Em seu primeiro mês na cadeira da presidência do Flamengo , Luiz Eduardo Baptista já começou a reestruturação que pretendia fazer no clube, com muitas demissões no futebol, nomeações na Gávea e esvaziamento dos vice-presidentes amadores. Mas longe dos holofotes, Bap também toca em um tema que foi ficando esquecido desde as eleições no clube: a construção do estádio no terreno do Gasômetro, comprado por cerca de R$ 170 milhões em 2023 ainda na gestão de Rodolfo Landim.
A nova diretoria definiu dois passos imediatos: um novo estudo de viabilidade e debates com a Prefeitura do Rio de Janeiro sobre o prazo de construção . A gestão anterior estimou a inauguração do estádio para o dia 15 de novembro de 2029, data em que o Flamengo completará 134 anos.
Quando montou o projeto do estádio, a gestão Landim apresentou para a prefeitura um estudo de viabilidade técnica feito com a consultoria "Arena Events+Venues" . No documento, de 109 páginas e ao qual o ge teve acesso no ano passado, há a previsão de diversas obras na região para facilitar o acesso dos torcedores em dias de jogos, como por exemplo passarelas, túnel e ciclovias .
Quando tomou posse em dezembro, Bap foi perguntado sobre o estádio e disse que desconhecia qualquer estudo de viabilidade feito para o projeto:
— A discussão do estádio ficou contaminada no processo eleitoral. Não existe um estudo de viabilidade financeiro-econômica até agora. Ninguém constrói do zero sem um estudo desse, e no Flamengo não é diferente. Esse é o projeto da vida do clube.
Agora em janeiro, Bap contratou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para fazer um novo estudo de viabilidade. A informação foi divulgada pelo jornal Extra e confirmada pelo ge . A FGV Projetos é uma unidade de assessoria técnica especializada em auxiliar no desenvolvimento de projetos nas áreas de economia e finanças, gestão e administração, e políticas públicas.
Em novembro, a gestão de Landim reuniu e apresentou aos sócios um estudo preliminar de arquitetura e engenharia com as bases do projeto para a construção do estádio. O estudo apontou a necessidade de um investimento total de R$ 1,93 bilhão e uma arrecadação de R$ 1,5 bilhão com naming rights. Novamente, a Arena Events + Venues, empresa especialista na construção de estádios e arenas, foi quem fez o projeto.
O assunto é tratado com sigilo no clube e tratado exclusivamente pelo Conselho Diretor. Membros da nova diretoria acreditam que o projeto apresentado pela gestão de Landim não era viável para o clube, principalmente do ponto de vista financeiro. Internamente, há a expectativa de que o estudo de viabilidade da FGV corrobore com essa desconfiança e aponte a necessidade de atrasar a inauguração do estádio prevista por Landim e seus pares.
A ideia é que o novo estudo guie também o diálogo com a Prefeitura do Rio. De acordo com o edital do leilão, o clube precisa apresentar o projeto final em até 18 meses após a assinatura do Termo de Promessa de Compra e Venda, feita no dia 16 de agosto de 2024. Desta forma, o prazo do projeto final é fevereiro de 2026. A partir disso, o Flamengo precisa executar o projeto em 36 meses (ou seja, em três anos).
O edital afirma que esses prazos são prorrogáveis na forma da lei, e é isto que a gestão de Bap trabalha para fazer já nos primeiros meses no comando. Em contato com o ge , a Prefeitura do Rio informou que já iniciou novas conversas com o clube.
— A Prefeitura do Rio já iniciou os debates com a nova diretoria do Flamengo para saber de suas pretensões em relação à construção do estádio do clube — respondeu via e-mail .
Outra questão que surgiu é o despacho da Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar publicado em Diário Oficial em dezembro (veja na imagem abaixo) , garantindo que a desapropriação feita pelo município não altera a concessão da Naturgy, que usa parte do terreno para o abastecimento de gás na cidade. Indagada se isso impede o início das obras até o término do contrato da empresa, a prefeitura respondeu que "o despacho se refere a equipamentos da concessionária e não ao terreno".
Ou seja, antes de iniciar as obras, será necessário transportar os equipamentos que se encontram no terreno para outro local, de modo que não afeta o abastecimento de gás na cidade. Esse processo também terá um custo, que ainda não se sabe se será do Flamengo ou da prefeitura.
A nova diretoria adota um distanciamento na frenesi da construção do estádio. A ordem interna é tratar com cautela o que é considerado "o projeto da vida do Flamengo " pelo presidente. A nova administração usa os primeiros meses no comando para entender as finanças - apresentará um novo orçamento a ser votado pelos Conselhos em breve - e compreender o fluxo de caixa do clube. Não à toa tem atuação tímida na janela de transferências até o momento.
— Vamos fazer o estádio, mas não será à custa da performance esportiva, como aconteceu com o São Paulo, ou endividamento brutal, como o que aconteceu com o Corinthians. Nós não vamos cometer os mesmos equívocos. Vamos construir o estádio no ritmo que o caixa permitir. Vamos continuar com o nível de performance esportiva e não vamos endividar o clube a ponto de ter que virar SAF. Se for (viável) em quatro anos, será em quatro anos. Se for em cinco, será em cinco — comentou Bap no dia da posse.
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