Análise: Flamengo chama o Ceará para o seu campo e é penalizado em mais uma falha de Hugo Souza

O Flamengo não foi consistente no empate por 2 a 2 com o Ceará. Teve bons inícios nas duas etapas, mas em nenhum momento teve domínio claro contra um rival bastante inferior no Castelão.

O time foi diferente em relação ao volume apresentado contra o Botafogo, em que pressionou muito o rival. Repetiu, porém, a forma de perder pontos: numa nova falha decisiva de Hugo Souza , que vive sua pior temporada no clube desde a profissionalização, em 2020. O gol sofrido nos acréscimos quebrou qualquer chance de reação do Flamengo (veja abaixo).

Hugo Souza vem falhando frequentemente pelo Flamengo em 2022; Paulo Sousa, ao fundo, o bancou — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
1 de 4 Hugo Souza vem falhando frequentemente pelo Flamengo em 2022; Paulo Sousa, ao fundo, o bancou — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Hugo Souza vem falhando frequentemente pelo Flamengo em 2022; Paulo Sousa, ao fundo, o bancou — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Erros técnicos de Hugo e de opção de Paulo Sousa

É injusto colocar somente na conta do goleiro até porque, como citado anteriormente, o Flamengo não amassou o Ceará, adversário que deu muitos espaços durante todo o jogo. Mas Hugo já soma quatro falhas decisivas em 2022.

Errou no primeiro clássico, no gol de Arias na derrota por 1 a 0 para o Fluminense. Na Supercopa, falhou no gol de Nacho Fernández ao espalmar chute de Guilherme Arana. No último fim de semana, botou para dentro chute do botafoguense Erison. E agora, neste sábado, posicionou-se mal e tomou a decisão errada em falta cobrada por Nino Paraíba de muito longe.

Paulo Sousa e Paulo Grilo, o preparador de goleiros, também têm parcela de culpa. Embora queiram dar moral ao goleiro no qual apostaram desde o início da temporada, as falhas e a intranquilidade que ele demonstra após as mesmas talvez merecessem uma reflexão maior até para preservá-lo. Contra o Botafogo, no fim de semana passado, por exemplo, saiu em falso duas vezes em bolas fáceis após o gol alvinegro.

É verdade que especificamente para esse jogo com Ceará não havia outra decisão a ser tomada já que Santos e Diego Alves estavam indisponíveis. Colocar o jovem Matheus Cunha seria um novo erro, mas Hugo vem errando não é de hoje.

A opção de transformar Santos em goleiro de copas e Hugo no titular do Brasileiro mostrou-se equivocada também. Isso, claro, foi decidido antes de o ex-atleticano sofrer lesão de grau 2 no quadríceps da coxa esquerda. A questão é que Santos, com convocações recentes para a Seleção, mostrou-se seguro nos quatro jogos pelo Flamengo . Hugo não conseguiu passar a mesma tranquilidade.

O jogo: acertos e erros individuais refletem bem o 2 a 2

O Flamengo teve em Arrascaeta novamente uma figura central no último passe. Além das duas assistências em bolas paradas, foi muito bem no combate enquanto teve pernas. Embora seja um jogador especialmente criativo, terminou como o terceiro maior desarmador (quatro no total), atrás apenas do volante João Gomes (cinco) e do meia adversário Lima (seis).

Citar Willian Arão como outro destaque parece elementar pelos dois gols marcados, ainda mais tratando-se de um volante, cuja função primordial não é marcar gols e sim os adversários. Pois bem, Arão deu fluidez à saída de bola e conseguiu durante a maior parte do jogo atuar alinhadamente com João Gomes, que mais uma vez foi preciso no combate.

No segundo tempo, Arão cansou e errou alguns passes que não costuma - foram nove no total -, mas nada que comprometesse o quanto fez diferença enquanto estava inteiro. Quase entregou num vacilo próximo à área, mas Gomes limpou sua barra.

Se a individualidade dos três citados acima ajudou, erros também individuais - e aos montes - de outros jogadores fizeram negativamente a diferença para o Flamengo não vencer. Apesar de Hugo, que poderia ter deixado sua meta no primeiro gol, já ter sido citado à exaustão, outros jogadores destoaram bastante.

Isla entrega o ouro infantilmente

Isla cometeu erro mais crasso do que o de Hugo. A diferença é que o fez no meio do primeiro tempo e não nos acréscimos. Parou Zé Roberto com falta tática no círculo central e, em vez de fazer valer a experiência de Copa do Mundo e do alto de seus 34 anos, devolveu a bola de calcanhar para Zé Roberto, a quem havia agarrado. O rival bateu rápido e deixou Mendoza na boa para empatar.

