Gol do Pet, 20 anos: como a física explica gol. Entenda se a bola era defensável

Poucos momentos do futebol envelheceram tão bem na memória coletiva como a cobrança de falta de Petkovic, aos 43 minutos do segundo tempo, que deu o título do Carioca de 2001 e o tricampeonato estadual ao Flamengo. Naquele 27 maio de 20 anos atrás, o meia acertou um chute que pareceu impossível de ser defendido por Helton, goleiro do Vasco.

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“Petkovic bateu com categoria, a bola fez uma curva no ar e tocou levemente a mão de Helton antes de entrar no ângulo esquerdo: Flamengo 3 a 1. A mística camisa 10, que Zico imortalizou e Rodrigo usou na conquista de 1999, entrou em campo mais uma vez. Festa rubro-negra no Maracanã iluminado”, escreveu a reportagem do jornal O GLOBO do dia seguinte, ao descrever a performance do jogador.

Como foi o gol de Petkovic Foto: Editoria de arte
Como foi o gol de Petkovic Foto: Editoria de arte

— Helton fez o que a gente praticava nos treinos: não adivinhar e sair primeiro, já que o Pet tinha habilidade de bater nos dois lados, tanto por cima da barreira, como no canto do goleiro — lembra o técnico PC Gusmão, que, à época, era preparador de goleiros do Vasco: — Ele fez tudo, mas não conseguiu pegar. Era realmente uma bola muito difícil.

Como a ciência explica esse gol? Por meio do Efeito Magnus, fenômeno que faz com que a rotação de um objeto altere sua trajetória em um fluido, líquido ou gás — como quando um jogador chuta uma bola com efeito e ela faz uma curva no ar. A teoria é conhecida por batedores de falta e influenciou a criação da Jabulani, bola da Copa do Mundo de 2010, conhecida por mudar de trajetória com facilidade.

Efeito Magnus Foto: Editoria de arte
Efeito Magnus Foto: Editoria de arte

— Quando a bola roda muito rápido, se cria uma diferença de pressão nas laterais. É essa força extra que surge no ar, o Efeito Magnus, que a empurra para o gol. Quanto maior a rotação, mais esse fenômeno está presente — diz Ricardo Fagundes, professor de Física do Colégio Pedro II.

Petkovic comemora vitória do estadual Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo
Petkovic comemora vitória do estadual Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo

Mão trocada

Mas era possível pegar aquela bola? Segundo o professor Ricardo Fagundes, sim. Mas era uma tarefa extremamente complicada:

— Helton não pula na bola direto. Dá um passo à esquerda, olha, vê que não dá e pula. O chute dura 1,1 segundo, a bola muda de trajetória faltando 0,5 segundo. Ele tomou sua decisão faltando 0,5 segundo, o que é muito difícil, necessita muita potência muscular para agarrar. Não foi erro, é difícil imaginar que a bola vai sair e voltar.

Possibilidades de a bola entrar no gol Foto: Editoria de arte
Possibilidades de a bola entrar no gol Foto: Editoria de arte

Há um consenso entre o esporte e a Física sobre como o goleiro poderia ter defendido o chute.

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— Quando uma bola vai na gaveta assim, o ideal é pular com a mão trocada. A chance de sucesso seria maior, porque o braço fica superior ao centro de massa, consequentemente, mais tempo no ar e mais alto — diz Fagundes.

PC Gusmão concorda:

— A única reação possível era trocar a mão. Em vez de ir com a esquerda, optar pela direita, para ir em um canto mais alto. Mas estamos no campo do “poderia”.

Vitor Acioly, doutor e professor em Física, calculou as chances de a bola entrar no gol:

— Ela entraria em um lado ou no outro, ou seja: apenas duas em 32 possibilidades.

Fonte: O Globo
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