Em menos de três meses no Flamengo, Danilo já conquistou não só a confiança da torcida, mas também uma posição de destaque no elenco. O zagueiro, que chegou com status de experiência internacional, tem mostrado mais do que presença: até agora, não viu sua equipe sofrer gols como titular.
Foram seis jogos começando entre os onze — contra Portuguesa-RJ, Botafogo, Vasco, Maricá, Juventude e LDU — e todos terminaram com a defesa rubro-negra intacta. A única partida em que o Flamengo foi vazado com Danilo em campo foi sua estreia, quando entrou após o gol do Botafogo, na vitória por 3 a 1 que garantiu o título da Supercopa do Brasil.
No próximo domingo, às 16h no Maracanã, Danilo terá pela frente o Corinthians de Memphis Depay. Os dois já estiveram em lados opostos na Europa: em 2020, quando Danilo atuava pela Juventus e o holandês pelo Lyon, os clubes se enfrentaram pelas oitavas da Champions. Naquela ocasião, Danilo entrou em campo após a saída de Depay, e a Juve venceu por 2 a 1, mas foi eliminada pelo critério do gol fora de casa.
Em entrevista após o treino de sexta-feira, o defensor falou sobre a expectativa de encarar o craque corintiano. Disse que Depay exige máxima atenção durante os 90 minutos, elogiou a qualidade técnica do atacante e projetou um duelo de alto nível.
— Quanto ao Memphis, certamente é um jogador de uma qualidade acima da média, vem demonstrando isso ao longo da carreira dele. É um jogador que tem de ser defendido com muita atenção. Acredito que o sistema que a gente usa, a forma que a gente usa , como damos cobertura faz com que a gente possa defender bem o Memphis ou qualquer outro jogador que individualmente possa fazer a diferença
Apesar dos ótimos números, Danilo fez questão de dividir os méritos com o grupo. Ao ser lembrado de que recebeu o prêmio de melhor em campo no empate contra a LDU, o camisa 23 foi direto: "O prêmio poderia ter ido para qualquer um dos meus companheiros", demonstrando o espírito coletivo que vem fortalecendo o Flamengo na temporada.
— Individualmente, acredito que os anos de estrada, experiência e jogar bola te fazem conseguir administrar o espaço defensivo de uma maneira importante, que ajuda a equipe. Mesmo com essa analogia de que quando joguei o Flamengo não sofreu gols, é difícil falar de forma individual. Nesse jogo contra a LDU, me deram o prêmio de melhor jogador da partida, mas eu não merecia. Quem merecia era o Ayrton (Lucas) ou o Erick (Pulgar) porque fizeram uma partida incrível.
— Se o Ayrton não estivesse no nível que esteve nos duelos individuais, a gente nem teria empatado a partida. Nossa chance de perder era grande, porque ele venceu todos os duelos contra um cara difícil de defender em situação em que se ele fosse ultrapassado era muito perigo para o Flamengo. Posso falar que ajudo organizando o sistema, tenho uma influência. Uma das minhas melhores características é fazer com que meus companheiros joguem melhor, se posicionem melhor, isso posso falar individualmente. Dentro de campo é sempre o sistema, impossível falar do individual.
Veja outra respostas de Danilo na coletiva:
3 meses de Flamengo
— Certamente foram três meses intensos, vivi muita coisa que eu esperava e outras que não esperava. Tem sido uma experiencia maravilhosa. Se eu quisesse viver sem pressão ou com pouca pressão, não teria escolhido vir para o Flamengo. Aqui tem que ser assim, tem de viver com pressão e estar pressionado por resultado. Se o resultado vier, tem de estar pressionado para jogar bem, por não tomar gol, convencer sempre — afirmou Danilo.
— Tive momento de lesão onde pude passar muito tempo no clube, aprender as dinâmicas internas, coisas simples, como nomes dos funcionários, horários, que me ajudaram. Foi até bastante tempo, não esperava que fosse tanto (risos). Mas tomei como positivo para voltar a jogar. O gol no Maracanã foi a realização de mais um sonho. Agora espero dar uma sequência de jogos, ajudar a equipe dentro de campo. É para isso que fui contratado. Espero, no próximo final de semana, conseguir vitória importante coroando esses três meses — completou.
