Ferj rompe contrato de transmissão com Flow após apresentador defender que lei permita partido nazista

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) decidiu encerrar a parceria com o canal de streaming Flow Sport Club para transmissão de 16 partidas do Campeonato Carioca de 2022. Os direitos foram cedidos ao canal pela Sportsview, que adquiriu os direitos para a internet junto à entidade.

O motivo foi um vídeo de um debate veiculado em um podcast do canal Flow com um dos integrantes do canal, Bruno Aiub, chamado de Monark, defendendo entre outras coisas que a lei deveria permitir a criação de um partido nazista no Brasil.

Taça do Campeonato Carioca: torneio não será mais exibido no Flow Sport Club — Foto: Vicente Seda
1 de 1 Taça do Campeonato Carioca: torneio não será mais exibido no Flow Sport Club — Foto: Vicente Seda

Taça do Campeonato Carioca: torneio não será mais exibido no Flow Sport Club — Foto: Vicente Seda

A Ferj, em nota, informou:

"A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, defensora da igualdade, do respeito e contrária a qualquer tipo de preconceito, anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Sport Club que transmitia jogos do Campeonato Carioca de 2022, por apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida".

A Sportsview havia repassado o direito de transmissão dos jogos que são exibidos na TV aberta (Record) para algumas plataformas de streaming: Flow Sport Club, Casimiro, Gaules e Ronaldo. Encerrado o contrato com o Flow, os demais canais seguem normalmente transmitindo uma partida por rodada.

Entenda o caso

A declaração de Monark ocorreu em podcast no qual a entrevistada é a deputada federal Tabata Amaral, que rebate o apresentador. O deputado federal Kim Kataguiri, líder do MBL, chega a concordar com um trecho da fala de Monark. Em outro momento, Kataguiri diz que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.

No vídeo, que circula nas redes sociais, Monark diz:

- Eu acho que o nazista, tinha de ter o partido nazista reconhecido pela lei. As pessoas não têm o direito de serem idiotas?

Depois de ouvir da deputada Tabata Amaral que a existência de um Partido Nazista colocaria em risco a existência dos judeus, Monark comentou.

- Dentro da expressão, eu acho que a gente tem de liberar tudo. Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser.

Monark se manifestou na tarde desta terça-feira após a repercussão negativa das declarações. Disse que estava sob efeito de álcool, pediu desculpas, compreensão, afirmou ter sido "insensível" e convidou membros da comunidade judaica para conversar e "explicar mais sobre toda a história".

O vídeo gerou revolta nas redes sociais e recebeu muitas críticas. O jornalista Guga Chacra, da GloboNews, lembrou os milhões de mortos no Holocausto em seu perfil no Twitter:

- Um imbecil este rapaz com podcast popular que defende a legalização do Partido Nazista no Brasil. Os nazistas mataram 6 milhões de judeus em escala industrial no Holocausto, além de centenas de milhares de romas (ciganos) no Porajmos.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também emitiu uma nota oficial de repúdio às declarações de Monark.

- A CONIB (Confederação Israelita do Brasil) condena de forma veeemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera “inferiores”. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica.

Zico que participaria do quadro "Flow Sport Clube", nesta terça-feira, cancelou a entrada no podcast, conforme afirmou Junior Coimbra, filho do ex-jogador, em uma rede social.

A Puma, que já fez ações comerciais pontuais com o canal Flow, emitiu nota oficial se desvinculando do canal.

- Discordamos e repudiamos veementemente as declarações e ideias expressas durante o último Flow Podcast, transmitido nesta segunda-feira (7). Elucidamos ainda que não somos patrocinadores do podcast, tendo feito no passado somente uma ação pontual e isolada. Já havíamos pedido para nosso logo ser retirado como patrocinadores e reforçamos isso novamente.

A Mondelez Brasil, detentora da marca de chocolate BIS, também se pronunciou no mesmo sentido. A empresa disse não compactuar com qualquer tipo de discriminação e que somente fez ações pontuais, sem patrocinar o canal Flow.

Fonte: Globo Esporte
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