Para manter o sonho vivo do bicampeonato da Libertadores, o Flamengo tem uma árdua tarefa nesta quarta-feira, às 21h30 (de Brasília), no Maracanã: tirar uma diferença de dois gols do Emelec, que venceu o jogo de ida no Equador por 2 a 0 e pode até perder para se classificar. Mas qual é o tamanho dessa vantagem? Quantas vezes ela já foi revertida pelo Rubro-Negro?
Além dos muitos desfalques, que vêm dando dor de cabeça para Jorge Jesus, o Flamengo também jogará contra um histórico negativo. Em mata-matas na história, seja por competições nacionais ou sul-americanas, o clube já precisou reverter desvantagens igual ou maior que dois gols em 11 ocasiões: conseguiu só três vezes, e em apenas duas se classificou.
Mas também é possível olhar para o "copo meio cheio". Se por um lado o histórico é negativo, por outro o retrospecto recente é positivo. Das últimas três vezes em que foi para o segundo jogo de um mata-mata com uma desvantagem elástica, em duas o Rubro-Negro se classificou – tirando inclusive uma diferença maior do que a atual. Veja a lista:
Supercopa Libertadores (1988)
Os mais jovens podem não conhecer, mas existiu uma Supercopa disputada anualmente entre 1988 e 1997, fora do período da Libertadores, com todos os clubes campeões sul-americanos e em duelos mata-mata. O Flamengo de Andrade, Leandro e Zinho estreou na competição eliminando o Estudiantes, da Argentina, mas caiu na segunda fase para o Nacional, do Uruguai.
No primeiro jogo, no Estádio Centenário, o Nacional fez 3 a 0 e foi para o Rio de Janeiro podendo até perder por 2 a 0. Precisando golear, o Fla fez promoção de ingressos a 20 cruzados (equivalente a R$ 1,34 atualmente) e lotou o Maracanã com 70 mil torcedores. Mas o time ficou preso na forte marcação dos uruguaios, que no contra-ataque fizeram mais dois gols e eliminaram o Rubro-Negro.
Supercopa Libertadores (1990)
Na edição de 1990, logo na primeira fase, o Flamengo de Renato Gaúcho, Djalminha, Gaúcho, Nélio e companhia voltou a ter um placar elástico para tirar a desvantagem no Rio de Janeiro. No Estádio José Amalfitani, em Buenos Aires, na Argentina, o Rubro-Negro de perdeu por 3 a 1 para o Argentino Juniors, com Luís Antonio descontando de pênalti.
O jogo de volta foi no Caio Martins em Niterói, e o Flamengo conseguiu reverter a vantagem com gols de Nélio, Renato Gaúcho e Gaúcho. Mas o gol de Hernández deixou o placar igual ao da primeira partida e levou a disputa para os pênaltis. Só que na marca da cal, Gaúcho e Rogério erraram suas cobranças, e os argentinos se classificaram por 4 a 3.
Supercopa Libertadores (1995)
O ano do centenário do Flamengo ficou marcado pelo alto investimento e pela falta de títulos, principalmente a perda do Carioca para o Fluminense. Mas o que poucos se lembram é que no final daquela temporada o Rubro-Negro teve outra chance de gritar "é campeão": na final da Supercopa Libertadores contra o Independiente, da Argentina.
A campanha daquele time do "melhor ataque do mundo", com Sávio, Romário e Edmundo, foi quase perfeita: venceu todos os jogos, dentro e fora de casa, contra Vélez Sársfield, Nacional-URU e Cruzeiro. Só perdeu uma vez, por 2 a 0 para o Independiente em Avellaneda. Sem Edmundo, machucado, o Flamengo ganhou por 1 a 0 com gol de Romário, mas não foi suficiente.
Copa do Brasil (1998)
Em competições nacionais, a primeira grande desvantagem que o Flamengo enfrentou em mata-matas foi na Copa do Brasil de 1998. Na segunda fase do torneio, o Rubro-Negro foi goleado por 5 a 0 pelo Vitória no jogo de ida, no Barradão, em Salvador (BA). Resultado que acarretou no pedido de demissão do então técnico rubro-negro, Paulo Autuori.
Sob o comando de Joel Santana, o Flamengo precisava de pelo menos cinco gols no Maracanã para levar a disputa para os pênaltis. E fez: com quatro de um inspirado Romário e outro de Rodrigo Fabri. Mas o Vitória já havia marcado duas vezes no início do jogo e deixado a missão dos cariocas, que ainda tiveram Bruno Quadros e Júnior Baiano expulsos, impossível.
Copa do Brasil (2000)
Na Copa do Brasil de 2000, foi a primeira vez que o Flamengo teve uma grande desvantagem para tentar reverter fora de casa. Mas não chegou nem perto de conseguir. Aquele time liderado por Petkovic e dirigido por Carlinhos foi presa fácil do Santos do ex-rubro-negro Caio Ribeiro. No jogo de ida, no Maracanã, foi goleado por 4 a 0.
A tarefa de tirar a diferença na Vila Belmiro ficou ainda mais difícil quando Maurinho fez gol contra. Petkovic e Mozart marcaram os de honra do Flamengo, que ainda teve dois jogadores expulsos na partida: Maurinho e o próprio sérvio. O Santos aproveitou para estufar a rede mais quatro vezes, ganhar por 4 a 2 e eliminar o Rubro-Negro com duas goleadas.
