Retrospectiva 2024: título com Filipe Luís, fim da era Gabigol e troca de diretoria marcam ano do Flamengo

Depois de um 2023 amargo e sem títulos, o Flamengo precisava se reerguer neste ano. E foi uma temporada intensa. 2024 reservou dois títulos ao clube, mas também confusão dentro e fora de campo e algumas despedidas.

O clube apostou em Tite, voltou a levantar troféus e ergueu o Carioca de forma invicta. No entanto, com o técnico, o ano também se desenhou conturbado com inúmeras lesões, eliminação precoce na Libertadores, futebol raramente vistoso, além da relação agitada com o Gabigol. Tudo isso resultou na demissão do treinador no fim de setembro.

A reta final da temporada trouxe um certo alento com a chegada de Filipe Luís, que conquistou a Copa do Brasil para salvar o ano com um título de expressão. A taça, no entanto, não foi suficiente para manter a gestão de Rodolfo Landim no poder. Após seis anos, o Flamengo terá uma nova diretoria: Luiz Eduardo Baptista, o Bap, foi eleito para o próximo triênio.

O 38º título estadual do Rubro-Negro foi conquistado com números expressivos. Com Tite, o Flamengo fez valer o equilíbrio – palavra-chave do treinador – e se negou a sofrer na competição. O clube foi campeão invicto e com a melhor defesa da história do Carioca: 11 vitórias, quatro empates e apenas um gol sofrido. Gol este sofrido pelo time alternativo, diga-se.

A coroação do título veio contra o Nova Iguaçu: 3 a 0 no jogo de ida e 1 a 0 na volta. A conquista teve protagonista o atacante Pedro. Foram 14 gols marcados em 15 partidas, uma média de 0,93 por jogo.

Pedro, Flamengo, Fluminense, Carioca — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

A campanha em busca da Glória Eterna foi irregular. Em nenhum momento o Flamengo encantou e acabou eliminado antes das semifinais pelo segundo ano seguido.

Em um grupo com adversários mais fracos, o Flamengo de Tite oscilou muito e se classificou às oitavas somente na última rodada com uma vitória sobre o Millionarios, no Maracanã.

No mata-mata, o Flamengo venceu o Bolívar por 2 a 0 como mandante e sofreu para se classificar na altitude de La Paz, na derrota por 1 a 0. Nessa altura, Tite já era alvo de críticas, mas foi mantido até as quartas de final, quando o Flamengo foi eliminado pelo Peñarol. O Rubro-Negro perdeu por um gol no Maracanã e não conseguiu reverter no Uruguai.

Em 10 jogos, foram quatro vitórias, dois empates e quatro derrotas. Foram 13 gols marcados e seis sofridos. A eliminação precoce foi a gota d’água para Tite, mas o treinador só foi demitido depois do jogo seguinte, em que o Flamengo venceu o Athletico-PR pelo Brasileirão.

O Flamengo começou bem o Brasileirão e voltou a liderar a competição logo na segunda rodada, após vencer o São Paulo. O Rubro-Negro não ocupava a primeira colocação desde 2020, quando foi campeão brasileiro pela última vez – a marca durou 115 rodadas.

Gerson foi um dos destaques do Flamengo no ano — Foto: Ettore Chiereguini/AGIF

O bom início trouxe a esperança de o clube voltar a conquistar o título nacional. Na 7ª rodada, por exemplo, o Flamengo venceu o Vasco por 6 a 1, na maior goleada rubro-negra na história do clássico. Nem mesmo os desfalques causados pela Copa América tiraram o time do topo. Durante o período (9 rodadas), mesmo sem cinco jogadores convocados, o Flamengo foi bem e segurou a liderança. O saldo foi positivo: cinco vitórias, dois empates, duas derrotas, e um aproveitamento de quase 63%.

A grande sequência de jogos para alguns jogadores, no entanto, cobrou um preço alta. No segundo semestre problemas clínicos começaram a assombrar. Algumas graves lesões tiraram jogadores importantes da temporada. Casos de Everton Cebolinha (ruptura do tendão de Aquiles) e Pedro (ruptura do ligamento cruzado anterior), por exemplo. Ambos voltam somente em 2025. Assim como Viña, que rompeu o cruzado e teve uma fratura da tíbia.

Pedro faz exercício no Ninho do Urubu sob orientação do Flamengo — Foto: Reprodução

Mas outros atletas também marcaram presença no DM: Arrascaeta, De la Cruz e Michael com lesões musculares. Além de Luiz Araújo, com uma fratura na cartilagem, que o tirou da reta decisiva da temporada. No início do ano, Gerson foi desfalque por cerca de dois meses por um diagnóstico de uma hidronefrose com infecção renal, que fez o jogador passar por uma cirurgia no rim.

O Flamengo agitou o Natal passado com a contratação de De la Cruz com o primeiro reforço do ano. Os R$ 78,2 milhões pagos à vista foram simbólicos e uma ideia do que o Rubro-Negro poderia fazer na janela. Logo depois, Viña e Léo Ortiz chegaram para completar o elenco na primeira janela. Depois do Carioca, Carlinhos foi contratado após se destacar pelo Nova Iguaçu.

Alcaraz comemora gol em Internacional x Flamengo — Foto: Luiz Erbes/AGIF

A segunda janela, no meio do ano, deu o que falar. O clube precisou agir às pressas para suprir as carências do elenco devido às lesões. No apagar das luzes, o Flamengo contratou Michael, Alex Sandro, Alcaraz e Plata. Os dois primeiros vieram livres, enquanto o argentino se tornou a contratação mais cara da história do clube (R$ 110,6 milhões).

