Taça nunca entregue, jogo duplo e edição fantasma: as histórias da Supercopa do Brasil

O objeto de desejo de Flamengo e Athletico pesa dez quilos, tem 65 centímetros de altura e é feito de aço. A taça da Supercopa do Brasil é desejada por ser inédita, mas o futuro campeão também terá o direito e fazer algo simples e importante: erguê-la. Pode parecer algo bobo, mas é de causar inveja ao Grêmio, que não teve essa chance em 1990. Esta é uma das histórias peculiares envolvendo o torneio.

A Confederação Brasileira de Futebol ainda não bateu o martelo sobre o número desta edição. O motivo é que o registro dos torneios anteriores não foi encontrado por terem sido feitos de maneira informal no passado. Com isso, a entidade analisa como será tratada esta edição e a oficialização dos anteriores. Em 2020, a CBF está investindo pesado para torná-la um sucesso e uma constante no calendário.

Citado, o Grêmio foi o campeão em 1990, que também teve o Vasco (vencedor do Brasileiro de 1989) como participante. Porém, o estrangulamento do calendário fez com que a CBF tivesse que improvisar datas e aproveitar a Libertadores para realizar os jogos. Como os clubes estavam no mesmo grupo, os jogos de ida e volta valeram pelos dois torneios. O problema é que muitos atletas não sabiam disso e até a imprensa tinha dúvidas.

O GLOBO confirma Grêmio x Vasco pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/O GLOBO
O GLOBO confirma Grêmio x Vasco pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/O GLOBO
Placar não confirma Grêmio x Vasco pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/Placar
Placar não confirma Grêmio x Vasco pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/Placar

— Nós não fomos informados disso, não (risos). Nem lembrávamos de Supercopa do Brasil. Era tanto jogo, tanto campeonato, que o pessoal fazia até confusão. Nós jogamos como se fosse um jogo valendo pela Libertadores — conta Tita, que atuou pelo Vasco naquela decisão.

Na ida, pelo Grupo 5 da Libertadores, vitória do Grêmio por 2 a 0. Curiosamente, caso o Vasco devolvesse o placar na volta, o regulamento dizia que o título seria decidido em um "sorteio", já que não seria possível colocar pênaltis em um torneio organizado pela Conmebol. Em São Januário, o empate sem gols deu o título aos gaúchos, que sequer tiveram uma taça entregue para comemorar. A reclamação formal está presente no site do Grêmio até hoje.

"E foi com um empate em 0 a 0 que o Grêmio sagrou-se Supercampeão do Brasil no dia 18/04/1990. Todavia, o troféu do título até hoje não foi entregue pela CBF ao Grêmio", diz o site do Grêmio na categoria títulos.

— Não lembro direito, ninguém comentou que estava valendo título. Para a gente, valia os três pontos na Libertadores. Não teve premiação, nada. Imagina taça. Nem antes, nem durante, nem depois, ninguém comentou nada — conta Nilson, que atuou pelo Grêmio.

Cartaz de reclamação usado pelos gremistas Foto: Reprodução
Cartaz de reclamação usado pelos gremistas Foto: Reprodução

Procurado, o Grêmio informou que entrará com um pedido para que a taça seja entregue devido a retomada do torneio.

No ano seguinte, o torneio teve a chance de ouro para vingar: Corinthians e Flamengo reuniriam as duas maiores torcidas do país no Morumbi, para uma final em jogo único e com data previamente marcada. Tudo para não ter problemas. Sucesso? A vitória corintiana por 1 a 0, com gol de Neto, foi vista por apenas 2.706 torcedores. Não houve premiação e o título rendeu ao Corinthians a posição de 'Brasil 1' na Libertadores.

Os motivos para o baixo público nunca ficaram claros, mas giram em torno de quatro pontos principais, de acordo com os jornais da época: o desinteresse do torcedor, ter coincidido com o feriadão do aniversário de São Paulo, ter sido realizada no mesmo dia da eleição presidencial corintiana, e pela forte chuva que atingiu a capital no dia anterior.

O GLOBO confirma Corinthians x Flamengo pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/O GLOBO
O GLOBO confirma Corinthians x Flamengo pela Supercopa do Brasil Foto: Reprodução/O GLOBO

— Eu fiz o gol do título e, para mim, foi muito importante. A verdade é que, como o Corinthians foi campeão em 1990, a Supercopa não foi tão valorizada. Não houve uma dedicação das duas equipes por ela. Tanto que, em 30 anos, a primeira entrevista que dou falando dela é para vocês. Nenhum torcedor do Corinthians me para na rua para agradecer pelo gol do título, por exemplo — conta Neto.

Ainda existiu uma edição "fantasma" de Supercopa do Brasil, que uniria o Flamengo (campeão da Série A) e o Paraná (vencedor da Série B) e foi batizada de "Taça Brahma". O rubro-negro venceu nos pênaltis por 4 a 3, mas nem a CBF — que não organizou a partida — nem o próprio Flamengo consideram um torneio oficial — o título sequer era citado no site oficial do clube até 2013.

Fonte: O Globo