2ª Guerra Mundial, despedida de Zico, recorde de Fred... Os Fla-Flus 100, 200, 300 e 400 após unificação

Chamado de clássico "mais charmoso do Brasil", o Fla-Flu completou 100 anos há pouco tempo, em 2012 ( o ge fez na época uma página com várias especiais que você ainda pode ver clicando aqui ). Mas você sabe quando foi o centésimo Fla-Flu da história? E o de número 200, 300... Não se falava sobre isso até porque cada clube tinha uma contagem diferente. Mas em março, Fluminense e Flamengo tiveram a ideia de se juntar para promover uma unificação dos dados.

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À la Gre-Nal, o clássico passou a ser oficialmente numerado , e o deste sábado, por exemplo, às 21h05 (de Brasília) no Maracanã, pela primeira partida da final do Campeonato Carioca, será o Fla-Flu 432 (e semana que vem, o 433). Com isso, foi possível revirar os arquivos para descobrir quais foram os "jogos centenários". Nenhum foi valendo título, mas coincidentemente todos tiveram curiosidades marcantes para a história dos duelos entre Fluminense e Flamengo. Confira abaixo:

Fla-Flu 100: Flamengo 1 x 2 Fluminense

O centésimo jogo entre rubro-negros e tricolores aconteceu há quase 80 anos, foi no dia sete de junho de 1942. Naquela época, o duelo já tinha seu charme e era chamado de "clássico das multidões". Mobilizava a cidade e arrastava grandes públicos fosse onde fosse. Na "Era pré-Maracanã", o confronto centenário foi disputado em São Januário, que ficou lotado. Foram 40 mil ingressos vendidos e uma renda recorde até então naquele Campeonato Carioca de $ 134.464 mil réis.

A arquibancada lotada de São Januário em recorte do "Jornal dos Sports" de 09/06/1942 — Foto: Reprodução
2 de 7 A arquibancada lotada de São Januário em recorte do "Jornal dos Sports" de 09/06/1942 — Foto: Reprodução

A arquibancada lotada de São Januário em recorte do "Jornal dos Sports" de 09/06/1942 — Foto: Reprodução

O Estadual na época era no sistema de pontos corridos, e o Fla-Flu foi na última rodada do turno. O Fluminense liderava o campeonato com 15 pontos, um a mais que o Botafogo e quatro à frente do Flamengo. Para fortalecer sua defesa, o Rubro-Negro havia acabado de contratar o goleiro Jurandyr, do Giminasia y Esgrima, e planejou a estreia no clássico. Porém, os documentos da Argentina não chegaram a tempo de regularizá-lo. Já o Tricolor perdeu o meia Magnones e o atacante Pedro Amorim por lesões.

Quando a bola rolou, o Fluminense não demorou a abrir o placar com Russo, aos 16 minutos. E ampliou quatro minutos depois com Carreiro, contando com a falha do goleiro Yustrich. O Flamengo reagiu ainda no primeiro tempo e descontou com Vevé aos 28. E pressionou atrás do empate na etapa final, com direito ao zagueiro Domingos da Guia virando atacante. Mas os tricolores seguraram a vitória (que na época valia dois pontos) e mantiveram a liderança.

Futebol dividindo as atenções com os conflitos da guerra na capa do jornal "O Globo" de 08/06/1942 — Foto: Reprodução
3 de 7 Futebol dividindo as atenções com os conflitos da guerra na capa do jornal "O Globo" de 08/06/1942 — Foto: Reprodução

Futebol dividindo as atenções com os conflitos da guerra na capa do jornal "O Globo" de 08/06/1942 — Foto: Reprodução

Mas, nos jornais, a rodada (que teve também um outro clássico entre Botafogo e Vasco) dividiu as atenções com novos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, conflito militar global que durou de 1939 a 1945 e confrontou potências como Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética, contra países como Alemanha, Itália e Japão.

Escalações:

  • Flamengo: Yustrich, Domingos da Guia e Nilton; Biguá, Volante e Jayme; Valido, Zizinho, Pirólio, Peracio e Vevé; Técnico: Flávio Costa.
  • Fluminense: Batatais, Norival e Renganeschi; Vicentini, Spinelli e Afonsinho; Maracaí, Pedro Nunes, Russo, Tim e Carreiro; Técnico: Ondino Vieira.

Fla-Flu 200: Fluminense 0 x 2 Flamengo

Se o centésimo clássico demorou 30 anos, a segunda centena foi mais rápida e levou "só" 24 anos. O Fla-Flu de número 200 aconteceu no Maracanã, no dia 23 de outubro de 1966, novamente pelo Carioca. O Estadual ainda era no sistema de pontos corridos, e mais uma vez o confronto foi na última rodada do turno. O Fluminense também liderava o campeonato com 16 pontos, empatado com o Bangu e um ponto à frente de um invicto Flamengo comandado por um ex-jogador que estava no rival em 1942.

