem definido, bem estruturado e com um modelo rico, posicionamentos diferenciados, o fato de partir de um mesmo esquema não tornaria a partida igual entre dois times. A moda acontece no mundo inteiro e não apenas no Brasil. Posso usar o exemplo do Jorge Jesus. Há alguns anos, no Benfica, ele era um dos únicos a atuar no 4-4-2. De repente, o Benfica passa a conquistar torneios seguidos, a chegar às finais de competições europeias, e depois de um tempo toda a Liga Portuguesa utilizava o 4-4-2. É algo que ocorre no Brasil, mas também no mundo inteiro. O segredo está nos detalhes e na dinâmica do jogo”, afirmou.
'Salto de qualidade' da seleção brasileira com Tite e elogios ao treinador
Após conquistar praticamente todos os títulos possíveis à frente do Corinthians entre 2011 e 2014, o técnico Tite era um dos nomes mais clamados pela mídia para assumir o comando da seleção brasileira . Porém, a chegada do treinador ao cargo máximo do futebol nacional só aconteceu em junho de 2016, após tentativas frustradas da CBF com Luiz Felipe Scolari e Dunga.
O impacto da chegada do novo treinador foi imediato. A Seleção arrancou de uma vez por todas nas Eliminatórias, não deu chances para rivais consagrados como Argentina, Uruguai e Paraguai e garantiu uma classificação sem sustos para a Copa do Mundo. Porém, a fatídica partida diante da Bélgica, pelas quartas de final do Mundial colocou fim ao sonho do hexa. Com grande exibição de Lukaku, De Bruyne e Courtois, a Bélgica venceu por 2 a 1 e causou o primeiro grande baque na 'Era Tite'.
Mesmo sem o título da Copa do Mundo, para Pedro Bouças, o comandante pode ser apontado como o melhor técnico brasileiro do mundo no futebol atual. Para o analista tático, a seleção brasileira deu um 'salto como equipe' com a chegada do novo treinador e ainda destacou a organização tática e o bom preparo da equipe mesmo na eliminação para a Bélgica.
"Curiosamente, eu assisti de novo ao duelo entre Brasil e Bélgica, pela Copa de 2018. O Brasil esteve bem preparado, pronto para a partida de forma tática. Acho o Tite um bom treinador, não conheço o trabalho anterior dele, mas o vi na Seleção. Mas, a Seleção deu um salto grande com ele. Ficou coletiva, mais tática e com mais possibilidade de os talentos naturais aparecerem. Mesmo sem vencer, a Seleção tinha um padrão tático muito bom. Acho que o Tite é bem capaz de ser o melhor treinador brasileiro. De todos aqueles que me vêm em mente, em termos de organização, o Tite merece um elogio".
Afinal: tática é ou não importante? Massacre do Bayern exemplifica
As análises táticas, a conquista por espaço e outros temas ligados à organização são debatidos e introduzidos com cada vez mais protagonismo no futebol brasileiro e mundial. Porém, ainda há treinadores que dão menos valor à parte tática e valorizam o talento do atleta como o grande diferencial de um time de futebol. Na opinião de Vanderlei Luxemburgo, por exemplo, tática é só a organização dos atletas em campo, mas não é um fator determinante para uma vitória. Foi o que o atual comandante do Palmeiras e um dos técnicos mais vitoriosos do futebol brasileiro disse em uma entrevista ao Esporte Interativo em 2018.
“Existe uma discussão da imprensa no mundo do futebol, uma preocupação muito grande com a parte tática, como se fosse fundamental para o jogo do futebol. E ela não é. A parte tática é o desenho do time. O diferencial é o jogador. O futebol está ficando igual a robô. Você ganha em uma bola parada. As grandes partidas de Copa do Mundo, grandes jogadores decidiram, quebraram esses sistemas para vencerem”, disse o treinador.
Para Pedro Bouças, o diferencial do jogador pode ser ainda mais importante quando existe organização tática, e que o principal momento onde a qualidade individual decide é quando se tem uma superioridade de um adversário em relação ao rival. E o analista utilizou a goleada do Bayern de Munique por 8 a 2 em cima do Barcelona , pela Champions League , como exemplo da organização tática no futebol atual.
“Às vezes, os treinadores falam coisas que eles mesmos não acreditam. Não concordo com o Luxemburgo. Acho a tática é determinante. Diria até mais. Quando perguntam sobre a escola de treinadores portugueses, que está no mundo inteiro, o porquê do sucesso. Tem a ver diretamente com contrariar isso que o Luxemburgo falou. Quando se tem grandes nomes, existe a tentação de deixar nos pés dos talentos a resolução da partida. Acredito que esse tenha sido o segredo. Como não tínhamos essa qualidade aqui em Portugal, tivemos que elaborar técnicas para que conseguíssemos vencer. Por exemplo, se você dirige o Tondela e espera que o seu centroavante vá fazer um lance individual para resolver a partida, você não vai ganhar. Tem que criar condições para que ele fique livre e marque", disse.