Situação na Libertadores
— Enxergo uma situação completamente acessível para a gente, não em tom de soberba ou num tom de que a situação é tranquila. A gente tem que trabalhar muito, se dedicar muito. A gente tem total condição de conseguir a classificação, se possível em primeiro. A gente tem que colocar isso como objetivo, alcançar o nível mais alto em todo momento. O objetivo é passar em primeiro, isso dá moral e nos cruzamentos pode dar confrontos talvez mais acessíveis. É uma situação que a gente tem condição de reverter.
— Eu, mandando mensagem em nome do grupo, não tem ninguém satisfeito com essa posição na tabela. Aí pode falar: "está em terceiro, a um, dois pontos". Mas o Flamengo tem que estar lá em cima, tem que estar em primeiro, vencer. É que muitas vezes as coisas não caminham como a gente espera. Nós temos que fazer acontecer. É uma situação desconfortável, mas estamos com o pensamento virado para terminar em primeiro. Vencer as partidas agora dá uma moral, uma consciência e uma sabedoria grande de crescimento. Isso que espero.
Jogo com Corinthians
— Bonito, né? Entrar para vencer e para que a gente possa retomar a liderança. A gente fala muito de pressão e ainda bem. Pressão para que a gente volte a ser líder, é um privilégio. Jogar pelo Flamengo é isso a pressão por resultado, por estar em primeiro. A sequência do ano passa sempre pelo jogo seguinte, contra o Corinthians, vai ter um ambiente maravilhoso no Maracanã, a equipe vai entrar com motivação máxima. É a mesma importância de cada jogo. Nosso foco é sempre o jogo seguinte independente da competição, é assim que temos seguir.
Lembranças de Santos x Corinthians
— Joguei um ano e meio pelo Santos, mas parece que foi muito tempo, porque foi muito intenso. Foi uma experiência maravilhosa para a minha vida. Vivi de tudo, foi maravilhoso, tenho lembranças incríveis. Tive vários jogos contra o Corinthians, mas o mais legal foi o primeiro da final do Campeonato Paulista de 2011, foi um empate, mas foi um jogo grande, importante para podermos direcionar a conquista do título daquele ano. Empatamos o primeiro e depois vencemos na Vila Belmiro. Mas o que marcou foi ter tomado um cartão injustamente e aí eu perdi o segundo jogo. Foi um lance com o Paulinho na beirada do campo. A falta era para mim e não para ele. O Tite reclamou com a arbitragem e me deram amarelo, fiquei suspenso. Foram vários embates contra o Corinthians é sempre bonito jogar contra uma equipe como a deles.
Expectativa de Maracanã lotado
— Faz diferença (ter o estádio lotado). É o Maracanã, torcida do Flamengo, me arrepio todo. Quando chego lá já sei se está cheio. É diferente, sensação única. Principalmente, contra o Corinthians, as duas maiores torcidas do Brasil. Quando eu era criança, se me perguntasse que tipo de jogo eu gostaria de jogar, era isso. Domingo vai ser um dia muito bonito, uma tarde especial, poder ter o Maracanã cheio, apoio da torcida, todos os ingrediente para ter uma tarde bacana. Que seja com vitória do Flamengo. A importância da torcida é inegável, que ela esteja lotando o Maracanã. É um ponto muito positivo para a gente.
Recuperação física
— Estou confiante, não aguentava mais ficar na maca, na academia. Fui feito para estar em campo, para colaborar em campo. Toda crise é uma oportunidade. Considerei uma crise ficar fora por dois meses. Então pude aproveitar para reequilibrar muscularmente. Para trabalhar coisas que a gente não consegue nessa correria do dia a dia, de viagens, jogos, como equilíbrio, potência, reatividade. Coisas muito importantes no jogo que muitas vezes a gente não consegue ter um olhar específico. Então procurei usar esse tempo que tive para que quando voltasse estivesse preparado. Todas as mudanças em nível psicológico e de estrutura da minha família demanda tempo, mas esse período acabou e está tudo bem.
Formação com três zagueiros
— Não conversei com o Filipe sobre isso, nem com ninguém nem internamente. Mas se ele resolver jogar com três zagueiros, quer dizer que vou jogar melhor ainda. Mas, brincadeira à parte, o Flamengo tem zagueiros de um nível muito importante. Tem sido muito bacana compartilhar momentos com os dois Léos e com os meninos, com o Cleiton e João. Poder passar o que aprendi, entendimento do futebol e também aprender com eles. A juventude te dá uma coisa que os anos de estrada tiram, que é um pouco de empolgação, um senso de fazer as coisas sem pensar muito, sem extrema responsabilidade.