Manchete do "Jornal dos Sports" cita invencibilidade do Fla e revolta do Flu em 24/10/1966 — Foto: Reprodução
4 de 7 Manchete do "Jornal dos Sports" cita invencibilidade do Fla e revolta do Flu em 24/10/1966 — Foto: Reprodução

Manchete do "Jornal dos Sports" cita invencibilidade do Fla e revolta do Flu em 24/10/1966 — Foto: Reprodução

Além da disputa pela ponta da tabela, o clássico era uma revanche após o Fluminense ter vencido a Taça Guanabara (na época uma competição à parte do Carioca) em cima do Flamengo. E houve "vingança" em um duelo com três expulsões. Enquanto o Tricolor jogou sem o meia Roberto Pinto e o ponta Mário Tilico, machucados, o Rubro-Negro teve a volta do meia Nelsinho. Mas foi o atacante Almir Pernambuquinho, que era dúvida para a partida por questões físicas, que foi decisivo.

O Fluminense começou pressionando, mas tudo mudou após uma cabeçada de Almir em Oliveira fora da disputa de bola, o que a arbitragem não viu. Jogadores tricolores perderam a cabeça, e o Flamengo aproveitou para abrir placar com Osvaldo aos 31 minutos. Logo depois, Denilson entrou duro em Almir e foi expulso. Bauer reclamou e bateu boca com o árbitro e também recebeu o vermelho. Com isso, o time teve que jogar mais da metade da partida com nove atletas. Na etapa final, logo aos cinco minutos, Paulo Henrique fez o segundo e decretou a vitória rubro-negra. Que só não foi mais tranquila porque Almir se desentendeu com Vitório e também foi para o chuveiro aos 29.

Nelson Rodrigues e Mario Filho, os irmãos que deram mais charme ao Fla-Flu — Foto: Arquivo pessoal
5 de 7 Nelson Rodrigues e Mario Filho, os irmãos que deram mais charme ao Fla-Flu — Foto: Arquivo pessoal

Nelson Rodrigues e Mario Filho, os irmãos que deram mais charme ao Fla-Flu — Foto: Arquivo pessoal

Enquanto o Flamengo ultrapassava o rival na tabela, com 17 pontos, e mantinha sua perseguição ao Bangu, com 18, o Fluminense caiu para a terceira posição, com 16, e reclamou muito da arbitragem. A diretoria tricolor inclusive pediu que o árbitro Airton Vieira de Moraes, conhecido como "Sansão", não apitasse mais jogos da equipe. O jogo recebeu 57.839 pagantes, com uma renda de Cr$ 62.653.560 cruzeiros, um recorde àquela altura do campeonato. Outra curiosidade é que foi o primeiro Fla-Flu após a morte de Mário Filho, jornalista irmão de Nelson Rodrigues que faleceu em 17 de setembro, deu nome ao Maracanã e foi um dos grandes responsáveis por promover o clássico.

Escalações:

  • Fluminense: Vitório, Oliveira, Caxias, Altair e Bauer; Danílson e Jardel; Amoroso, Samarone, Américo e Lula; Técnico: Tim.
  • Flamengo: Franz, Murilo, Itamar, Jayme Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Gildo, Silva, Almir e Osvaldo; Técnico: Renganeschi.

Fla-Flu 300: Fluminense 0 x 5 Flamengo

A terceira centena do clássico foi a mais rápida: demorou "apenas" mais 23 anos e aconteceu no dia 2 de dezembro de 1989. E se tornou uma partida de despedidas. Uma delas, inesquecível para todos os rubro-negros que viveram na época. Afinal, foi o adeus oficial a Zico, o maior ídolo do Flamengo de todos os tempos, e com direito a um chocolate no placar: 5 a 0. A outra, foi uma "pré-despedida" de Telê Santana, ídolo como jogador e técnico, que já havia anunciado a sua saída do clube ao final do ano (restava mais um jogo).

Desta vez, a marca foi atingida em outro campeonato, o Brasileiro, e outra cidade, Juiz de Fora. Partida que praticamente não valia mais nada na penúltima rodada: o Fluminense era o lanterna do Grupo B com 14 pontos e não tinha mais chances de classificar para a final, enquanto o Flamengo estava em quinto lugar do Grupo A com 16 pontos e tinha remotíssima oportunidade de seguir vivo, pois só avançava um de cada chave. Nesse contexto, decidiram levar o jogo para o município mais carioca de Minas Gerais.

