Um duelo que merecia sua própria unidade de grandeza: 1 Flamengo ou 1 Bayern?

Existe centímetro, existe quilograma, existe megabyte. E existe Flamengo. Existe também Bayern de Munique. Tão colossais quanto incômodos, esses dois clubes desafiam qualquer escala de grandeza conhecida. A régua do futebol comum não serve. Para mensurar Flamengo e Bayern, seria preciso criar uma nova unidade — talvez algo entre a vibração de um estádio em chamas e o peso de uma década inteira de títulos empilhados sem cerimônia.

De um lado, o império rubro-negro da Gávea. Do outro, o rolo compressor bávaro. São os clubes com as maiores torcidas de seus países, os mais ricos, muito vitoriosos e — não por coincidência — os mais odiados também. Carregam a aura "malvadona" dos que mandam e desmandam, colecionam simpatias planetárias e antipatias domésticas. O que está em jogo quando eles se enfrentam vai além de uma vaga: trata-se de entender, ou ao menos tentar, quem é maior. Mas como se mede esse tipo de grandeza?

Quilômetros de títulos? Litros de suor ou de cervejas alemãs tomadas a cada taça? Toneladas de torcida? O Bayern ganha o Campeonato Alemão há tanto tempo e de forma tão comum que virou unidade de tempo por lá: 1 Bayern equivale a uma temporada de Bundesliga. Já o time brasileiro transforma o Maracanã em um vulcão emocional perene. Seu equivalente é mais telúrico: 1 Flamengo = abalo sísmico em dia de jogo grande + festa em todo canto da cidade se sai gol.

Mas a ciência não para por aí. Em matéria de amor e ódio, nenhum laboratório consegue explicar. Ambos são amados com fervor e odiados com afinco. Cada um é um sol: atrai milhões e queima os olhos de quem não suporta tanto brilho. Rivais tentam combatê-los com argumentos morais. Mas como refutar clubes com esse tamanho?

Os ídolos mereciam virar referência técnica. Zico: uma medida sagrada de criatividade, devoção e amor popular. Beckenbauer: a régua imperial do respeito, da elegância e da liderança em campo. E aí começam os cálculos malucos: seria 1 Gabigol igual a 0,75 Müller + 2 gols em finais de Libertadores? Ou 1 Neuer tem densidade 7 vezes maior para barrar o gás de um Pedro iluminado?

Kimmich é um elemento estável, germânico, que não reage com provocações — mas dissolve sistemas táticos com precisão cirúrgica. Arrascaeta é volátil, sensível à atmosfera do jogo, e libera seu talento quando o ambiente atinge ponto de combustão. Goretzka é composto orgânico de músculo e geometria. O recém-chegado Jorginho, um catalisador: acelera reações e facilita um futebol que parece impossível.

E então chegará o domingo, oitavas de final do Mundial de Clubes, quando essas duas unidades de grandeza finalmente colidem. De um lado, o Bayern exalando tranquilidade científica: Muller, fechado em sua autoestima, admitiu que nem viu os outros jogos do torneio ainda — só agora vai estudar o Flamengo. Vicente Kompany, técnico dos alemães, se refere ao duelo como uma “tarefa”. Do outro, o Flamengo, com Filipe Luís no banco, tratando o confronto como uma “missão”. Mas missão não é desespero — é oportunidade. O rubro-negro sabe que não é o favorito, mas não se abala. Quem vive nessa escala simplesmente não admite ser pequeno. No máximo, se adapta. Será mesmo? Só o campo vai dizer.

No fim das contas, a pergunta volta. Mas talvez nem precise de resposta. Flamengo e Bayern não cabem nas prateleiras do possível. São clubes que não aceitam rótulos, limites ou modéstia. E isso é o mais fascinante — e o mais perigoso. O confronto entre eles não é apenas um jogo. É uma colisão de mundos, de grandezas em estado bruto.

A única certeza? Que a régua vai quebrar. E que quem sair vencedor dessa batalha não leva só a vaga — leva também moral, embalo e uma trilha sonora na cabeça. Porque seja Bayern ou Flamengo, quem passar por Miami vai sair cantarolando que o PSG pode esperar... A hora de um gigante há de chegar. No Hard Rock Stadium, vamos descobrir qual vai ser.

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Fonte: O Globo
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