Seja qual for o resultado da partida desta terça-feira contra o Al-Hilal, pela semifinal do Mundial de Clubes, Jorge Jesus já tem sua história escrita no Flamengo. Mas a recíproca também é verdadeira. O português não esconde que, em menos de seis meses no Brasil, já mudou seu jeito de ser como treinador e como pessoa.
O GloboEsporte.com selecionou algumas frases ditas pelo Mister em entrevista ao Fantástico - exibida na TV no último domingo, e que teve uma versão de 48 minutos publicada no site do programa ( clique aqui ).
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Jogada de mestre: Jorge Jesus falou sobre como o Flamengo representou uma mexida em sua carreira — Foto: André Durão
Ainda em busca de títulos aos 65 anos
Isso não tem idade. Isso tem ambição. Tens que ter qualidade para poderem também chamarem para um projeto desses.
Receio de trabalhar no Brasil?
Nada me fez criar alguma dúvida porque o meu contato com o povo brasileiro e com os jogadores brasileiros é enorme. Por exemplo, onde eu vivo, os meus vizinhos são todos brasileiros. Portanto era só uma questão de atravessar o Atlântico, mais nada.
Relação da família com o futebol
Meus filhos gostam de ver futebol porque o pai é treinador. Mas de resto, meus filhos estão em outra.
Rotina e sono
Eu deito muito tarde e acordo muito cedo. Eu durmo pouco. Durmo no máximo quatro horas por dia. Aqui (no Brasil) me deito um pouco mais cedo, 1h30, 1h. Mas às 5h já estou acordado. E de manhã é quando me inspiro naquilo que é o meu trabalho.
Cuidados físicos
Eu adoro correr, se não fico numa adrenalina muito grande. Faço corrida, faço academia. Portanto sou treinador de mim mesmo.
Assédio do público
Estou num clube que tem a maior torcida do Brasil e do mundo. Lidar com essa situação não é nada de novo. Então se eu quero correr e alguém reconhece não dá pra parar. Então aí tenho que me camuflar um pouco com um chapéu e uns óculos. Mesmo assim me reconhecem, mas faz parte. Não teve interferência na minha vida social.
Relação jogadores e torcida
Hoje os jogadores jogam no Maracanã completamente diferente de quando eu cheguei. Antes jogavam sobre brasas. Hoje jogam sobre o manto do Mengão, com muita confiança e com muita classe.
Como o fado "Melhor de mim", da cantora portuguesa Mariza, tornou-se o seu hino
Essa letra se ajustava ao momento em que eu estava aqui no Brasil. Ou seja, sabia que a tormenta ia passar, eu sabia que era preciso caminhar sem medo de errar e sabe que o melhor estava para chegar. Tudo isso bateu certinho. Eu todos os dias ouvia aquela canção, e ainda ouço.
Eu, como português, tenho muito orgulho do fado. O fado hoje é diferente, para melhor. É completamente diferente das letras de vocês (brasileiros). As de vocês são de amor quase sempre. O nosso fado era sempre tristeza e saudade, saudade, saudade.
Os jogadores colocam esse fado no vestiário bem alto. Essa música mexe comigo. O momento do Flamengo encaixou com perfeição.
Relação com a música
Pra duas coisas eu não tenho jeito nenhum: pra cantar e pra dançar.
Relação com o elenco do Flamengo
Se estivesse em Portugal não dizia, mas aqui posso dizer. Tenho facilidade de dizer que esses jogadores me amam. Como eu amo esta equipe. Em Portugal talvez não dissesse isso. Diria “eu gosto”. Mas o significado não é o mesmo. Amar é mais profundo.
Relação com Gabigol
Ele fala comigo como se fosse meu filho, como meus filhos falam. Em Portugal, giro quer dizer bonito. Ele diz, “Mister, diz lá. Eu sou giro, não sou?”
Apreço pela família
Minha família nunca saiu de Lisboa. Portanto eu trabalhei sempre fora da minha família. Mas as raízes e a educação familiar que a minha querida mãe e o meu querido pai me deram foi a de termos uma família muito unida.
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Santo? Jorge Jesus reconheceu ter aprendido muito em sua passagem pelo Flamengo — Foto: André Durão
Jorge Jesus do Flamengo
Hoje se voltar a Portugal, volto diferente. Volto como um treinador do Flamengo. Não como um treinador do Benfica ou do Sporting. Para mim, a maior vitória da minha passagem pelo Flamengo foi essa. Foi a minha principal vitória como treinador.
Eu sempre achei que o Flamengo era o clube certo no Brasil para eu treinar, porque acho que tinha a minha cara. E as coisas conjugaram, ligaram. Mas isso também porque temos um elenco com muita qualidade e que desde o primeiro dia disseram: este é o caminho em que a gente acredita. E vamos pra cima deles.
Título mundial
Sonhar a gente vai sonhar, sabendo que dos três (títulos) é o mais difícil.
O Liverpool é melhor do que o Flamengo?
Para todo mundo é melhor. Pra mim não é. E o que vale mais é pra mim. Os outros podem pensar que o Liverpool é melhor, mas se nós chegarmos à final vamos ver quem é o melhor. E eu acredito que o melhor vai ser o Flamengo. Mas é o título mais difícil para vencer.
O que vai levar do Brasil ao fim do trabalho no Flamengo
Somos um pouco daquilo que é nosso convívio. E o povo brasileiro é um povo amoroso. Na Europa é muito a correr, muito individualismo. É muito mais difícil trabalhar com os jogadores na Europa. Eu fui modificando porque percebi que não precisava ser tão “agressivo verbalmente” para querer as coisas.
Esportivamente vou levar uma história que nunca mais vai ser apagada. E no Brasil aprendi muito a olhar para a vida. Vocês têm uma forma de olhar para a vida completamente diferente do europeu. São mais apaixonados, vivem o dia a dia sempre com um sorriso nos lábios, mesmo às vezes com alguma dificuldade. E isso vai me ajudar no dia em que eu estiver em Portugal lá na minha casinha olhar a vida muito mais sorridente, muito mais aberto, muito mais tolerante. Hoje sou mais tolerante e sorrio muito mais. O povo brasileiro me ensinou nestes seis meses a olhar para a vida de uma maneira diferente.