Quando a bola rolou no Estádio Radialista Mário Helênio, Zico logo desfilou seu talento. O Galinho abriu o placar com um golaço de falta aos 21 minutos (seu último gol oficial pelo clube) e deu a assistência para Renato Gaúcho ampliar aos quatro do segundo tempo. Substituído três minutos depois por Uidemar, deixou o campo aplaudido de pé pela torcida. Mas a partida continuou e virou goleada: os 22, Luis Carlos fez o terceiro; Uidemar marcou o quarto aos 30, e Bujica fechou o marcador aos 42. Mesmo com esse resultado, o Flamengo não saiu do lugar, permaneceu em quinto com 18 pontos, e já sem chances de classificação após a vitória do São Paulo (21 pontos) sobre a Portuguesa.

Em sua despedida do Flamengo, Zico recebe o carinho do técnico do Fluminense, Telê Santana — Foto: André Durão/Agência O Globo
6 de 7 Em sua despedida do Flamengo, Zico recebe o carinho do técnico do Fluminense, Telê Santana — Foto: André Durão/Agência O Globo

Em sua despedida do Flamengo, Zico recebe o carinho do técnico do Fluminense, Telê Santana — Foto: André Durão/Agência O Globo

O clássico recebeu 13.683 pessoas e teve renda de NCZ$ 287.730,00 cruzados novos. Na prática, este foi o último jogo oficial de Zico, mas ele ainda disputou um amistoso no Maracanã, contra um combinado de grandes estrelas nacionais e internacionais, como seu último ato com a camisa rubro-negra que vestiu em 732 jogos. Já Telê Santana, que comandou o Fluminense em 109 partidas ao todo, encerrava a sua terceira e rápida passagem no clube após oito compromissos.

Escalações:

  • Fluminense: Ricardo Pinto; Carlos André, Édson Mariano, Alexandre Torres e Marcelo Barreto; Vitor, Donizete e Vânder Luis; João Santos, Sílvio e Franklin; Técnico: Telê Santana.
  • Flamengo: Zé Carlos; Josimar, Junior, Rogério e Leonardo; Ailton, Zico e Zinho; Luis Carlos, Renato Gaúcho e Bujica; Técnico: Valdir Espinosa

Fla-Flu 400: Flamengo 2 x 3 Fluminense

O último Fla-Flu de número redondo demorou mais 26 anos e aconteceu no dia 31 de maio de 2015. E desta vez, o clássico se tornou especial para os tricolores. Considerado o segundo maior ídolo do clube, só atrás de Castilho, Fred decidiu o jogo e ainda bateu um recorde: chegou a 107 gols na época e superou Paulo Baier como o maior artilheiro da Era dos pontos corridos no Brasileirão (atualmente, o centroavante tem 152 e continua isolado na liderança).

Outra curiosidade do confronto foi o reencontro do Fluminense com Cristóvão Borges, técnico que havia comandado o clube em 58 jogos entre 2014 e 2015, tinha sido demitido em março e menos de dois meses depois assumia o Flamengo para começar justamente no Fla-Flu. Mas as lembranças do treinador rubro-negro não foram nada boas da estreia.

Foi mais um jogo de Campeonato Brasileiro, só que agora no início (era apenas a quarta rodada), e novamente no Maracanã. Mas os dois rivais viviam climas conturbados após caírem nas semifinais do Carioca e começarem a Série A na parte debaixo da tabela. Quem perdesse o clássico entraria em crise, e foi o Flamengo. O Fluminense abriu o placar logo aos sete minutos, com Fred de pênalti. Pará fez gol contra e ampliou aos 32, e Alecsandro diminuiu aos 36. Na etapa final, Fred fez mais um no primeiro minuto, e Eduardo da Silva descontou no fim, aos 40.

Jogadores e diretoria do Flamengo reclamaram bastante do árbitro Sandro Meira Ricci — Foto: Divulgação
7 de 7 Jogadores e diretoria do Flamengo reclamaram bastante do árbitro Sandro Meira Ricci — Foto: Divulgação

Jogadores e diretoria do Flamengo reclamaram bastante do árbitro Sandro Meira Ricci — Foto: Divulgação

Jogo que ainda teve arbitragem polêmica de Sandro Meira Ricci, dois expulsos, um de cada lado (o tricolor Giovanni no início do segundo tempo e o rubro-negro Canteros no fim), um público de 28.663 pessoas no Maracanã e uma renda de R$ 1.063.622,50 reais. Outra curiosidade é que nesse clássico, o hoje flamenguista Gerson estava começando a brilhar no Fluminense com só 18 anos e já recebia uma chuva de elogios do vidente Fred, que já previa a ida da joia para a Europa.

Escalações:

  • Flamengo: Paulo Victor, Pará, Bressan, Wallace e Armero; Cáceres, Canteros, Arthur Maia e Everton; Paulinho e Alecsandro; Técnico: Cristóvão Borges.
  • Fluminense: Diego Cavalieri; Renato, Gum, Antônio Carlos e Giovanni; Edson, Jean, Wagner e Gerson; Vinícius e Fred; Técnico: Enderson Moreira.
Fonte: Globo Esporte
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