O Flamengo deu o primeiro passo para construção de seu estádio próprio. Depois de meses em negociação com a Prefeitura do Rio e com a Caixa, o Rubro-Negro arrematou o terreno do Gasômetro em um leilão após a desapropriação ter sido anunciada pelo prefeito Eduardo Paes.

Flamengo recebe a chave simbólica do terreno do Gasômetro, onde construirá seu estádio — Foto: Fred Gomes

No dia 31 de julho, o clube comprou o terreno por R$ 138,1 milhões que era o lance mínimo do leilão. No mês seguinte, precisou pagar mais R$ 7,8 milhões pelo terreno após perícia. O valor total foi de pouco mais de R$ 145 milhões.

Na mesma nota em que anunciou a demissão de Tite, o Flamengo apresentou Filipe Luís como novo técnico. O ídolo estava no sub-20 e recebeu a sua primeira oportunidade no profissional. Quis o destino que ele assumisse na semifinal da Copa do Brasil, título que veio a conquistar pouco tempo depois. O Flamengo já havia passado por Amazonas, Palmeiras e Bahia na competição.

Em sua esteia, venceu o Corinthians por 1 a 0 no Maracanã e se classificou na volta no empate sem gols e com um jogador a menos (Bruno Henrique foi expulso no primeiro tempo) na NeoQuímica. Foram apenas quatro jogos para coroar o primeiro título de Filipe Luís como treinador profissional. A final foi emblemática com uma vitória simbólica no jogo de ida por 3 a 1, e o título sendo erguido na Arena MRV após um 1 a 0, com gol de Plata. Além disso, o time voltou a jogar um bom futebol sob o comando do ex-lateral.

Filipe Luís em Flamengo x Inter — Foto: Jorge Rodrigues / AGIF

Filipe esteve à frente do time em apenas 15 jogos: foram nove vitórias, cinco empates e uma derrota, com 23 gols marcados e 11 gols sofridos. O revés foi justamente em um clássico contra o Fluminense no Maracanã e que, segundo ele, marcou uma das piores noites de sua vida. No Brasileirão, o Fla terminou em terceiro lugar.

O último ano de contrato de um dos maiores ídolos da história do clube foi bastante conturbado. Gabigol começa a temporada com a denúncia da tentativa de fraude do exame antidoping, que o causou uma punição de dois anos de suspensão. O atacante, até hoje, atua sob efeito suspensivo conseguido junto ao CAS e ainda aguarda julgamento.

Esta, no entanto, não foi a única polêmica. O interesse do Corinthians foi um dos destaques e ganhou ainda mais atenção após Gabigol ter tido uma foto vazada com a camisa do rival paulista quando estava em casa com seus amigos. O episódio fez o atacante ser punido com a perda da camisa 10, além de uma multa.

Enquanto a negociação com o Flamengo estava parada após o clube voltar atrás nos valores acordados inicialmente, o jogador ficou livre no mercado e recebeu do Palmeiras um pré-contrato para assinar. Gabigol não assinou o documento, mesmo vivendo uma temporada como reserva e um status de preterido por Tite. Foram poucos jogos e minutos com o treinador.

O cenário melhorou com a chegada de Filipe Luís, e o atacante, aos poucos, recuperou o seu espaço. Gabigol fez, inclusive, dois gols na vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG, no primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil.

A possibilidade de uma renovação voltou ao radar da diretoria, que tomou um banho de água fria quando Gabigol anunciou que não ficaria no clube ainda no gramado após a conquista da Copa do Brasil. O destino é o Cruzeiro.

A atitude do jogador não repercutiu bem, principalmente pelas notícias dos bastidores que foram vazadas e confirmadas por Marcos Braz dias depois. Em respeito à relação construída desde 2019, as partes acalmaram os ânimos e se organizaram para uma festa de despedida na última rodada do Brasileirão.

No Maracanã, o ídolo se despediu de uma parte da Nação que o abraçou nos últimos seis anos. Gabigol recebeu homenagens da arquibancada com mosaicos e bandeirões e viu todas as suas 13 taças expostas no gramado. Ele não posou para foto com a diretoria o ouviu o presidente Landim ser xingado como protesto por sua saída.

Predestinado, Gabigol marcou o seu último gol com a camisa do Flamengo para encerrar a sua primeira passagem no clube. Isso porque, seu pai Valdemir Almeida afirmou que era apenas um "até logo". E, em sua última entrevista, o atacante revelou o sonho em retornar e uma promessa – deixada em sigilo – com Braz.

O ano foi marcado por eleições. Foram meses de campanha dos dois principais candidatos: Rodrigo Dunshee (candidato da situação) e Luiz Eduardo Baptista (principal candidato de oposição). Bap venceu o pleito com ampla maioria: 1.731 votos contra 1.166 votos. O terceiro lugar foi de Mauricio Gomes de Mattos, com 363 votos.

Bap toma posse como presidente do Flamengo — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

A vitória de Bap marca da gestão de Rodolfo Landim no clube. O atual presidente estava na campanha de Dunshee e seria o CEO do clube em caso de vitória. O mandatário eleito tomou posse na última semana e teve o seu primeiro ato: anunciou José Boto como diretor de futebol e a permanência de Filipe Luís como treinador.

Bap terá a caneta a partir de 1º de janeiro, mas sua gestão já começa a fazer as mudanças e o planejamento para 2025. No elenco já houve a primeira mudança: a gestão optou pela não renovação do contrato de David Luiz.

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Fonte: Globo Esporte