Copa do Brasil (2005)
Na Copa do Brasil de 2005, novamente a tarefa foi de reverter um resultado fora de casa. Desta vez não foi um placar tão elástico como havia sido contra o Santos, mas o Flamengo perdeu novamente como mandante para o Ceará por 2 a 0, pelo jogo de ida das oitavas de final. Com o Maracanã interditado, o Rubro-Negro levou a partida para o Estádio Morenão, em Campo Grande (MS).
Após uma péssima atuação e a saída do técnico Cuca, quem assumiu o comando com a missão da virada foi Andrade. Mas aquele time liderado por Obina – que ainda não era melhor que Eto'o para a torcida –, só empatou o jogo da volta no Castelão por 1 a 1 e foi eliminado. O próprio atacante, em frango do goleiro, marcou o gol do Flamengo, que ainda teve dois expulsos: Jônatas e Fabiano.
Libertadores (2007)
A primeira vez que o Flamengo passou por este tipo de desafio na Libertadores foi em 2007. O Rubro-Negro de Renato Augusto, Renato Abreu, Léo Moura e companhia havia feito uma campanha quase perfeita na fase de grupos: cinco vitórias e um empate em seis jogos. Mas nas oitavas de final... Perdeu por 3 a 0 para o Defensor no Centenário, em Montevidéu, no Uruguai.
O time dirigido por Ney Franco se amparava na boa campanha para buscar forças para reagir. Fez uma partida na raça no Maracanã, mas ficou no quase. Venceu por 2 a 0, com dois balaços de Renato Abreu, em jogo que ficou marcado também pelas reclamações contra o árbitro argentino Héctor Baldassi. Mesmo eliminado, o Flamengo saiu aplaudido pela torcida.
Sul-Americana (2011)
Na Sul-Americana de 2011, o Flamengo voltou a tropeçar em casa e ter outra missão "quase impossível" em território inimigo pelas oitavas de final. Aquele time de Vanderlei Luxemburgo, com nomes badalados como Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, foi atropelado no Engenhão pela Universidad de Chile, que venceu por 4 a 0, teve um gol mal-anulado e ainda perdeu um pênalti.
Está certo que jogou com um a menos, já que Airton foi expulso na metade do primeiro tempo. Mas... Para a partida de volta, no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, nem mesmo Luxa acreditava na classificação na entrevista pré-jogo. E o Rubro-Negro, recheado de reservas, foi novamente derrotado, desta vez por 1 a 0, e saiu da competição.
Copa do Brasil (2014)
Mas não só de tristeza é a vida do Flamengo quando perde o primeiro jogo de mata-mata por placares elásticos. Na Copa do Brasil de 2014, o Rubro-Negro se deu bem pela primeira vez em uma reversão de resultados superiores a um gol de diferença. Nas oitavas de final, o time, novamente dirigido por Luxemburgo, saiu perdendo do Coritiba por 3 a 0 no Couto Pereira, em Curitiba (PR).
Na partida de volta, no Maracanã, o Flamengo sofreu e só conseguiu abrir o placar no fim do primeiro tempo, com Alecsandro de pênalti. O próprio centroavante fez o segundo, também da marca da cal, e Eduardo da Silva devolveu os 3 a 0 que levou a decisão para os pênaltis. Vanderlei, do Coritiba, pegou três cobranças, mas ainda assim o Rubro-Negro venceu: 3 a 2.
Sul-Americana (2016)
Em torneios internacionais, a única reversão de placar elástico do Flamengo foi na Sul-Americana de 2016, embora o adversário tenha sido brasileiro: o Figueirense. Pela segunda fase da competição, o Rubro-Negro foi até o Orlando Scarpelli, em Florianópolis (SC), e perdeu por 4 a 2. Mas os gols de Alan Patrick e Marcelo Cirino foram de suma importância.
Até porque, no jogo de volta, que foi realizado no Kleber Andrade, em Cariacica (ES), o Figueirense saiu na frente e abriu 1 a 0. Mas o Flamengo reagiu na base dos golaços: um de Everton e um de Jorge, no primeiro tempo, e outro de Fernandinho na etapa final. O placar de 3 a 1 deixou o saldo igual, mas o Rubro-Negro se classificou por ter marcado um a mais fora de casa.
Libertadores (2018)
A lembrança mais recente de uma desvantagem por 2 a 0, porém, não é nada boa no Flamengo. Na Libertadores do ano passado, pelo jogo de ida das oitavas de final, o time dirigido por Mauricio Barbieri, e com vários jogadores do elenco atual, jogou mal e perdeu dentro do Maracanã para o Cruzeiro, com gol do hoje rubro-negro Arrascaeta.
Na partida de volta, no Mineirão, o Cruzeiro novamente foi melhor, mas desta vez abusou de perder gols. E o Flamengo, em noite inspirada de Diego Alves, venceu por 1 a 0 com gol de Léo Duarte já na metade do segundo tempo. Mas o Rubro-Negro teve dificuldades para criar outras oportunidades, e o placar magro não foi suficiente para evitar a eliminação.
Observação:
Na Taça Brasil de 1964, o Flamengo enfrentou o Santos na final e foi goleado por 4 a 1 no primeiro jogo, no Pacaembu, empatando o segundo por 0 a 0, no Maracanã, e perdendo o título. Porém, essa partida não entrou na lista acima porque o regulamento da época não previa quantidade de gols como critério de desempate. Ou seja, se o Rubro-Negro tivesse vencido o duelo de volta por qualquer placar, haveria uma terceira partida para decidir o campeão .
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