Hoje à noite, o Flamengo enfrenta o Estudiantes no Maracanã, pelas quartas de final da Libertadores. Se houver um pênalti ou um lance perigoso a favor da equipe carioca, é bem provável que os gritos de “kiricocho!” ecoem do banco de reservas adversário. Essa expressão, uma das lendas urbanas mais conhecidas do futebol mundial, é associada a um suposto azar que atinge os oponentes, especialmente em cobranças de penalidades.
A Origem da Lenda
A história do “kiricocho” remonta a 1982, em La Plata, onde o Estudiantes vivia um jejum de 15 anos sem conquistar o campeonato nacional. O termo é atribuído a um torcedor azarado, conhecido como Kiricocho (ou Quiricocho, com variações na grafia), que costumava frequentar os treinos da equipe. A lenda narra que, sempre que ele estava presente, algo ruim acontecia aos jogadores. Naquele período, o renomado treinador Carlos Bilardo estava em sua terceira passagem pelo clube e, ao perceber a mística que cercava o torcedor, decidiu incorporá-la ao ambiente do time.
Bilardo e sua comissão técnica passaram a incentivar Kiricocho a dar tapinhas nas costas dos elencos adversários que enfrentavam o Estudiantes. O resultado foi surpreendente: a equipe conquistou o título argentino daquele ano, sofrendo apenas uma derrota em casa, para o Boca Juniors. Em 1983, Bilardo deixou La Plata para assumir a seleção argentina, onde se tornaria famoso por levar a equipe ao título da Copa do Mundo de 1986, perpetuando a mística do “kiricocho”, mesmo sem manter contato com o torcedor.
A Difusão da Superstição
O grito de “kiricocho!” não ficou restrito ao futebol argentino. Durante sua passagem pelo Sevilla, em 1992, Bilardo descobriu que a expressão havia cruzado o oceano, sendo adotada por compatriotas como Diego Maradona e Diego Simeone, atual técnico do Atlético de Madrid. Em uma entrevista, Bilardo comentou: “Era um bom rapaz, mas não o vi mais. Na última vez que comandei o Estudiantes (em 2003), perguntei por ele e ninguém sabia de nada”.
A lenda do “kiricocho” ganhou notoriedade em palcos internacionais. Em 2021, durante um confronto entre Sevilla e Borussia Dortmund, o atacante Erling Haaland e o goleiro Bono protagonizaram uma discussão sobre a superstição. No mesmo ano, o zagueiro italiano Giorgio Chiellini utilizou o grito no momento decisivo do pênalti perdido por Bukayo Saka na final da Eurocopa, que culminou na vitória da Itália.
Novas Revelações sobre Kiricocho
Em 2023, o canal argentino TyC Sports foi a El Mondongo, bairro de La Plata, em busca de mais informações sobre a figura de Kiricocho. A reportagem revelou que seu nome verdadeiro era Juan Carlos Revagliatti, que atuava como “anotador” no mercado ilegal de apostas da época, ao lado de seu pai. O significado do apelido permanece desconhecido. De acordo com a matéria, Revagliatti tinha uma leve deficiência cognitiva e foi acolhido pela comunidade local, especialmente pelos amantes do futebol. A mística do azar, nesta nova versão, estaria ligada à dificuldade em acertar apostas com Kiricocho anotando.
Revagliatti viveu uma vida pessoal solitária, sem filhos, e faleceu em 2019, aos 70 anos. No entanto, sua memória permanece viva no mundo das superstições, um elemento intrínseco ao futebol, que continua a fascinar torcedores e jogadores ao redor do globo.