Braz vê acerto na manutenção de Ceni e planeja reforços para o Flamengo: "Importante oxigenar"

Cansado, mas feliz. Assim, Marcos Braz terminou mais um ano de títulos à frente do futebol do Flamengo, mas não pretende descansar. O planejamento da temporada 2021 está em curso, e o objetivo é manter o time no topo. Para isso, apesar o orçamento ser mais curto, o elenco ganhará novas peças para elevar a concorrência.

- O Flamengo precisa se reforçar. É sempre importante oxigenar - afirmou o vice de futebol.

Marcos Braz com taça do Campeonato Brasileiro — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
1 de 4 Marcos Braz com taça do Campeonato Brasileiro — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Marcos Braz com taça do Campeonato Brasileiro — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Em entrevista ao ge , Braz fez um balanço de 2020, relembrou decisões difíceis, como a demissão de Dome, e afirmou acreditar que foi um grande acerto ter segurado a pressão para manter Rogério Ceni até o fim do Brasileiro. E também para 2021.

O VP de futebol do clube explicou a negociação avançada para a volta de Rafinha, falou sobre as constantes notícias que relacionam Jorge Jesus ao Flamengo e respondeu qual clima espera para o ano de eleição no clube.

Confira a entrevista:

Ge : Depois de uma temporada longa, intensa, com muitas dificuldades por causa da pandemia, mas também com títulos, qual o balanço você faz?

Marcos Braz : Eu acho que ninguém acreditaria no que aconteceu sobre essa pandemia. Todas as análises foram caindo. Quem era o favorito na Inglaterra? Liverpool? Olha o que aconteceu. Na Itália, Juventus? A Juventus não foi bem. Em Portugal, os dois favoritos que se intercalam, Benfica e Porto. Hoje tem a chance de o Sporting ser campeão.

O Flamengo teve que ir fazendo ajustes. A primeira grande dificuldade: leva quatro, cinco meses para renovar com o Jorge Jesus. E 25 dias depois ele sai. Evidente que aqui não tem criança, isso é do processo, um processo muito limpo. Quando a gente estava no processo lá atrás tentando renovar com o Jorge, tínhamos algumas alternativas. Depois que renova, a gente solta as alternativas. Normal.

E aí o Jorge vai embora, a gente começa do zero, começando a ver o processo de novo. O Flamengo foi ajustando, resolvendo a vida. Graças a Deus, ainda assim, foi a terceira melhor temporada da história do Flamengo. Conseguimos nos superar e tenho certeza que foi um bom ano para o Flamengo. Com certeza, foi o mais complicado.

Qual foi a decisão mais difícil de ser tomada nesta temporada?

Ter a percepção na hora certa de trocar o Domènec. Foi uma decisão muito difícil. De 2013 a 2019, o Flamengo teve 13 técnicos. Se fizer conta por alto, é um a cada cinco meses. Eu afirmo que em lugar nenhum do mundo, sério, profissional, isso daria certo. Eu relutei muito e sempre vinha falando com companheiros de diretoria, não vamos entrar nesse ciclo, nesse processo, por mais que seja desgastante segurar um treinador.

Nem sempre a culpa é só do técnico. Você tira o técnico, zera a posição de todo mundo, bota outro... Fica muito fácil. A percepção de quando poderíamos trocar o Dome foi muito difícil. Ele é um técnico sério, correto, direito, honesto, trabalhador.

Com o Ceni e logo depois começamos a ter o mesmo processo. Os resultados não vieram em alguns momentos. O ápice disso foi a derrota do Flamengo para o Ceará. A manutenção do Ceni foi muito assertiva. A compreensão e tentar fazer com que os outros compreendam que o Ceni precisava de mais tempo para que pudesse fazer um trabalho.

Qual a principal lição que a temporada 2020 deixou?

Toda temporada te dá um aprendizado, uma casca a mais. Esse é um ano em que você vê que, mais do que nunca, um grupo unido, forte tecnicamente, no final faz a diferença. Em momento algum, não se acreditou nesse título. Podem ter certeza disso.

Eu tive oportunidade de ganhar três títulos brasileiros sendo VP de futebol do Flamengo. Em toda a dificuldade de 2009, esse aqui foi o mais esquisito. Acho que o Flamengo foi campeão na força da instituição, na união das pessoas aqui dentro.

Agora é bola para frente, acreditando sempre em poder ganhar ainda mais títulos pelo Flamengo. Três técnicos diferentes, três comissões diferentes. Esse título, para mim, também tem um gosto melhor do que os outros porque a gente sempre é questionado, sempre condenado por um monte de situações, mas acho que deu tudo certo.

Braz se emociona na comemoração do título do Flamengo no Morumbi — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
2 de 4 Braz se emociona na comemoração do título do Flamengo no Morumbi — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Braz se emociona na comemoração do título do Flamengo no Morumbi — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

O Rogério Ceni sofreu muita pressão durante esse processo, e é questionado até depois do título. Como foi a decisão de mantê-lo no comando?

