Está lá no dicionário. Precoce: "Que se produz antes do tempo normal". Antes mesmo de estrear como profissional fazendo gol e realizando um sonho com a camisa do Flamengo (veja no vídeo acima) , Guilherme saiu de casa aos 13 anos para morar sozinho em outra cidade e aos 15 já treinava com adultos no Azuriz, time que disputa na elite do Campeonato Paranaense e em 2002 chegou a jogar a Série D do Brasileiro.
O garoto que hoje tem 18 e surpreendeu os rubro-negros ao entrar e fazer o primeiro gol da vitória por 2 a 1 sobre o Cuiabá, na Arena Pantanal, há um mês, virou uma espécie de xodó de Filipe Luís no Flamengo . O técnico o conheceu no sub-20, transformou-o em titular e em peça de confiança.
- É natural no primeiro ano de sub-20 você começar no banco e ir adquirindo seu espaço durante o ano. Quando o Filipe chegou eu era reserva, não estava jogando, não estava tendo tanta oportunidade, e ele foi um cara que acreditou muito no meu potencial e me colocou para jogar. Se não me engano, no segundo jogo que ele assumiu o sub-20 no Brasileiro, contra o Bahia, me colocou de titular. E fui feliz nesse jogo, joguei muito bem, dei uma assistência, e a partir daí eu não saí mais. Joguei praticamente todos os jogos com ele de titular.
E não é exagero. Ele só não jogou na estreia de Filipe Luís no sub-20. Nas outras 16 partidas, esteve em todas. Foi quem mais atuou sob o comando do treinador na categoria e, nesse período, fez seis gols e deu quatro assistências. Camisa 10 na base, o meia tem em Arrascaeta a sua grande inspiração.
O futuro vai dizer se Guilherme foi um baita "achado" do Flamengo . Só não lhe perguntem como o Rubro-Negro o encontrou treinando entre os adultos do Azuriz aos 15 anos. Tímido e nada curioso, o meia seguiu o fluxo sem questionamentos, talvez para não acordar do sonho.
- Não sei porque me contaram em cima da hora. Foi uma sexta, o presidente foi lá falar comigo que iria fazer uma avaliação já na segunda. Então foi muito em cima da hora, não deu nem tempo de pensar muito. Até hoje não sei dizer muito se foi o Flamengo que me achou, se foi o Azuriz que me indicou... Só sei que deu certo, graças a Deus (risos).
Natural de Mandaguari, cidadezinha no interior do Paraná com cerca de 40 mil habitantes, Guilherme voltou para lá nessas férias com outro cenário: virou celebridade no município. E está aprendendo aos poucos a driblar também a timidez.
- Todo lugar que eu vou me param para tirar foto, assinar camisa... Mas está sendo legal, sempre sonhei com isso, estou gostando (risos).
Guilherme chegou ao Flamengo em 2021, assinou o primeiro contrato profissional em 2023, com multa de 80 milhões de euros (R$ 505 milhões), e estreou no time principal em 2024. E vai jogar o Carioca de 2025: o meia está no grupo que se reapresenta no dia 26 e disputará as rodadas iniciais do Estadual enquanto o elenco principal estará em pré-temporada nos Estados Unidos.
Veja a entrevista completa com Guilherme:
Quando começou a jogar nas escolinhas da sua cidade, sempre jogou de meia ou passou por outras posições?
- Sempre joguei nessa posição. Cheguei até a jogar de atacante também um pouquinho, mas a maior parte foi de meio-campo mesmo.
Você foi visto por um olheiro do Azuriz em um torneio no interior de São Paulo, né? Teve algum jogo específico seu que acha que fez ele te chamar?
- Esse jogo ficou bem marcado para mim porque eu fiz dois gols e dei uma assistência. Atuei bem não só nesse jogo, mas em outros que ele acompanhou. Mas esse ficou marcado e fez ele me chamar para fazer avaliação no Azuriz. Foi contra um time do México, porque era tipo uma Sul-Americana, tinha times de outros países. Tinha 13 anos.
É verdade que na época da Pandemia da Covid-19 você voltou para a sua cidade e pensou em parar?
