A ideia surgiu no Twitter e até o Felipe Neto (!) apareceu para cornetar, então merece uma explicação mais detalhada neste espaço.
Marcos Braz está na Europa para um contato pessoal com alvos da diretoria do Flamengo na busca do sucessor de Jorge Jesus. A reposição mais complexa de treinador no futebol brasileiro em tempos recentes.
O contexto é único: um trabalho vencedor, com o feito inédito de conquistas de Libertadores e Brasileiro no mesmo ano. Com mais títulos que derrotas (5 a 4). Interrompido sem um nítido desgaste entre as partes. Foi bem-sucedido do início ao fim. Com total apoio e cumplicidade dos jogadores.
Não pode ser uma escolha aleatória. Ou que vá riscando nomes no mercado até encontrar quem aceite a proposta. Em um cenário de normalidade talvez houvesse mais pretendentes, mas o Brasil é hoje um dos países com mais infectados dentro de uma pandemia e a gestão pública é vista pelo mundo inteiro como incompetente e até indiferente à perda de tantas vidas.
Novos contextos, novas soluções.
Por que o Flamengo não aventa a hipótese de montar uma comissão técnica permanente e deixar o comando com uma espécie de "conselho autogestor", formado por Rafinha, Filipe Luís, Everton Ribeiro e os Diegos, Alves e Ribas?
Sim, dar poder às lideranças que fogem do padrão "boleiro" tipicamente brasileiro. Com exceção do capitão e camisa sete, todos com experiência na Europa trabalhando com os melhores treinadores do planeta. Se eles aceitassem, obviamente.
Os mesmos que conversando em campo deixaram Everton Silva, do Boavista, sem entender o que estavam falando, como se praticassem outro esporte. Mantendo as ideias de Jorge Jesus, que levou toda sua comissão técnica e não há nada documentado para o próximo profissional, que pode ficar tentado a rasgar tudo e fazer do seu jeito.
Uma ruptura que, se mal executada, não contará com a adesão dessas mesmas lideranças que, pela mentalidade, não fariam corpo mole para derrubar o treinador. Mas bateriam na porta de Braz para protestar e poderiam entornar o caldo.
É claro que seria preciso uma supervisão para que houvesse o entendimento que fazer parte do comando não garantiria titularidade, especialmente no caso de Diego, hoje reserva de Gerson. Por isso o conselho, para que quem quisesse tentar advogar em causa própria fosse voto vencido.
Alguém dirá: "isso é panela!" Sim, como não deu certo, por exemplo, no Cruzeiro de Thiago Neves, Dedé, Robinho e Fred rebaixado em 2019. Mas funcionou muito bem em 1981, no próprio Flamengo. Leovegildo Júnior, uma das lideranças daquela equipe, admitiu em entrevista concedida para este colunista dentro do projeto do livro "1981", escrito em parceria com o amigo e referência Mauro Beting em 2011. "Tinha panela, sim! A gente puxava fila em treino, ficava depois para trabalhar parte técnica. Tínhamos voz e o Carpegiani nos ouvia como se ainda fosse um de nós".
Poderia também ser um estágio para a efetivação de um veterano como treinador, com as devidas licenças. Como Filipe Luís, que já declarou que pretende estudar para ocupar a função. Uma transição natural.
Tudo para evitar uma escolha errada que poderia ser catastrófica. Há um contexto que pode massacrar o próximo treinador. Uma sombra imensa. Sem comparações, obviamente, há o "case" do Manchester United , que repôs a Era Alex Ferguson com David Moyes. E está até hoje buscando um norte para voltar a vencer em alto nível, ainda que sem a excelência de uma lenda do clube.
Utopia? Pode ser. Mas outras ideias também foram tratadas como loucura até alguém fazer dar certo. Como o próprio Felipe Neto, que em 2008 sentou ao lado deste que escreve em uma mesa de restaurante no aniversário do saudoso amigo comum Daniel Júnior e a maioria olhou para o jovem que dizia sonhar viver de Youtube como se ele fosse um alienígena. Felipe pensou fora da caixa e venceu.
O Flamengo também pode inovar e ser feliz. Se a viagem de Braz não for um sucesso será hora de refletir sobre novas saídas. Fica esta humilde sugestão.