A Ferj vai inaugurar uma nova ferramenta pensando na capacitação e formação de árbitros no VAR. Depois de ter a tecnologia em todas as partidas do Campeonato Carioca pela primeira vez na história em 2025, a federação carioca montou uma estrutura para simular jogos e um curso para treinar os novos e até antigos profissionais.
A ideia é que árbitros e assistentes possam se capacitar em várias etapas ao longo do ano e não somente nas imersões feitas poucos dias antes das competições. A Ferj é a primeira feredação a fazer um CT específico para treinamento do VAR. Foi uma demanda apresentada pelo presidente Rubens Lopes. Depois da implementação na Primeira Divisão, a entidade projeta, no futuro, ter o VAR até na Série A2.
Ferj faz centro de treinamento do VAR na sede — Foto: Luiza Sá/ge
Mais do que apenas capacitar novos árbitros, a sala ficará à disposição para qualquer um que queira treinar. Em casos de erros, por exemplo, em que o profissional precise de uma reciclagem, esse equipamento também será utilizado.
— Quanto mais horas de voo o piloto tem, mais segurança ele passa à tripulação e aos passageiros. Trata-se de uma analogia que cabe no mundo do futebol. Investimos para que os nossos árbitros adquiram horas de VAR — afirmou o presidente da Ferj, Rubens Lopes.
O conteúdo teórico e prático foi montado pelo Departamento de Arbitragem do Futebol do Rio de Janeiro (DEAF-RJ). Serão quatro fases que vão abordar a introdução ao VAR, fundamento e aplicação, regras e protocolo de revisão, tecnologia e comunicação, processo revisão e estudos de casos, análise de lances e tomada de decisão, simulação de revisão em tempo real e uma avaliação final. O banco de dados de partidas abrange não só o futebol brasileiro como também jogos internacionais.
— Quando você senta em uma cadeira do VAR, tem que ter um conhecimento das regras do jogo e do protocolo. O treinamento será escalonado em módulos e subdividido em duas partes. Serão 20 alunos em cada turma, 10 ficam um determinado período na sala de aula atualizando regras do jogo e aprendendo o protocolo VAR e outros 10 no equipamento. Depois, há a inversão. O árbitro tem de saber se uma entrada é imprudente, temerária ou força excessiva, quando deve entrar, quando não deve. Mostramos uma série de lances que esse árbitro tem de tomar uma decisão. A finalidade é que esse jovem, quando chegue ao módulo profissional, já esteja preparado e acostumado com essa ferramenta que veio para ficar — disse o Coordenador Técnico do DEAF-RJ, Jorge Rabello.
A sala de simulação do VAR fica na sede da entidade, próxima do Maracanã. A ideia é que o visual seja exatamente como no ambiente dos jogos. São seis monitores, comunicação via rádio e um software para análise de lances, assim como acontece nas partidas. Uma equipe com experiência no uso da tecnologia vai liderar esse processo.
O curso contará com oito câmeras diferentes, mas na vida real esse número varia. Na final do Carioca, foram 10 ângulos, por exemplo. Em jogos maiores, como a Supercopa do Brasil, podem ser mais de 30. No sistema há diversas partidas completas e clipes já cortados com lances mais polêmicos.
Na dinâmica do VAR que será replicada no curso, o operador fica à direta, o VAR no centro e o AVAR (assistente) à esquerda. Há dois assistentes em alguns casos. O observador fica atrás para garantir que os protocolos sejam seguidos corretamente e não deve interferir.
O operador tem acesso a todas as câmeras disponíveis e coloca na tela do VAR e do AVAR as quatro pedidas por eles, podendo mostrar os lances mais lentos, mais rápidos ou em velocidade normal. O árbitro principal pode dar zoom, já que a tela é touch. O CT também simula a comunicação com o árbitro de campo, que não ouve sempre o que a cabine fala, apesar de o VAR ter acesso à comunicação do trio que está na partida a todo momento. Existe um botão que abre esse canal de diálogo.
Hoje, a preparação dos árbitros para o Carioca é feita em uma espécie de pré-temporada. Neste momento, há debates de lances, vídeos, entre outros. A CBF também adota essa "bolha" de treinamentos. Além disso, a Ferj vai aos clubes e faz reuniões para estabelecer as diretrizes do VAR antes do início das competições.
— Terminamos o Campeonato Carioca com um feedback da CBF de ter sido o melhor VAR dos estaduais. Foram 78 partidas e apenas em oito o árbitro foi até a área de revisão. Os índices de aproveitamento do VAR são a nível das principais ligas europeias. Esse ano apresentamos, por exemplo, cronômetro parado, a linha de 12 cm, mudamos a área de revisão de lado. Tudo isso foi mostrado aos 12 participantes e explicado. As medidas foram um sucesso — disse Jorge Rabello.