- Foi um período bem difícil para mim porque a gente ficou 2020 todo parado, treinava online. Mexeu bastante com a minha cabeça. Cheguei a trabalhar aqui com a minha mãe no escritório de advocacia para conseguir um dinheirinho também (risos). E o Robson (Ramos, vice-presidente do Azuriz) foi um cara que me ajudou bastante, nunca deixou eu desistir. Eu queria parar porque estava bem difícil, mas ele sempre me incentivou. Em 2021 ele me chamou para voltar e ficar um período com o profissional treinando.
E aí quando você volta para o Azuriz foi para treinar com o profissional, mesmo tendo só 15 anos?
- Eu tinha acabado de fazer 15, foi um momento muito bom para mim, uma experiência bem interessante. Fiz bastantes amigos nessa época, os caras me trataram bem. Acho que eles já tinham em mente alguma coisa para mim, mas não me contaram nada. Não sei se já o Flamengo , porque eles não me falaram nada. Só falaram para voltar porque eu não voltei junto com o grupo sub-15, voltei já para o profissional. Acho que completou um mês de treino. Fui sem saber muito o que iria acontecer, pouco tempo depois me contaram que eu iria para o Flamengo fazer uma avaliação.
- No começo fiquei meio assustado porque para mim era uma coisa muito distante: Flamengo , Rio de Janeiro... Fiquei meio espantado, mas ao mesmo tempo muito feliz. Corri para contar para os meus pais, fiz uma ligação para eles. Todo mundo me desejando muita sorte e me apoiando.
E como o Flamengo te achou?
- Também não sei porque me contaram em cima da hora. Foi uma sexta, presidente foi lá falar comigo que iria fazer uma avaliação já na segunda. Então foi muito em cima da hora, não deu nem tempo de pensar muito. Até hoje não sei dizer muito se foi o Flamengo que me achou, se foi o Azuriz que me indicou... Só sei que deu certo, graças a Deus (risos).
Sua família se mudou com você? Passou por alguma dificuldade de adaptação?
- Tanto no Azuriz como no começo no Flamengo eu sempre fui sozinho. Dividia apartamento no começo com alguns meninos lá. Minha família se mudou esse ano, agora que eles estão morando comigo. Mas da trajetória do Azuriz até eles se mudarem agora eu sempre fiquei longe deles. As pessoas às vezes veem que fiz gol no profissional e tudo e não sabem o que aconteceu por trás disso.
- Foi bem difícil. Quando saí de casa para morar sozinho no Azuriz tinha 13 anos, quase 14. Foi um período muito complicado porque nunca tinha ficado longe deles. Meu avô no começo me acompanhou para eu não ir totalmente sozinho, foi um cara que me ajudou bastante também. Com 13 a gente ainda não podia alojar, então ficava em uma pensão com outros meninos.
No Flamengo você já chega como camisa 10 na base?
- No começo ainda atuei como 8. Joguei o sub-15 o ano todo, vez ou outra como 10. Mas fui ficar nessa posição fixa a partir do sub-17, só como camisa 10.
Qual jogador é sua maior inspiração na posição?
- Falo para todo mundo que me pergunta que é um companheiro de equipe, que é o Arrasca. E que hoje está com a 10 mesmo. Me inspiro muito nele, gosto bastante do futebol dele, sempre procuro ver os vídeos e aprender com ele. Eu tenho essa felicidade de trabalhar com ele, aprender diariamente. Eu como sempre via os vídeos dele e hoje estar treinando junto é uma felicidade muito grande. Sempre que eu posso trocar um papo com ele, aprender uma coisinha, é muito bom para mim.
E ele sabe que você é fã dele?
- Então, eu não sei se ele sabe disso. Mas vou procurar falar isso para ele (risos).
Gostou do Arrascaeta virar o camisa 10 em 2025?
- Fiquei muito contente quando eu vi porque ele é um cara merecedor de tudo isso. Por tudo que ele já fez pelo Flamengo , ajudou muito o grupo. Trabalhou muito para chegar nesse nível. E é uma responsabilidade muito grande vestir a 10 do Flamengo , mas acho que ele está preparado. Fico muito feliz por ele e desejo toda sorte do mundo para ele.
A camisa 10 na base também é pesada?
- É pesada também, tem uma responsabilidade grande. Quem vai assistir aos jogos da base e vê um camisa 10 espera que ele vai decidir o jogo, fazer algo diferente, então é uma responsabilidade muito grande.
