Uma simples viagem para ver o clube de coração em outro país virou uma verdadeira saga para voltar (e história para contar). O rondoniense Tim Orellana, de 49 anos, esteve no fim do mês passado em La Paz para ver a classificação do Flamengo sobre o Bolívar nas oitavas de final da Libertadores. Mas só conseguiu voltar para sua casa em Porto Velho no último sábado, dia 7 de setembro, após passar vários dias tentando sair da Bolívia.
Tudo começou na terça-feira de 20 de agosto, dois dias antes do jogo. Tim saiu de Porto Velho para Santa Cruz de la Sierra de avião para ficar no mesmo hotel do Flamengo , e o plano de ter contato com os jogadores deu certo. A viagem começou com o pé direito! Assim como o time, ele só subiu para La Paz na quinta-feira, horas antes da partida, e acompanhou a classificação de perto no estádio Hernando Siles. Mas enquanto os rubro-negros retornavam no dia seguinte, o rondoniense decidiu ficar mais 24 horas na cidade para passear. Aí é que as coisas começaram a dar errado.
Por causa de muitas queimadas na fronteira, a fumaça fechou as rotas de voo para a região Norte do Brasil. Ele então decidiu pegar um ônibus sexta-feira à noite para Cochabamba, na esperança de conseguir um voo ou um ônibus por lá para o seu país. Em vão. O problema era maior e afetava várias cidades. Tim então decidiu voltar de avião para Santa Cruz de la Sierra no domingo.
- Fiquei com medo de ficar isolado, por isso peguei ônibus. Na minha cabeça a coisa estava ruim só em La Paz, mas quando cheguei em Cochabamba não tinha avião e nem ônibus para a região Norte do Brasil. Fui para Santa Cruz e também não tinha nada naquela direção, ficavam remarcando meu voo por causa da fumaça. E para piorar houve uma greve de ônibus na cidade por causa do diesel. Tempo foi passando, e eu só pensava: "Preciso sair daqui" - contou ao ge .
Em Santa Cruz de la Sierra, Tim conseguiu comprar passagem de avião para Porto Velho para a terça-feira. Mas no dia da viagem a empresa aérea boliviana remarcou o voo para dois dias depois, alegando que as condições ainda estavam ruins, e repetiu o adiamento novamente. Depois de uma semana esperando, ele decidiu que iria cruzar a fronteira por terra. Como a cidade estava em greve, ele se juntou a vários bolivianos para fretar um ônibus até Trinidad. Era noite de terça, 2 de setembro.
Depois de nove horas de viagem, ele chegou quarta pela manhã na cidade boliviana. No mesmo dia, pegou um ônibus leito e encarou mais 13h até Riberalta, onde conseguiu uma mini van que o levasse até Guayaramerín, município que faz fronteira com o Brasil. Já era noite de sexta-feira quando Tim chegou ao Rio Mamoré, que divide os países, e conseguiu pegar a balsa para a cidade brasileira de Guajará-Mirim. De lá, pegou um taxi e encarou as últimas quatro horas do trajeto até Porto Velho, chegando enfim em casa na madrugada de sábado.
Durante a longa viagem de volta, Tim foi gravando (enquanto teve bateria no celular) trechos dos percursos e mostrando nas redes sociais. O torcedor fez todo o trajeto acompanhado de Deile, uma conterrânea que encontrou em La Paz e acabou ficando "presa" na Bolívia junto com ele. Mas acabou tendo um baita prejuízo financeiro nessa aventura:
- Meu cartão internacional estourou o limite, e minha mãe me ajudou mandando dinheiro. Mas pagava taxa para depositar no Brasil e outra para eu sacar na Bolívia. Até onde fiz as contas, gastei uns R$ 12 mil. Ainda bem que a nossa moeda lá é forte, coisa de dois para um, senão seria pior. E a sorte é que sou autônomo, senão estava f... (risos), estaria demitido há muito tempo - brincou.
A passagem de avião que chegou a comprar em Santa Criz de la Sierra a companhia aérea não devolveu o dinheiro, mas deu a validade de um ano para Tim remarcar a passagem. Agora, ele vai deixar na "manga" na esperança de usá-la para ver novamente o Flamengo na Bolívia na Libertadores de 2025. E espera que o perrengue que passou inspire o time de Tite:
- Tomara, né? A gente tem que ser campeão, pelo menos já estou com a passagem certa para a Argentina, esperando a final. Comprei deve ter uns dois, três meses. Vamos estar lá. Se não der certo, pelo menos eu vou passear.
Em Porto Velho, Tim é embaixador da "Nação Rondônia", embaixada do Flamengo na cidade. E nesta quinta ele vai se reunir com os amigos rubro-negros para matar a saudade do time depois de não conseguir ver nenhum dos três jogos desde a classificação na Libertadores (vitórias sobre Bragantino e Bahia e derrota para o Corinthians):
- Consegui ver nada. Em Santa Cruz não passa nossos jogos, nem no boteco que só tem brasileiros. Amanhã (quinta) já vou reunir com a tropa aqui em Porto Velho para assistir.
O Flamengo recebe o Bahia às 21h45 (de Brasília) no Maracanã, valendo uma vaga na semifinal da Copa do Brasil. Como venceu o primeiro jogo em Salvador por 1 a 0, o Rubro-Negro tem a vantagem do empate para se classificar.
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