Neste domingo, o Flamengo e o mundo do futebol se despediu de Antônio Augusto Dunshee de Abranches, o único presidente campeão mundial da história do clube. O ex-dirigente faleceu aos 88 anos após uma longa batalha contra a doença de Alzheimer. Zico, maior ídolo da história rubro-negra, expressou seu pesar nas redes sociais: — "Hoje Deus levou um grande ex-presidente do Flamengo. Que ele descanse em paz e Deus conforte os familiares. Tive problemas pessoais com ele, mas reconheço a importância dele para nossa geração."
Um Legado de Conquistas
A gestão de Dunshee de Abranches, que se estendeu de 1979 a 1983, foi marcada por uma série de conquistas que consolidaram o Flamengo como uma potência no cenário nacional e internacional. Sob sua liderança, o clube conquistou cinco títulos em menos de três anos: o Campeonato Carioca, a Libertadores e o Mundial de Clubes de 1981, além dos Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1983. Contudo, seu mandato também foi marcado por uma crise política que culminou na renúncia antes do término do seu período.
A Renovação de Zico: Um Desafio Crucial
Um dos momentos mais emblemáticos da gestão de Dunshee de Abranches foi a renovação do contrato de Zico, que, aos 28 anos, já era um dos principais jogadores da Seleção Brasileira e havia levado o Flamengo ao seu primeiro título brasileiro em 1980. Em 28 de maio de 1981, o jornal O Globo noticiou o interesse do Barcelona em contratar o craque. Com a pressão de clubes árabes e o emissário do time espanhol em busca de Zico, a situação se tornou crítica.
Após intensas negociações, o craque aceitou a proposta rubro-negra, que incluía 50 milhões de cruzeiros em luvas parceladas e um salário que aumentaria ao longo do contrato. Dunshee de Abranches, eufórico, declarou: — "Estamos 'comprando' o Zico. E não temos dúvida de que fazemos um grande negócio." A renovação foi viabilizada com o apoio da Coca-Cola, que se tornou parceira do Flamengo, permitindo que o clube pagasse as luvas do jogador.
A Venda que Abalou o Clube
O clima de euforia, no entanto, foi rapidamente substituído por um sentimento de descontentamento quando, em junho de 1985, Zico foi vendido para a Udinese por 2 bilhões de cruzeiros. A notícia pegou a torcida de surpresa e gerou uma onda de protestos. O Flamengo enfrentava um dilema: recusar a oferta e arriscar perder o craque sem compensação financeira, ou aceitar a proposta e lidar com a revolta dos torcedores.
A venda foi aprovada em uma reunião do Conselho Deliberativo, mas não sem resistência. A pressão da torcida se intensificou, e a imagem de Dunshee de Abranches, que foi retratada de forma caricata na imprensa, acabou por agravar a situação. O dirigente, que havia tentado justificar a venda, acabou renunciando ao cargo em agosto, após uma derrota humilhante para o Botafogo.
Reflexões Finais
A saída de Dunshee de Abranches deixou um legado complexo. Enquanto muitos o lembram como um presidente que trouxe títulos ao Flamengo, outros o veem como o responsável pela venda de um dos maiores ídolos da história do clube. Zico retornaria ao Flamengo em 1985, mas a venda de sua imagem e talento para a Udinese ainda ecoa na memória dos torcedores. O dinheiro da transação, por sua vez, foi utilizado para a aquisição do terreno onde hoje se localiza o CT Ninho do Urubu, um marco na infraestrutura do clube.
A história de Dunshee de Abranches é um lembrete de como o futebol é feito de vitórias e derrotas, tanto dentro quanto fora de campo.