"Acredito que a qualidade do elenco serve quando você enfrenta equipes mais fracas tecnicamente. Por exemplo, se o Barcelona todo bagunçado tecnicamente foi encarar o Goiás. Ele vencerá? Acredito que sim. Porque? Porque tem uma equipe muito superior tecnicamente. Agora, quando encara o Bayern, que tem uma qualidade semelhante, mas uma organização tática muito grande, é massacrado. Óbvio que se eu tenho um time melhor contra times mais fracos, eu não preciso pensar em tática. Mas, no Brasil, como os clubes se equiparam, a tática é fundamental. Se o time for bom taticamente, os destaques individuais desequilibram ainda mais", completou.
'Loucura' do calendário brasileiro e 'expectativa irrealista' dos torcedores apaixonados: porque os técnicos são tão pressionados no Brasil?
Ao contrário de boa parte dos países do mundo, o Brasil segue um calendário bastante controverso e que é alvo de críticas de atletas, treinadores, dirigentes e também da imprensa. Com futebol de fevereiro até dezembro, os clubes brasileiros são constantes alvos do mercado internacional e podem perder peças importantes de seu elenco durante competições, precisando, muitas vezes, reinventar equipes e esquemas de jogo com o passar dos meses.
Para Pedro Bouças, o calendário é um dos principais vilões que atrapalham o futebol brasileiro. "O calendário brasileiro é uma loucura, ainda mais nesta temporada, que ficou tudo mais enxuto. Neste momento, tem que ser criativo, tem que encontrar soluções dentro dos próprios elencos e aproveitar o curto período de treino para melhorar essas ideias", disse o analista, que ainda traça um outro paralelo com o tema: a expectativa irrealista por parte dos torcedores.
“A pressão e a cobrança no Brasil têm a ver com a expectativa irrealista dos torcedores. Todos os times no Brasil têm uma torcida gigantesca. Aqui em Portugal temos dois ou três clubes com grandes torcidas. A regra geral, no Brasil, é de que o torcedor não tem noção do que o jogador do próprio elenco tem a capacidade de fazer. Nem o treinador e nem nenhum outro treinador tem a condição de fazer. É a mesma coisa que treinar o Tondela. Se você não for campeão é porque você não é bom. E em mil anos de futebol português, o Tondela não será campeão. Para a direção, é mais fácil trocar treinador de três em três meses para se proteger e largar a culpa para os treinadores, quando, na verdade, não tem condições de ser melhor do que aquilo”.
Para o analista, um dos únicos nomes de mais respaldo da diretoria e que tem tempo para fazer um bom trabalho é Renato Gaúcho . Ídolo do Grêmio como jogador e atualmente como treinador, o ex-atleta chegou ao clube em 2016 e conquistou inúmeros títulos com o clube gaúcho. Porém, para Pedro, a história de Renato com o Grêmio faz com que diretoria e torcida tenham mais paciência com o treinador mesmo em momentos de instabilidade.
“No caso do Renato, acredito que o Grêmio tem um time melhor do que a pontuação que fala no Brasileirão, mas ele tem um respaldo grande por ter um passado vitorioso no Grêmio. As diretorias também acatam de maneira muito fácil a pressão dos torcedores. E a culpa sempre cai em cima do treinador”.
Obviedade, criações de 'craques' e discussões rasas: o papel da imprensa na discussão sobre futebol
As mesas redondas de discussões sobre futebol no Brasil são recheadas de opiniões, informações e debates sobre os resultados e fatores que podem decidir uma partida importante, além de notícias sobre os bastidores dos clubes e rumores sobre o mercado de transferências. Porém, é raro observarmos comentaristas falarem sobre esquemas táticos e formas de distribuição dos atletas em campo.
Para Pedro Bouças, a forma rasa como o tema é tratado no Brasil não é exclusividade nacional e que o que falta muitas vezes para os próprios comentaristas é um entendimento maior sobre o próprio esporte e as novas práticas do futebol dentro de campo.
“Vou ser o mais sincero possível: não sigo a imprensa brasileira e posso acabar sendo injusto por alguém. O que eu sinto é que, assim como o nome da base, que tem lacunas por vícios e depois não é cobrado pelo torcedor, ele também não é cobrado pelo comentarista. O comentarista no Brasil olha pelas perspectivas do futebol bonito, é um olhar mais raso. Vocês valorizam muito o atleta que faz duas, três coisas bonitas, e as outras não interessaram para nada. E ficam mostrando em looping um mesmo lance genial. Se ele perdeu dez vezes a bola, não importa, ele fez um lance bonito. E o atleta que correu dez vezes atrás da bola não é elogiado", analisou.
"Assim como em Portugal, às vezes falta um entendimento melhor do jogo, fala-se por muitas vezes do que não se conhece. Isso não é exclusividade do Brasil. A imprensa contribuí para criar patinhos feios em jogadores que não são estrelas, mas que transforma em grandes nomes os mais midiáticos. Se tem dez pessoas que falam que você é um craque e uma que fala que você pode ser melhor, você acredita que é um craque. Às vezes não falta só entendimento, mas tem muita obviedade sobre incertezas também. Se formos honestos nas críticas e tentarmos observar melhor o jogo, vamos ter tudo melhor, até mesmo no final a partida de futebol. Na nossa vida, devemos criticar, mas sempre tentar pensar nos porquês. Não é possível que todo mundo é inteligente e o único que é burro é quem treina a equipe. Isso não pode acontecer. O técnico não está certo o tempo todo, mas é impossível que ele só erre”, completou.