— Principalmente falando do Léo Ortiz e do Pereira, são dois jogadores que alcançaram um nível muito importante de futebol, seja defensivamente com consciência de espaço e controle da zaga. Seja com a bola nos pés de construção das jogadas, responsabilidade de construir e fazer com que a bola chegue limpa para o pessoal da frente. A briga é bacana, estou preparado para lutar com eles no dia a dia, mas tenho certeza que isso só engrandece o Flamengo, o elenco, o trabalho que está sendo construído. São dois caras que tenho uma admiração grande.
Boa fase defensiva x má fase ofensiva
— É difícil ter uma clareza nessa resposta. Primeiro que a equipe estar bem defensivamente não tem só a ver com os zagueiros, laterais, ou com o primeiro meio-campista. É todo um sistema que funciona, trabalha, faz a pressão, direciona o jogo do adversário, faz que a gente esteja preparado para roubar a bola o mais rápido possível para não sofrer gols. E a defesa também tem um papel importante para atacar. É nossa obrigação fazer com que a bola chegue mais limpa para os meio-campistas e para os atacantes, que chegue na melhor condição possível para que eles possam criar as jogadas, as oportunidades de gol. É todo um trabalho conjunto, acredito que nós, enquanto equipe, temos muita margem de crescimento para esse momento da finalização que decide os jogo
— Mas isso não é uma coisa que tem de ser colocada só para o ataque. Obviamente, os atacantes e os meio-campistas são quem aparecem mais vezes para finalizar, mas é um papel de todos enquanto equipe se fortalecer, trabalhar e se cobrar para que a gente possa mudar essa estatística e melhorar. Falar disso é um pouco engraçado, porque contra o Juventude nós fizemos seis gols. Nas outras ocasiões, contra o Vasco e a LDU, nós tivemos chances e não fizemos. Tentar não ser refém das circunstâncias, entender que o trabalho está sendo feito, mas, certamente, a gente precisa se cobrar mais nos treinamentos e nos jogos para vencer. De quanto? Meio a zero, um a zero. Como sempre falo, aqui é Flamengo, a gente precisa vencer, trazer os três pontos e próximo dia vai ser melhor.
Liderança no elenco
— Exercer esse papel é uma obrigação pela minha idade e o que vivi. É uma obrigação não guardar e compartilhar isso. Dividir para o crescimento dos companheiros e ambiente. A organização do ambiente ultrapassa aquilo que é dos jogadores. Tem muito para agregar no jogo. Sou inquieto. Tudo o que vejo e acredito que tem potencial de melhorar e pode ser feito, às vezes, 10% diferente mas que podem fazer grande diferença, eu falo. Porque prefiro passar como chato do que não falar e as coisas não acontecerem porque deixei de falar.
— Acontece no dia a dia, acredito que os companheiros esperam de mim e me dão respaldo. E tem jogadores que também tem muito tempo de casa, que também podem me ensinar muito, procuro me aproximar deles, como o Gerson, o Arrascaeta, o Bruno Henrique, Ayrton Lucas. Jogadores com muito tempo do Flamengo que podem me ensinar muito e tento aprender rápido para ajudar.
Prioridade na temporada
— Se foi falado no início, eu não tinha chegado. Para mim, prioridade é o próximo jogo. Quando fala em prioridade, quer dizer que vai dar mais energia, foco e atenção para alguma coisa e menos para outra. Como você vai dar menos foco, energia e atenção para a Libertadores? É impossível. Ainda que entre com um time que pensem que jogador A ou B não é titular, mas a energia e o foco é gigantesco. Falar em prioridade é difícil de interpretar. Para mim, não mudou. Como você vai falar que o foco é o Corinthians, mas depois na quarta, na Copa do Brasil, não vai ter prioridade? Você vai chegar lá e não vai conseguir performar, vai ser difícil de vencer. Prioridade é o próximo jogo, não sei se aqui existe um pensamento macro, estou falando por mim e pelo que penso sobre futebol.
Debate sobre quantidade de estrangeiros
— Provavelmente é uma resposta que para dar de maneira justa eu precisaria de um tempo. É um assunto profundo. O que posso falar é que independente do número de estrangeiros, diminuir e liberar, é que precisa de um foco maior na capacitação dos nossos atletas, da nossa juventude. Aí sim acredito que possa ter um impacto grande e positivo. Se diminui o número de estrangeiros, mas se não investe na capacitação dos atletas (brasileiros), vão chegar atletas no profissional que não estão preparados e não vão se desenvolver em alto nível.