O Filipe Luís só te conheceu no sub-20, né? Qual foi sua primeira impressão dele?
- Quando ele chega no sub-17 eu já estava no sub-20. Desde quando ele chegou no sub-17 eu passei a acompanhar mais ainda a categoria. Sempre gostei muito do estilo de jogo dele, me identifico muito. E acho um cara sensacional, uma pessoa além de tudo incrível. Já imaginava, torcia para ele subir para o sub-20. Sempre conversava com meus pais que poderia ter essa possibilidade dele ir para o sub-20 e a gente se encontrar. Poderia dar certo e deu certo (risos).
No futebol normalmente o primeiro ano quando um garoto sobe de categoria ele passa como reserva. Você já era titular antes de o Filipe Luís assumir o sub-20?
- É natural no primeiro ano de sub-20 vc começar no banco e adquirindo seu espaço durante o ano. Quando o Filipe chegou eu era reserva. Não estava jogando, não estava tendo tanta oportunidade, e ele foi um cara que acreditou muito no meu potencial e me colocou para jogar. Se não me engano, no segundo jogo que ele assumiu o sub-20 no Brasileiro, contra o Bahia, me colocou de titular. E fui feliz nesse jogo, joguei muito bem, dei uma assistência, e a partir daí eu não saí mais. Joguei praticamente todos os jogos com ele de titular.
Ele te usou em praticamente todos os jogos. Como é ser um cara de confiança do treinador assim?
- Para mim é uma honra muito grande, sempre o acompanhei muito, desde que ele era jogador. E quando começou a ser treinador fui fã dele. Fico feliz por ele ter essa confiança em mim. Com certeza é uma responsabilidade também, tenho que mostrar porque ele confia tanto em mim. Mas eu trabalho para isso, apresentar o meu melhor. É uma felicidade muito grande ele ter essa confiança no Guilherme jogador e pessoa também.
O que te marcou mais, o título mundial sub-20 ou a estreia com gol no profissional?
- Cara, essa é muito difícil de responder (risos). Mas eu acho que a estreia, por ser algo que sempre sonhei desde criança, desde quando comecei a jogar, sempre sonhei com esse momento. E sempre tive isso na cabeça, queria estrear fazendo gol. Pude realizar, então ficou muito marcado. Mas o título do sub-20 também foi espetacular.
Você já sabia que ia entrar naquele jogo do Cuiabá? Ficou nervoso?
- A semana acho que foi muito boa, treinei muito bem, ele prioriza muito isso. Sempre fala isso para a gente: o que decide quem vai jogar e quem pode entrar é a semana de treinos. Eu estava muito confiante, esperava que ia entrar nesse jogo. Ele não tinha falado nada, não tinha certeza que iria estrear, mas eu tinha esse pensamento e estava muito preparado.
- Na hora que ele me chamou foi um choque porque foi muito rápido, se não me engano foi com 10 ou 12 minutos do segundo tempo, não deu tempo nem de ficar nervoso. Só estava concentrado em entrar. Tinha até esquecido que meu sonho era estrear fazendo gol, só estava pensando em fazer um bom jogo. Na hora do gol foi uma explosão de sentimentos, um momento de realização muito grande.
O Filipe Luís falou com você depois do jogo?
- Ele só agradeceu por ajudá-lo. Pô, eu que teria que agradecer a ele (risos).
Depois dessa estreia, como foi a volta para Mandaguari agora nas férias?
- Então, aqui está uma loucura. Cidade pequena, acho que são 40 mil habitantes, acho que todo mundo me conhece. Foi diferente porque nas outras vezes que eu vinha de férias alguns me conheciam, mas nem todos. Como agora eu estreei no profissional e fiz gol, pessoal me conhece bastante. Foi bem diferente, não esperava que seria assim, mas está sendo bom. Todo lugar que vou pessoal me para para tirar foto, assinar camisa. Mas está sendo legal, sempre sonhei com isso, estou gostando (risos).
Qual sua meta para 2025?
- Tenho em mente que quero fazer um excelente ano, ter bastante minutagem. Atuar bem quando tiver minhas oportunidades, posso dizer que vou estar pronto, vou trabalhar bastante para poder contribuir com o Flamengo e ajudar a seguir a minha carreira a melhor possível.
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