"Espiadinha" faz 20 anos, e Douglas Silva lembra título pelo Flamengo: "Não deixa o Beto jogar"

O Carioca de 2004 reserva incontáveis lembranças para a torcida do Flamengo . Foi o campeonato em que Felipe "reencarnou" Garrincha, dos inesquecíveis gols de Roger Guerreiro sobre o Fluminense e do hit "Poeira", de Ivete Sangalo. Outra imagem, no entanto, também ficou marcada naquela campanha: a irônica espiadinha de Douglas Silva, que, na finalíssima da competição, aproximou-se do técnico do Vasco para ouvir uma orientação a Beto. Douglas não se limitou a bisbilhotar o papo de Geninho. Botou a mão na boca e deu uma risadinha.

A divertida cena provocada por Douglas Silva ganhou ares de vingança para um torcedor que convivera, dias antes, com provocações de Eurico Miranda - o dirigente afirmou que já tinha comprado barris de chope para a festa vascaína que não aconteceu. Além disso, Douglas assistiu a uma reportagem no programa Globo Esporte em que Geninho orientava o volante vascaíno Coutinho a "chutar o tornozelo" de Felipe, craque da competição.

A conquista completou 20 anos na quinta-feira, e Douglas, hoje aos 44, dá risada da situação. Apesar de se divertir com a história, ele garante que em nenhum momento debochou de Beto, ídolo dos rubro-negros e de quem se tornou amigo.

- Aquela situação acontece na preleção do Abel em que ele fala para mim: "Douglas, aonde o Beto for, você vai atrás dele. Não deixa o Beto jogar". E eu levei ao pé da letra. Naquele lance, chega até a ser engraçado (risos), a bola estava parada em algum lado do campo, e o Geninho chama o Beto para passar algumas instruções. E eu vou seguindo o Beto, vou andando atrás dele, paro e chego a ouvir algumas situações ali.

- O Geninho fala para o Beto: "Eu te avisei que o Douglas joga firme e que o Douglas não ia dar mole". Tanto que eu andei atrás do Beto o jogo todo, tem alguns lances em que eu dou umas chegadas firmes nele. E aquele gesto que faço gerou não uma polêmica, mas uma situação engraçada. Faço um gesto com rosto e dou uma risada com ar de deboche, mas não foi debochando do Beto. E o gesto que faço é que como se já tivesse três no placar geral. Vencemos o primeiro jogo de 2 a 1, e o jogo estava em 1 a 1 naquele momento.

Douglas Silva ri após escutar orientação de Geninho a Beto na final do Carioca de 2004 — Foto: Reprodução

Hoje técnico do sub-20 do São Cristóvão, Douglas encontra frequentemente Beto, seu companheiro de churrasco e de resenhas.

- Eu tenho o Beto como ídolo. Quando comecei a jogar profissionalmente, o Beto era uma referência. A gente se fala até hoje, eu frequento a casa dele, estamos sempre juntos e queimamos uma carne às vezes. O relacionamento com ele é muito maneiro. As pessoas achavam que era uma parada que fosse ficar fora do campo. Pelo contrário: somos amigos. Nosso relacionamento é muito maneiro.

Douglas Silva e Beto às vezes jogam juntos pelo master do Flamengo e, geralmente quando se encontram, o assunto volta à tona. Ele se diverte ao contar que Beto, homem de temperamento forte nos tempos de jogador, afirma ter aliviado a barra dele e de outro volante rubro-negro naquela decisão.

- O negão (Beto) até hoje fala disso. Ele fala: "O Robson também é outro". O Robson jogou porque o Da Silva não jogou o segundo jogo. Ele diz: "Não esqueci o que você e o Robson fizeram comigo naquele jogo, não. Queriam me meter a porrada, deram sorte que eu estava calmo (risos)".

- Lembro de eu e o Diogo termos ido comemorar em Padre Miguel. Foi todo mundo comemorar num restaurante em Copacabana. Voltei para Padre Miguel com meus amigos, na noite nós fomos para o baile. Padre Miguel ficou pequeno. Mas sempre que eu e o negão estamos juntos, as pessoas falam: "Olha ele aí, Beto, queria ficar te seguindo no campo". Essa é a resenha.

Se não foi ironia a Beto, a risadinha teria como destino Geninho, atravessado na garganta dos rubro-negros por causa do pedido para Coutinho chutar o tornozelo de Felipe? Douglas garante que não. O ex-treinador do Vasco, seu comandante na conquista do inédito título brasileiro do Athletico-PR, é visto como um "mestre".

- Não, está louco. Geninho que me deu o título do Campeonato Brasileiro, ele me salvou no Athletico-PR. Quando ele chega no Athletico-PR, ele me coloca no grupo que estava disputando o Campeonato Brasileiro. Tenho uma gratidão enorme por ele. A gente se falava até hoje e tem o grupo dos campeões brasileiros de 2001. Rolam as festas de comemoração do título. Eu, como treinador, o tenho como uma referência. Ali foi espontâneo mesmo, não foi para debochar nem do Geninho e no do Beto. Mestre Geninho, tenho gratidão por tudo que passei com ele.

Os dribles de Felipe e as vitórias em clássicos contra Fluminense e Vasco são as principais memórias dos flamenguistas daquele Carioca, mas um rubro-negro de coração também pintou aquela conquista com a imagem do que é torcedor do Flamengo : a da irreverência.

- Não tem como não lembrar. Se voltar oito anos antes da final, eu estava na arquibancada. Aí me destaco no Bangu, viro jogador profissional, vou para o Athletico-PR e conquisto o Paranaense e o Brasileiro, que são dois títulos marcantes na minha carreira. Esse do Flamengo é especial, é inesquecível. Por ser torcedor, frequentar a arquibancada e título em cima do Vasco. E ser lembrado, que é mais gostoso. Ser campeão em cima do Vasco no Maracanã lotado é inesquecível, está na história.

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Fonte: Globo Esporte