Ele tem contrato com o Flamengo até dezembro de 2021. É o atual campeão brasileiro, teve alguns dias de férias merecidas para visitar o pai. Quando voltar, retoma o trabalho dele normalmente. Não tem muito o que falar, não.

Eu entendo a pergunta, mas não entendo a insistência em relação a perguntar do Rogério. Ele tem contrato com o Flamengo, acabou de ser campeão com o Flamengo. Mais do que plausível que daqui a uma semana esteja aqui dando o treino. De uma maneira bem tranquila, bem natural.

Até pela má fase do Benfica, o nome de Jorge Jesus aparece constantemente ligado ao Flamengo. Como lida com essa situação?

Eu vejo muita coisa em relação ao Jorge Jesus. Eu não preciso de intermediário para falar com o Jorge Jesus. Eu não preciso de intermediário para receber qualquer tipo de informação do Jorge Jesus. Eu não preciso de intermediário para que fale com assessor, com jornalista. Eles vão querer falar de Jorge Jesus para mim? É piada.

Se eu quiser falar alguma coisa com o Jorge, ou se ele quiser falar algo para mim... A gente se fala não toda hora, mas no Natal, no Réveillon, nas datas de um grande jogo. Teve um jogo que ele perdeu há um mês na liga que desejei boa sorte para ele.

Estão querendo mostrar um negócio... parece até que o Flamengo não quer o Jorge. Não preciso de intermediário para conversar com o Luis Filipe Vieira (presidente do Benfica). O Jorge tem contrato lá. Se está bem ou mal, essa análise não é minha. É do presidente e do Jorge. Eu não fico irritado com as perguntas sobre o Jorge. Estou apenas lembrando que quem trouxe o Jorge fui eu. Com o Dome foi a mesma coisa, não dá para ser seletivo.

A tendência é de que o nome dele ainda esteja ligado ao Flamengo por muito tempo...

Lógico. E que bom. Dura um bom tempo pelos resultados que ele deixou aqui. O Jorge é um cara fenomenal, trabalhador, correto, mas está contratado. E a opção de ir embora foi dele. Mas não é demérito nenhum. Eu entendi. Um mundo louco, de pandemia, a família não podendo vir para cá. Ele com restrições. A vacina está aí e não chega para todo mundo. Meu pai tem 79 anos e tomou vacina hoje (segunda). A gente tem que ter paciência e tranquilidade para que comece a temporada. Eu acho que daqui a pouco alguns fantasmas vão desaparecendo.

Sobre planejamento de montagem de elenco, a torcida pode esperar um ano de menor investimento, até por já ter um time campeão?

Pela parte financeira e também por já ter um elenco que já veio sendo qualificado. No ano passado, contratamos alguns jogadores no início. Pedro e Thiago Maia eram empréstimo. O Pedro nós exercemos, e o Thiago chegamos a um bom acordo com os franceses para que tivéssemos mais tempo para recuperá-lo. Confiamos muito.

Agora, temos que fazer os ajustes. O Flamengo precisa se reforçar, acredito que é sempre importante oxigenar o ambiente do departamento de futebol. Mas com certeza não são os caminhos de quando chegamos, em 2019.

Ceni comemora com Gabigol o título do Flamengo. Braz acredita que manutenção do técnico foi acerto — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
3 de 4 Ceni comemora com Gabigol o título do Flamengo. Braz acredita que manutenção do técnico foi acerto — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Ceni comemora com Gabigol o título do Flamengo. Braz acredita que manutenção do técnico foi acerto — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Já existiu a conversa com treinador sobre quais posições o Flamengo pretende se reforçar?

Já saímos na frente, contratamos o Bruno Viana. Temos que ter imaginação, bom senso e conhecimento do mercado. Mas não vamos fazer cinco, seis contratações não. Não sabemos se teremos propostas pelos nossos jogadores. Conforme isso acontecer, vamos ajustando também. A gente conversa (com Rogério), mas quando ele voltar vamos acelerar.

Qual o estágio da negociação com o Rafinha?

Ele começou há um mês a sinalizar que queria voltar. Estamos conversando. O Bruno (Spindel) está conversando. Eu tenho uma relação direta com ele também, muito próxima. Com o Lincoln, seu empresário, também. Estamos tentando ajustar. Não que ele não mereça ser valorizado pela história dele aqui, mas estamos com algumas prudências para finalizarmos esse caso, de um lado ou de outro.

A reta final do Brasileiro tirou um pouco o nosso foco, porque estávamos concentrados só nos jogos. Mas vamos retomar. Está bem encaminhada, mas não está certa a contratação. Vou ligar para ele.

O Miranda está sem clube desde que rescindiu na China. É um jogador que interessa?

