Passivo e desorganizado, o Flamengo teve o que mereceu em Assunção

É difícil encontrar um torcedor rubro-negro que tenha se surpreendido com o desfecho do confronto com o Olímpia na noite desta quinta-feira. A rotina do elenco mais caro da América do Sul em 2023 tem sido essa. Competitividade baixa, pouca capacidade de imposição e raras soluções táticas na maioria dos jogos. A derrota para o tradicional, mas limitado time paraguaio, foi apenas mais um episódio desta triste série.

A eliminação rubro-negra expõe os erros de planejamento com a atrapalhada troca de comissão técnica na virada do ano, a falta de entendimento das peças contratadas para as necessidades da equipe, e levanta ainda mais questionamentos sobre a estagnação do que Jorge Sampaoli começou a desenvolver há quase quatro meses.

Escalações

Francisco Arce repetiu a escalação do jogo no Maracanã, mas o time teve uma estratégia totalmente diferente. Já o rubro-negro promoveu o retorno de Filipe Luís à lateral-esquerda. Ayrton Lucas foi para o banco. O restante a equipe foi a mesma base escalada recentemente. Thiago Maia e Gérson foram os volantes.

Como Olímpia e Flamengo iniciaram o segundo jogo das oitavas e final da Libertadores — Foto: Rodrigo Coutinho

O Jogo

A tese de que o Flamengo teria mais espaços para jogar se confirmou rapidamente em Assunção. Logo nos primeiros minutos o Olímpia adiantou o bloco de marcação e tentou tirar a vantagem rubro-negra com um jogo bastante direto. O centroavante Walter González era o alvo. Seja dos cruzamentos feitos de longe da grande área, ou dos passes longos a partir da dupla de zaga. O cenário foi propício para Bruno Henrique escapar em contragolpes.

O camisa 27 abriu o placar antes dos dez minutos, desviando uma falta cobrada por Arrascaeta e sofrida por ele mesmo em rápida transição. O problema é que o Flamengo mais uma vez fez um jogo pouco competitivo sem a bola.

Bruno Henrique não descia acompanhando Alejandro Silva. Filipe Luís sofria com as bolas esticadas para Cardozo. Arrascaeta e Gabigol não faziam uma primeira pressão eficaz. Gérson não tinha a postura de marcação exigida, e David Luiz demorava a reocupar o seu espaço na área após as ligações diretas paraguaias. Thiago Maia precisou se desdobrar!

Não demorou para Ivan Torres empatar e cabeça em ataque rápido pela direita. O ímpeto paraguaio seguiu mais forte que o rubro-negro. Foram oito finalizações do Olímpia contra apenas uma do Mais Querido na 1ª etapa. Mesmo tirando a velocidade da partida e usando a posse de bola para se defender em vários períodos antes do intervalo, faltou ao Flamengo agredir mais a área adversária.

Alejandro Silva e Bruno Henrique disputam a bola na 1ª etapa. — Foto: NORBERTO DUARTE / AFP

Arrascaeta e Bruno Henrique faziam um bom trabalho de retenção de bola pela esquerda. Filipe Luís oferecia suporte, mas o time não desenvolvia mais nada. O ''controle pelo controle'' não levou o rubro-negro a ser contundente, e não impediu que os anfitriões tivessem investidas perigosas, mesmo considerando o desnível técnico entre as equipes.

Na volta para o 2º tempo, Sampaoli, que foi expulso logo depois, passou Thiago Maia para o lado esquerdo da cabeça da área e Gérson para a direita. O time conseguiu ter os setores mais próximos também, e controlou com maior tranquilidade os ataques locais. A resposta de Arce foi colocar Montenegro e formar uma dupla de centroavantes na frente.

Mesmo longe de ter a mesma intensidade dos primeiros minutos, a estratégia de ocupar mais a área do Flamengo e insistir nas bolas levantadas deu certo. Cabe ressaltar novamente a pouca competitividade rubro-negra na abordagem ao homem da bola. Havia liberdade extrema a quem ia cruzar ou fazer um lançamento.

O festival de cruzamentos rendeu um gol ao baixinho Richard Ortiz. Matheus Cunha pulou atrasado. E outro ao grandalhão Bruera, que havia entrado muito bem minutos antes. Chamou muito a atenção, mais uma vez, a passividade do time carioca. Ela se transformou em desespero e preesão no ''abafa'' nos minutos finais.

Equipe do Olímpa comemora gol sobre o Flamengo pelas oitavas da Libertadores — Foto: NORBERTO DUARTE / AFP

O gol anulado de Vitor Hugo, por mais que tenha uma boa discussão polêmica sobre se o impedimento de Gabigol deveria ter sido marcado, não faria justiça ao que se viu em campo. O Olímpia superou a distância técnica entre as equipes com uma estratégia mais bem executada e teve um adversário que não se colocou em condições de competir adequadamente.

O melhor e o pior em campo

O volante Richard Ortiz foi o craque do jogo! Firme na marcação e agudo com a bola, verticalizou a produção ofensiva de seu time e ainda marcou o gol da virada. Um líder técnico e anímico! Já o lateral-esquerdo Filipe Luís foi a principal decepção. Até conseguiu encaixar bons passes nos momentos de posse estéril do Flamengo, mas defensivamente foi um pavor. Perdeu basicamente todos os duelos para Cardozo, e caiu muito fisicamente na 2ª etapa. Errou a marcação em seu setor no gol de Ortiz.

Fonte: Globo Esporte