Análise: vitória no consolidado 4-3-3 distribui confiança e reforça que Flamengo terá variação

O torcedor mais impaciente afirmará que o placar de 3 a 0 sobre o Volta Redonda, no sábado de Carnaval, foi muito pouco para o Flamengo . O menos apressado poderá enxergar de outra forma: o consolidado 4-3-3 deu certo e a coletiva de Tite, aberta com a palavra "tempo", trouxe a certeza de que ele insistirá no 4-1-4-1 .

Ou seja, o gaúcho de 62 anos deu garantias de que o Flamengo terá variação de repertório . A disposição tática com pontas está memorizada pelos atletas e servirá de alternativa para mudar a cara de algumas partidas. O novo sistema com a presença de um "flutuador" - leia-se Nico de La Cruz - ainda demanda tempo para ser executado à plenitude, mas é a prioridade para a temporada.

Frente a um rival que também se propôs a jogar e não somente a se trancar na defesa, o Flamengo entrou em campo com um "De la Cruz à la Arrascaeta", próximo ao atacante de referência e mais centralizado. E com um incansável Luiz Araújo, figura máxima do jogo.

Luiz Araújo sobrou em campo pelo Flamengo contra o Volta Redonda — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Símbolo do consolidado sistema com pontas, Luiz protagonizou todos os lances de perigo do Flamengo no primeiro tempo. Ele é quem rouba a bola que termina em finalização fraquinha de Gabigol. Do pé esquerdo dele, sai um belo drible em Sanchez e um toque de três dedos para o mesmo Gabriel abrir o placar. Não satisfeito, ele ainda cruzaria mais uma na direção do 10, que bateria, com a direita, nas mãos do goleiro.

As análises do ge não se propõem a descrever lances, mas seria injusto com o cara do jogo não detalhá-las. O placar do primeiro tempo não foi mais elástico por conta de erros técnicos e falta de confiança. Não tem nada a ver com pouca produção ou um suposto domínio falso .

Wesley, por exemplo, abusou dos erros em tomadas de decisão. O próprio Gabigol ainda evitou partir para o um contra um e cometeu equívocos que são típicos de quem ainda está sem confiança, mas o gol com um toque de qualidade deve ajudá-lo a ganhar mais minutos. Pedro é o titular de Tite, porém o camisa 10 tem conseguido encontrar espaços para finalizar e marcar.

Falamos e - falaremos - pouco de De la Cruz, mas o pouco - desculpe pela redundância - que ele fez foi significativo novamente. Mexeu-se como sempre, escondeu a bola e deu bons passes.

A escalação de uma equipe mista foi importante também para distribuir confiança a outras peças importantes do elenco. Depois de alguns jogos ruins, Ayrton Lucas , ciente de que Viña chega com status de titular, reagiu bem. Não apenas pelo gol.

Houve química com Bruno Henrique . Se no ano passado muitos argumentavam que um tirava o espaço do outro, neste sábado os dois se entenderam bem. BH ainda não foi aquele jogador letal, de presença marcante no jogo aéreo e finalizações constantes, mas deu opção a toda hora. E melhor: movimentou-se de forma que Ayrton aparecesse como opção a todo instante.

Tabelaram no início do segundo tempo e por pouco o camisa 6 não marcou. No fim do jogo, em jogada parecida, Ayrton iniciou a jogada pela lateral, tabelou com Arrascaeta, e atacou por dentro para fechar o placar.

O passe vertical de David Luiz apareceu. É zagueiro que constrói jogo. No início do segundo tempo, deu ótima bola para Gabigol, que não aproveitou e caiu na entrada da área. No primeiro tempo, já tinha encaixado outra bola interessante. Defensivamente, fez boa dupla com o titularíssimo Fabrício Bruno.

Depois de um 2023 marcado por lesões em Galo e Flamengo , Allan ainda reage devagar, mas já mostrou que também é capaz de quebrar linhas com seus passes na direção do gol. Ainda no primeiro tempo, deixou Gabigol em excelentes condições, mas o camisa 10 optou por não tentar o um contra um e acabou errando passe simples para Bruno Henrique. No combate, não apresentou problemas.

Dos reservas que iniciaram neste sábado, além do já citado Wesley, Victor Hugo também não aproveitou a oportunidade. Tite, porém, fez um mea-culpa e disse que o escalou erradamente. Em entrevista coletiva, desculpou-se com o jogador e sua família. Disse que o prejudicou.

Se o Flamengo dominava, mas não matava com a escalação inicial, as entradas de Pulgar, Gerson e Arrascaeta tiraram qualquer chance do Volta Redonda. Os dois últimos estavam inspirados, e o uruguaio decidiu a parada ao sofrer pênalti e dar a assistência para Ayrton.

Pedro, que saíra vaiado da vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, também teve sua chance de recuperar confiança. Bateu o pênalti fraquinho e, após Paulo Henrique se adiantar e pegar, foi cobrado pela torcida com os gritos de "queremos respeito e comprometimento".

Sorte dele é que o puxão de orelhas da arquibancada veio antes da segunda cobrança, já que o árbitro mandara voltar devido à infração do goleiro do Volta Redonda. O camisa 9 não desperdiçou a chance, encheu o pé e cerrou os punhos para vibrar muito.

Pedro comemora com raiva o gol contra o Volta Redonda — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

O Flamengo funcionou no 4-3-3, finalizou 20 vezes e só não goleou o time de Felipe Maestro porque esbarrou em erros individuais e também em defesas do goleiro adversário. Apesar de o sistema ser mais cômodo no momento, já que fora escolhido para as 12 partidas de Tite em 2023, o comandante não optará pela via mais fácil e confortável. Vai insistir pela excelência com o meio-campo mais técnico possível. Pulgar, Gerson, De la Cruz e Arrascaeta o formam no 4-1-4-1.

- Em termos táticos, a equipe está ajustada com externos. Desde o ano passado a gente ajustou, e ela está coordenada. Precisa de tempo para coordenar com o flutuador, com o articulador. Ou vocês acham que em outras equipes em que eu tinha articulador do lado direito, fiz assim (estalo) e começou a jogar na hora? Precisa de tempo para ajustar a flutuação. Uma (formação com pontas) já tem dominada a outra (com articuladores) precisa de tempo para ser ajustada

Paciência não é o forte do rubro-negro, principalmente depois do protagonismo reassumido a partir de 2019 e do que não conquistou em 2023. Mas, apesar de alguns tropeços, é preciso destacar: o Flamengo , já com dois clássicos nas costas, sofreu apenas um gol na competição. E mais: tirado o asterisco da tabela e com mesmo número de jogos que os concorrentes, assumiu o segundo lugar e depende apenas de si para terminar a Taça Guanabara no primeiro lugar.

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Fonte: Globo Esporte