Não gosto de falar porque às vezes parece uma coisa desrespeitosa, e o Miranda é um jogador de uma carreira brilhante. Mas em nenhum momento foi analisado aqui para ser contratado. Nenhum. Pelo menos para mim.

O orçamento de 2021 prevê um volume alto de verba em venda de jogadores. Como o departamento de futebol vai trabalhar com isso? Como manter os principais nomes?

Previsão sempre é de volume alto. Ano passado eram R$ 80 milhões. Depois, ajustaram para R$ 90 milhões. Depois, R$ 120 milhões. Foi indo... E nós fomos resolvendo tudo. No dia 2 de janeiro batemos a meta com a venda do Reinier por 30 milhões de euros.

Aí veio a pandemia e foram precisos ajustes. Não estou dizendo que está errado, só estou aproveitando para dar a informação. O segundo número batemos com a venda do Pablo Marí. E fomos acertando e ainda terminamos campeões.

Agora estamos na terceira temporada com números altíssimos. Em janeiro já batemos com a venda do Lincoln e do Yuri César. Vamos com luta, trabalho e união no departamento.

Marcos Braz apresenta o Ninho a Ceni no dia de sua apresentação — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
4 de 4 Marcos Braz apresenta o Ninho a Ceni no dia de sua apresentação — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Marcos Braz apresenta o Ninho a Ceni no dia de sua apresentação — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

O Flamengo recentemente teve propostas que não aceitou de alguns atletas, como Léo Pereira e Michael. Qual sua expectativa para possíveis ofertas também na janela do meio do ano?

Estou esperando o Rogério voltar até para saber o que ele está pensando na parte esportiva. Mas aqui não colocamos jogador na prateleira para vender. Alguns jogadores precisam de seis meses, um ano para se adaptarem ao clube. Mas aqui não tem isso. É porrada o tempo todo, é no chicote. E não da minha parte não, é da torcida, dos jornalistas... de todo mundo.

Mas quem vem sabe que é assim. O jogo é esse. Não vou reclamar de pressão. Para quem está do lado de dentro do Flamengo, costumo dizer que um ano equivale a sete, igual cachorro. O desgaste é grande.

E ano de eleição, vale quanto?

Vale 14 (risos). Mas estou acostumado. Respeito a posição de todos, dos jornalistas... Mas é um ano de cuidado também. As coisas precisam ser mais apuradas, administradas, com oportunidade de ouvir o outro lado com a mesma vontade. Não adianta ouvir já com o conceito formado.

Mas não posso reclamar não, foram dois anos maravilhosos, com muitos títulos. Vamos seguir. Sobre política, estou à vontade. Vou ter pouca participação. Meu candidato é o Landim. Se ele não quiser, é quem ele falar que tem que ser. O processo eleitoral pode me desgastar por causa do meu cargo, mas estou super tranquilo. Há tempos falo isso. Quem me conhece sabe que eu cumpro o que falo.

Neste ano você vai conciliar também a função de vereador, algo que foi muito falado durante o processo eleitoral. Como você administra isso?

Estou feliz, foi meu primeiro título como vereador. Campeão brasileiro. Espero que venham mais. Tenho as minhas atribuições na câmara, que são colocadas às claras. Queria lembrar uma coisa. Antes de eu ser vice, tínhamos um vice que era auditor da Receita Federal (Ricardo Lomba) e eu nunca vi nenhum jornalista questionar se ele poderia estar no Flamengo. Antes dele teve o Wallim, que tinha também suas atribuições. Nunca vi nenhum questionamento.

Quando chega na minha vez, é um "mimimi". Não fui eleito para meu cargo no Flamengo, tenho um cargo de confiança do Landim, que foi eleito. Não tenho dúvida, pela história dele, por ser um grande presidente, que se sentisse que não estou cumprindo meu papel, ele seria o primeiro a falar comigo. E eu seria o primeiro a entender.

Quem está pagando o preço é minha família, meus filhos, esposa, pais... Todos reclamam que não estou presente. Mas foi uma opção minha. Não deixar eu me defender em relação a isso é covardia. Tenho que ser cobrado como vereador. Muito. E tenho que ser cobrado como vice-presidente. Mas acho covardia cobrar essa correlação.

O bicampeonato impulsiona o tricampeonato?

Claro. Só poder ser tri se for bi. Vamos embora para cima deles. O olho até brilha. Não sei se vamos conseguir, mas vamos trabalhar, fazer o possível e impossível. O que posso garantir é que não vai faltar empenho para termos mais uma grande temporada, com pandemia ainda e problemas enormes de vacinação.

Infelizmente estou desacreditado, deveríamos estar mais acelerados na vacina. Para Brasileiro e Libertadores, acho que vai demorar um pouquinho mais. Tomara que eu esteja errado.

Fonte: Globo Esporte