Big Brother Mengão 25

O meme é espetacular. Numa questão de múltipla escolha, qual o principal rival do Flamengo:

  • A) Botafogo
  • B) Fluminense
  • C) Vasco
  • D) Whatsapp

Marcar o “D” consuma a piada e a senha. A nova temporada do Big Brother Mengão chegou causando. E nosso reality show agora é 360 graus — boa parte dos dramas acontece fora da tela. Ou melhor — na telinha. É nos celulares que as mãos roteiristas escrevem roteiros impensáveis — que misturam Ele, o Boto, com as negações de Pedro, mensagens vazadas com golaços redentores, vitórias incríveis com derrotas inesperadas.

É o único reality show do ocidente que mistura futebol com filme B, tem cinema brasileiro dos anos 80, vaidade, religião, uma pitada pornô... muitos elementos num só caldeirão emocional. É no BBM que um dirigente diz que um jogador deve ser vendido, o jogador fica sabendo, faz beicinho, é retirado de um jogo, detonado pelo treinador, volta, faz gol da vitória e mostra camisa dizendo que “Jesus é suficiente”. Que Jesus? O Jorge? Ou o rapaz que morreu na cruz para nos salvar?

Pedro, diga-se, já teve papel relevante em outras temporadas. Já se machucou, já foi criticado, já levou soco no vestiário e deu queixa na polícia. Mas nunca tinha sido, digamos, levado ao confessionário como agora por Filipe Luís. Nem dividido o vestiário com um coadjuvante cujo vídeo vazado num motel produziu o mais impagável apelido.

É no BBM que o médico do clube detona o joelho de jogador, bota a culpa na gestão anterior e é rifado. É no BBM que o executivo do futebol do clube é maltratado, fuzilado nas redes, criticado até pela dentição ronaldinha e, quando parece próximo do paredão, se imuniza com duas vitórias e uma série de contratações.

Eis que subitamente, ele, o Boto, que estava prestes a ser afogado pela malta raivosa... emerge do fundo do rio como um Carlos Alberto Ricelli Reborn — corpo sarado de cartola, sorriso ortodôntico de jogador — e a galera esfuziante delira.

Pois assim funciona o interruptor rubro-negro — em bipolaridade constante. Não há meio-termo no Flamengo. O switch já deixou o modo Crise na Gávea e adotou o Rumo à Tóquio. Tóquio, no caso, é um destino onírico que remete ao Flamengo histórico de 1981 — pois a final do Intercontinental ainda não teve seu local definido pela FIFA.

O BBM 2025 é um guia para entender a alma rubro-negra desde que ela reencontrou a arrogância perdida nos anos bicudos. O dinheiro voltou e trouxe com ele o monarca abdominal rubro-negro... esse imperador que tem certeza que todos nascem rubro-negros (menos alguns), que o trono do futebol nacional é inapelavelmente seu e que o Flamengo é uma força da natureza. Essa fé é capaz de mover mundos e transformar Obinas em Eto’os. Mas cobra um dízimo profundo.

Há anos, o Flamengo ganha muito e disputa tudo. Mas convive com uma frustração subterrânea pela falta de soberania – como se dominar o Brasil fosse obrigação. Como assim concorrência? Temos mais time, mais dinheiro, mais torcida. Temos que ganhar tudo sempre. Só que futebol não é assim. Essa obsessão tem transformado o clube num moedor de treinadores, jogadores e reputações. Toda derrota vira Waterloo, toda boa vitória vira um desembarque na Normandia. Toda temporada vira um Big Brother.

Fonte: O Globo
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