O pênalti decisivo batido por Wallace Yan, de apenas 20 anos, na eliminação do Flamengo diante do Atlético-MG nas oitavas de final da Copa do Brasil reacendeu um velho debate: quem deve cobrar em momentos de máxima pressão? A escolha do técnico Filipe Luís pela jovem promessa, pouco experiente e recém-revelada na base rubro-negra, foi alvo de críticas nas redes sociais. E os números ajudam a entender por que a aposta em jovens, embora comum, nem sempre é a mais segura.
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Um levantamento inédito feito pelo GLOBO, com base nas 192 cobranças realizadas em disputas de pênaltis nas últimas seis edições da Copa do Mundo — de 2002 a 2022, todas deste século —, revela uma tendência clara: jogadores mais experientes costumam ter desempenho melhor quando a pressão é máxima, como no maior torneio de futebol do planeta. São os mais jovens que lideram a estatística de erros.
Entre os atletas com até 21 anos — exatamente o grupo de Wallace Yan —, o aproveitamento foi de apenas 54,6%: seis acertos em 11 tentativas. É a pior taxa entre todas as faixas etárias analisadas. Já entre os jogadores de 22 a 30 anos, o desempenho sobe para 64,4% (89 acertos em 138 cobranças). A evolução continua entre os atletas de 31 a 34 anos, que converteram 75% de seus pênaltis (27 em 36). É só a partir dessa faixa que os jogadores superam a média geral de dois gols a cada três cobranças. Entre os mais veteranos, acima de 34 anos, o aproveitamento foi de 100%: sete cobranças, sete gols.
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O dado curioso, porém, está na média de idade dos batedores. Ela praticamente não muda entre quem converte (28,0 anos) e quem erra (27,3 anos). O que reforça que não é a idade em si que define a estatística, mas sim que as pontas da curva — os muito jovens e os muito experientes — fazem toda a diferença.
Curiosamente, o outro pênalti desperdiçado pelo Flamengo em Belo Horizonte foi cobrado por Samuel Lino, de 25 anos, o segundo mais jovem entre os cinco escolhidos. Os três que converteram (Arrascaeta, Jorginho e Saúl) têm mais de 30 anos.
Apesar do erro, Wallace não ficou sozinho. O meia Jorginho, companheiro de equipe e um dos mais experientes do atual elenco rubro-negro, saiu em defesa do garoto logo após a partida:
— Eu já errei pênalti. Quem não errou? Todo mundo que joga futebol e bate pênalti vai errar em algum momento. O importante é levantar a cabeça. Com certeza, eles têm o apoio do grupo, que confia muito neles. Trabalhar para que, na próxima, acertem. Estaremos ao lado deles para não caírem.
A solidariedade veio também de um dos maiores ídolos da história do Flamengo. Júnior usou as redes sociais para contar um episódio emblemático de sua carreira e defender Wallace com firmeza. Ele relembrou o erro de Tita, outro craque formado na base rubro-negra, que falhou em um pênalti decisivo e mesmo assim se tornou um dos maiores da história do clube:
“Espero que o clube tenha, através do Filipe Luís e de sua comissão técnica, as mesmas preocupações que tivemos para não perder um jovem que já mostrou que poderá vir a ser um ‘novo’ Tita, pela bola, pelo jeito provocativo e pelas conquistas que poderão vir”, postou.
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