Era uma tarde de 27 de setembro de 2020, em plena pandemia de COVID-19, quando Otávio fez a primeira e única partida com a camisa do Flamengo . O zagueiro, à época com 18 anos, sequer sabia se teria jogo contra o Palmeiras . Um surto de coronavírus no elenco flamenguista, com 41 pessoas da delegação infectadas, ameaçava a realização do confronto no Allianz Parque. Foram muitas reviravoltas: vai ter jogo, não vai ter, vai ser adiado, decisão da Justiça, liminar... Até o juiz apitar o início do duelo por volta de 16h20.
Em campo, o Flamengo tinha um time misto, com muitos jovens. Otávio vestia a camisa 51. Sem sentir a pressão, formou dupla com Natan no time titular. Saiu elogiado do empate por 1 a 1 pelo Brasileirão . Foi uma partida segura, que parecia credenciá-lo para ter novas oportunidades a partir dali. As chances, no entanto, nunca vieram.
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"Eu achei que a gente não ia jogar [contra o Palmeiras], todo mundo falando que não ia ter jogo. A gente estava no hotel. Falaram que a gente nem ia para o estádio, que voltaríamos. Acabou que de última hora fomos para o estádio. Mas na minha cabeça estava que não ia ter jogo. Só depois que eu vi que os jogadores do Palmeiras estavam postando [sobre ter a partida]. Foi quando consegui me concentrar e me preparar mais", disse, à ESPN .
"Esperava [ter mais oportunidades depois do confronto]. Mas eu também não estava inscrito na Libertadores na época. Acho que se eu estivesse inscrito, teria mais oportunidades para jogar, sequência pelo jogo que eu fiz. Mostrei que eu poderia estar jogando", completou.
Otávio, então, precisou passar por cima das expectativas criadas, buscar novos rumos e conhecer o que chama hoje de realidade do futebol. O tempo sem entrar em campo se estendeu mais do que o esperado e mexeu com ele.
"Para mim foi um período muito difícil. Eu tinha estreado, fizemos um grande jogo. Alguns tiveram sequência; outros, não, como eu. Fui emprestado para o Sampaio Corrêa e lá disputei apenas um jogo. Fiquei seis meses e pedi para voltar para a base do Flamengo. Foi onde tive oportunidade de jogar de novo (tinha mais um ano de base)", contou.
"Quando fui para o Sampaio Corrêa, vi totalmente a realidade do futebol. Quando cheguei ali eu só tinha jogado no Flamengo, cheguei lá totalmente diferente, cidade diferente. Quando cheguei e fiquei sem jogar, para mim, ali, eu já nem me via mais jogando [profissionalmente]. O contrato com o Flamengo também estava acabando. Só passou pela minha cabeça em parar [com o futebol], não ficar batendo cabeça indo para outros times", revelou.
Otávio esteve perto de desistir. Na cabeça dele, se a volta ao sub-20 do Flamengo não desse certo, a carreira acabaria ainda antes de começar. Ele não queria passar em outros times o que disse ter passado no Sampaio Corrêa, de estar longe de casa e sem atuar. A força para seguir veio da família.
"Fui conversando com meu pai, mais por ele, que no começo me ajudou bastante, o que mais me incentivou a jogar, a voltar a jogar futebol. Quando tinha 13 ou 14 anos, ele falou: 'Joga pelo menos para brincar, alegria'. Aí foi me incentivando. Quando saí do Sampaio Corrêa, foi a mesma coisa. Ele me incentivou mais", disse.
A oportunidade de jogar veio do outro lado do oceano: no Famalicão , de Portugal. Na equipe portuguesa, ele finalmente conseguiu ter sequência e ganhar destaque. As atuações renderam um interesse do Porto , um gigante do país, onde hoje brilha. "Quando eu soube do interesse, foi um momento de muita felicidade para mim e para minha família. Acho que é só o começo", comemorou.
E, apesar de ser só o começo, Otávio já faz planos para o futuro. Ele, como tantos atletas, tem sonho de defender a seleção brasileira. Um sonho de criança. Os sonhos, aliás, têm sido constantes na vida do jogador. Um duelo contra o Arsenal , na Champions League da última temporada, foi quase um.
O brasileiro brilhou no duelo contra os ingleses e deu uma assistência que garantiu a vitória por 1 a 0 nas oitavas de final da competição. O Porto foi eliminado nos pênaltis no jogo de volta, mas parte da missão estava cumprida.
"Passou pela minha cabeça que eu nem sonhava mais em estar jogando em clube grande. Depois que fui para o Famalicão e estava jogando bem, em alto nível, voltei a acreditar que poderia. O que passou na minha cabeça [contra o Arsenal] foi só o sonho que a gente tinha de criança de chegar, disputar uma Champions League", relembrou.
"Quando estava escutando o hino [da Champions], estava muito emocionado, um pouco de frio na barriga, depois no jogo fomos soltando. Na minha estreia também, a gente ter conseguido a vitória no primeiro jogo. Quando acabou o jogo só foi momento de felicidade, estava minha família lá perto. Para mim foi um momento muito especial", completou.
O objetivo, agora, é seguir olhando para a frente.
"Espero fazer uma grande temporada, com bons jogos, e ter oportunidade de chegar na seleção", disse o zagueiro, que não fecha as portas para um retorno ao Flamengo daqui a algum tempo. "Sempre cabe mais um capítulo", garantiu.