Na Europa em busca de técnico para o Flamengo, Braz quer blindar futebol de política em 2022 e promover esperada reformulação

Vice-presidente de futebol com mais tempo no cargo na história do Flamengo, tanto nesta passagem como somando as anteriores, Marcos Braz viveu suas maiores glórias no clube desde que voltou à cadeira, em 2019. No entanto, os três anos na gestão de Rodolfo Landim se revelaram desafiadores desde o princípio, com o trágico incêndio no Ninho, e terminaram com a sensação de que o trabalho que resultou em muitos títulos no início se deteriorou após a saída do técnico Jorge Jesus e os efeitos da pandemia. Garantido no cargo pelo presidente, o dirigente pretende blindar ainda mais o futebol da política, e fazer os ajustes necessários para voltar ao caminho das conquistas.

O entendimento do vice de futebol é que os primeiros três anos foram sujeitos a mais concessões políticas, e que nesse segundo mandato será necessário agir ciente de que haverá menos paciência interna e externa. O desgaste inerente ao cargo fez Braz promover uma reflexão nos últimos dias antes de agir em busca de um novo treinador. O recado desde a eleição era que não haveria compromisso com o erro.

Se acertou mais do que errou nas contratações de jogadores, o vice de futebol viu a pasta perder qualidade com as reformulações e a falta de valorização de seus funcionários. Durante o processo eleitoral, houve ainda reclamações de falta de profissionalização, com indicações de profissionais por conveniência políticas e por amizade com alguns atletas. Braz reconhece que precisa ser mais duro e que cortes, se necessários, serão feitos para oxigenar o departamento.

A reavaliação do trabalho passa por todas as áreas do clube, além do futebol. Mas as mudanças só ocorrerão com o aval da próxima comissão técnica. Os nomes na mesa no tour europeu são majoritariamente de portugueses, com Carlos Carvalhal ainda favorito. A diretoria do Flamengo não revelou planos A, B e C, justamente para não causar frustração. Ao menos, há otimismo com o orçamento que prevê mais recursos para investir no técnico e no futebol em geral. A contratação de jogadores também depende da autorização do novo treinador. Por isso a aparente inércia no mercado.

Braz indicou internamente que não tem pretensões eleitorais em 2024. Mas não deixou de notar a escalada de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, da vice de relações externas para a presidência do Conselho de Administração. Nem em se incomodar com a permanência do dirigente no Conselhinho do Futebol. No entanto, a postura tem sido de se manter neutro, sem qualquer rusga pública ou até nos encontros recentes na Gávea durante o processo eleitoral. Ao receber o voto de confiança de Landim, Braz se mantém fiel ao presidente, a quem caberá assumir nos próximos anos se pretende validar a candidatura de Bap. Se assim acontecer, Braz provavelmente romperá com a situação, e pode apoiar o atual vice-geral, Rodrigo Dunshee, ou outro candidato.  Dunshee saiu mais fraco de todo o processo, mas o vice de futebol, que não pertence a grupo político, entende que deve se manter independente e não provocar atritos, a não ser que invadam seu  espaço.

Fonte: O Globo