— Aí faz sentido trazer estrangeiros para vencer, ter marketing, esse tipo de coisa. Se você focar na capacitação da base, criar escolas de futebol preparadas para ensinar, valorizando a essência do futebol brasileiro, melhorando o conhecimento dos profissionais que estão envolvidos, aí sim acredito que vale a pena pensar em diminuir o número. Só falar o problema e não falar da construção, não ser propositivo, é chover no molhado, criar polêmica. É mais ou menos isso que penso, mas precisaria de um tempo maior para ser mais elaborada.
Jogar na altitude
— Poderia ser um pouco político na resposta, mas jogar na altitude é ruim para caramba. Em termos de respiração é muito difícil, diferente. Sobe uma escada e fica tonto, não tem a lucidez que costuma ter aqui embaixo. Fisiologicamente é horrível. Se eu pudesse, não jogava nunca mais na altitude, era o que queria. Depois, a velocidade da bola é uma loucura. Faz um passe daqui até ali e parece que chutou no jogo. Estou tentando falar de forma que as pessoas entendam melhor em vez de falar de um jeito gourmet. Vai tocar daqui a ali e a bola sai numa velocidade incrível.
— Vai fazer uma mudança de direção e não se sente bem, fica tonto, não consegue entender bem o que está acontecendo. Precisaria estar mais tempo em adaptação para poder jogar 100%. O jogo é diferente, ruim, mas a gente precisava ter ganho o jogo. A gente poderia ter feito não melhor, mas poderia ter vencido. Que fique como aprendizado, a gente tinha condições de vencer. Que dizer que não fizemos o nosso máximo? Não, mas quer dizer que a gente tem espaço de crescimento para vencer esse tipo de jogo que é extremamente difícil.
Dorival Jr no Corinthians
— Foi muito bacana reencontrar o Dorival na Seleção Brasileira. Trabalhamos muito e incansavelmente no tempo que estivemos lá. Sinto muito pelas coisas não terem ocorrido da maneira que ele esperava, que todos esperavam. O futebol tem muito disso, principalmente futebol de seleção. Tem pouco tempo para adaptação, implementação de trabalho, e se espera resultado logo. Não é só na Seleção, não é só no Flamengo, é no futebol em geral. Sinto muito porque o Dorival é um cara excepcional, de ética incrível, um cara família, que cuida do ambiente. Se ele fechar com o Corinthians, se for para o bem dele, para ele ser feliz e desenvolver o trabalho que ele espera, que seja. Mas que, no domingo, o Flamengo possa ter melhor sorte, independentemente se for o Dorival ou não, que a sorte dele comece depois disso.
Wesley na Europa
— Espero que daqui a pouco, depois de conquistar mais algumas coisas importantes pelo Flamengo, ele poder alçar voos grandes na Europa. Ele tem potencial para desenvolver isso, eu ficaria muito satisfeito de vê-lo jogar na Europa, jogar na Champions League. Quanto ao posicionamento em si, vou ser chato com ele até o último dia. Primeiro porque é para o bem do Flamengo, para a gente vencer os jogos, defender melhor, atacar melhor. E, depois, para o bem dele nesse crescimento. Quando eu era jovem, esperava que alguém falasse essas coisas que falo para ele. Cada vez que ele errar um domínio fácil, um passe de 10 metros, eu vou pegar no pé dele. Pode me chamar de chato, fazer o que for, mas isso representa crescimento para o Flamengo e para ele individualmente.
— Vou estar melhor, porque o Flamengo vai estar melhor. Mas é um garoto que se dedica muito. Muito mais que te ouvir, ele põe em prática. Ele escuta, reflete e no outro jogo já fala comigo. Ele tem essa inteligência de fazer isso. É um garoto muito bacana, leve de lidar no dia a dia, responsável e gosta muito do Flamengo. Eu desejo toda sorte do mundo para ele, que possa fazer uma carreira importante. Assisti ao jogo da Seleção Brasileira contra a Argentina, que eu não pude estar porque estava machucado. Em algum momento eu vi a cara dele e parecia estar um pouco assustado com as coisas e eu comecei a rir, porque eu já vivi isso, passei por isso. Só ele pode passar por isso e crescer dentro desse momentos. Que ele entenda que cada momento que está vivendo agora é um privilégio, um step para que ele possa chegar num nível alto.