Além da grave falha no gol, o chileno errou passes simples no setor defensivo e quase entregou outra no início da etapa final. Após o jogo, Paulo Sousa explicou que o sacou por conta de problemas físicos e não devido aos inúmeros erros técnicos.

Everton Ribeiro, que vinha numa crescente, matou muitas tramas ofensivas do Flamengo por decisões erradas. Se nos prendermos aos números, observa-se que teve 91% de índice de acerto de passes. Mas a verdade é que complicou algumas jogadas em que recebeu com liberdade, mudando de direção ou optando pelo companheiro que não estava na melhor posição.

No outro lado da defesa, Ayrton Lucas foi envolvido pelos atacantes e sofreu com Mendoza. De tanto ter que persegui-los, ficou pendurado com cartão amarelo e no fim do primeiro tempo teve de evitar falta em Erick em progressão para escapar de uma expulsão. Sorte é que Willian Arão o parou com um tranco na entrada da área. Paulo Sousa não pensou duas vezes e sacou Ayrton no intervalo.

Ayrton Lucas, do Flamengo, não foi bem contra o Ceará — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
2 de 4 Ayrton Lucas, do Flamengo, não foi bem contra o Ceará — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Ayrton Lucas, do Flamengo, não foi bem contra o Ceará — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Substituições parcialmente explicadas

As mexidas de Paulo Sousa foram alvo de questionamento, sobretudo em relação à escolha por Matheuzinho, lateral-direito, para substituir Ayrton na esquerda. Ao perceber que errou, colocou Marcos Paulo no lugar de Isla e devolveu Matheuzinho à posição de origem.

Na coletiva, Paulo não foi perguntado e, talvez por isso, explicou por que improvisou Matheuzinho. Mas citou outras três substituições forçadas. Não queria tirar David Luiz, Bruno Henrique e nem Isla. Sua prioridade era dar gás novo ao meio-campo.

- Fomos obrigados a fazer três substituições que não queríamos. Bruno Henrique precisava sair, David no intervalo já tinha condições que não lhe permitiam dar o máximo e o próprio Isla, que, próximo de mim, me disse que estava com condições debilitadas - disse Paulo Sousa, que prosseguiu:

- Tínhamos definidos de refrescar o nosso meio para continuarmos a ter mais controle porque estávamos perdendo. Tínhamos iniciativa em transições, mas estávamos a perder o controle do jogo.

Ceará vai para cima do Flamengo

Com mexidas forçadas ou não e diante de um Arrascaeta visivelmente cansado, o Flamengo , como disse Paulo Sousa, perdeu o controle do jogo e ficou acuado. Como defendia bem, pouco sofria, mas não saía mais para tentar matar o jogo.

De tanto ficar em seu campo, as oportunidades vieram, e o Ceará conseguiu o merecido empate em mais uma falha de Hugo Souza.

E Gabigol?

Gabigol esteve sumido, tanto que não o citamos aqui, mas foi pouco acionado. Prova disso é que saiu muito da área e até apareceu num lançamento que Bruno Henrique não aproveitou. Paulo Sousa lamentou bastante na coletiva o fato de BH não ter concretizado jogada iniciada por desarme de Arrascaeta e passe longo de Gabi.

Valeria até tentar Pedro por uma mudança de característica e com um Flamengo menos agudo na parte final do jogo. Mas, mesmo discreto, além do lançamento para Bruno, Gabigol sofreu pênalti ignorado pela arbitragem e pelo VAR. Na Central do Apito, Sandro Meira Ricci afirmou que Richardson fez a falta.

Pressão segue alta

A intranquilidade trazida por um novo tropeço pautado por erros individuais e por um futebol que ainda segue inconsistente por responsabilidade do treinador são garantias de que o Flamengo terá mais uma semana tensa.

Protestos contra a atuação política de Rodolfo Landim e a ausência de resultados do time tornaram-se corriqueiros em todos os cantos do país, e, pelo termômetro das redes, isso se estenderá ao Maracanã na próxima terça-feira.

Sem jogar no estádio desde o último dia 20, a expectativa é de que o time entre em campo para confirmar sua vaga nas oitavas de final da Libertadores, contra a Universidad Católica, sob muita pressão.

Mais do que apenas vencer um adversário bastante inferior é preciso evoluir. Dentro e fora do campo.

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Fonte: Globo Esporte