Há 20 anos, Petkovic fez o golaço que o tornou um dos grandes ídolos da história do Flamengo . Aos 43 minutos do segundo tempo, o sérvio cobrou a falta que sacramentou o tricampeonato carioca do clube rubro-negro sobre o arquirrival Vasco .

Os detalhes daquele jogo estão vivos para o ex-atacante Reinaldo, um dos poucos jogadores e disputar as três finais do Estadual entre 1999 e 2001. Em entrevista à ESPN , ele revelou a importância do técnico Zagallo para a virada inacreditável.

"Eu sou um dos caras mais felizes do mundo porque sou um dos únicos que jogou as três finais. Tinha uma pressão muito grande para o tricampeonato porque naquela época tinha muita rivalidade e provocações com o Vasco. A gente não estava fazendo uma boa temporada, eram muitos altos e baixos."

O Flamengo poderia ter sido campeão antes, mas perdeu a final da Taça Rio para o Vasco, que vinha em uma fase iluminada nos últimos anos. Campeão brasileiro (97 e 2000), da Libertadores (98), da Mercosul (99) e vice do Mundial (2000), a equipe tinha craques como Juninho, Helton, Euller e Romário.

"Eles vinham ganhando tudo nos últimos anos e a rivalidade era enorme. Tudo que aconteceu valorizou ainda mais. Não senti que os jogadores deles menosprezaram a gente em momento algum. O Eurico era folclórico, amava o Vasco e sabia promover o espetáculo. Falava algumas coisas, mas já éramos cascudos por jogar no Flamengo. Nossa maior motivação era dar alegria aos torcedores. O bom vencedor tem que saber respeitar o adversário", contou Reinaldo.

Na primeira partida da decisão, vitória cruz-maltina por 2 a 1. No duelo de volta, o time rubro-negro precisava vencer por dois gols de diferença para ser campeão.

"Chegamos à final e muita gente não acreditava, principalmente a imprensa. O time deles era muito forte no papel, vinha de um título brasileiro com Romário, Juninho. De nomes era teoricamente muito melhores do que a gente. Só que tínhamos a força da torcida e do Maracanã. No primeiro jogo tudo deu errado, e o Vasco poderia ter matado o campeonato no primeiro jogo. Eles poderiam ter feito três ou quatro gols".

"Na semana do jogo de volta entrou o dedo do mestre Zagallo. A gente não estava muito bem de relacionamento: Pet, Edílson e pratas da casa. O grupo estava meio que rachado. O Zagallo, com toda a experiência, falou: ‘Chegou a hora de parar com vaidade. Vamos jogar em prol dos 35 milhões de torcedores do Flamengo. Vamos nos unir como uma família e vamos ser tricampeões no Maracanã. Vamos fazer uma p... semana de treinamento aqui, e eu acredito. Já passei por muitas adversidades na minha carreira e consegui reverter. Eu confio em vocês. Esse time é bom pra c...! Pet e Edílson são as nossas referências e tenho certeza que vão decidir para a gente’", recordou o atacante.

O que quase ninguém ficou sabendo, nem mesmo os jogadores do Flamengo, é que durante a semana Petkovic teve uma briga com os diretores do clube. Ele cogitou não jogar a decisão, mas foi convencido por um amigo a mudar de ideia um dia antes da partida.

"O Pet era tão profissional que não deixou transparecer a situação. Só ficamos sabendo depois da final. Eu disse que se soubéssemos que o Pet corria o risco de não jogar acho que ia dar insônia em todo mundo (risos). Ele era o nosso craque, junto com Edílson. A pressão ao aumentar porque tínhamos de derrota contra o maior rival. Ainda bem que a diretoria blindou o grupo e conseguiram resolver isso", contou Reinaldo.

Precisando do resultado, o Flamengo abriu o placar com Edílson, em cobrança de pênalti. Juninho Paulista empatou para o Vasco ainda no primeiro tempo.

"No intervalo a gente estava um pouco inseguro, mas no vestiário o Pet, o Edílson e os cara mais experientes bateram no peito: 'Vamos voltar, agora é tudo ou nada. Temos 45 minutos para fazermos dois gols e vamos ser campeões. Corre pra gente e joga a bola pra gente que vamos decidir'. A gente viu que os caras acreditavam e a torcida também, aquilo nos inflamou", contou Reinaldo.

O Flamengo fez 2 a 1 aos 10 minutos da etapa final com Edílson. O tempo foi passando, mas o time rubro-negro não conseguia fazer o terceiro gol. A situação mudou aos 43 minutos, quando Fabiano Eller derrubou Edílson a mais de 30 metros do gol.

"No final do jogo me deu um desespero, olhei para a arquibancada e pensei: 'Imagina essa torcida ir embora chorando'. Ai aconteceu a falta de longe. A gente treinava muito aquele lance com o Pet cruzando a bola para o Juan jogar de cabeça no meio da área. Repara que o pessoal estava todo posicionado para a jogada ensaiada. Só que o Pet foi direto para o tudo ou nada porque era a bola do jogo".

Reinaldo, que havia saído no segundo tempo para entrada de Roma, viu os minutos finais do banco de reserva.

"A gente começou a pedir ajuda divina (risos). Aquela imagem do Alessandro com as duas mãos orando é histórica. Só pedia para que Deus colocasse a bola na gaveta (risos)".

O camisa 10 correu para a bola e acertou a gaveta do arqueiro Helton. Na comemoração, com os braços levantados, o sérvio desabou de costas no chão. Festa dos flamenguistas no Maracanã!

"O Pet foi iluminado porque bater uma falta de tão longe na gaveta, aos 43 minutos do segundo tempo... Ele trabalhava muito. Por semana, ele batia umas 60 faltas e mereceu demais", afirmou.

"Esse título é um dos mais importantes da história do clube. Aquilo ali ainda está marcado na minha memória não vai sair nunca mais. Momento inesquecível para todo mundo", finalizou.