Passado com Gabigol e predileção pela eficiência: quem é e como gosta de jogar Rui Vitória, alvo do Flamengo

Em janeiro deste ano, quando o trabalho do então técnico do Flamengo Rogério Ceni era questionado, parte da imprensa portuguesa chegou a especular a ida de Rui Vitória, treinador que fez muito sucesso pelo Benfica, à Gávea. A operação nunca se concretizou, mas o nome voltou a circular entre os rubro-negros neste fim de ano, em meio à busca do clube por um novo treinador. Dias após deixar o Spartak de Moscou, da Rússia, Vitória aparece como um dos possíveis candidatos à vaga deixada por Renato Gaúcho. O GLOBO tem analisado nomes sondados pelo Flamengo. Confira as ideias de jogo de Carlos Carvalhal , Eduardo Berizzo , Vitor Pereira , Paulo Fonseca e Paulo Sousa .

A passagem mais marcante de uma ainda curta carreira do português de 51 anos foi mesmo nos encarnados, a partir de 2015. Vitória, um ex-meiocampista, iniciou no pequeno Vilafranquense e passou pelas categorias de base do próprio Benfica. De lá, fez a escada pelos clubes do país: Fátima, Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães. No último, deixou sua assinatura e chamou a atenção após conquistar a Taça de Portugal de 2013, superando o poderoso Benfica de Jorge Jesus, no único título da competição do modesto clube do norte de Portugal.

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Em junho de 2015, foi contratado pelos encarnados para substituir justamente Jesus — que foi ao rival Sporting. O técnico viveu uma intensa rivalidade com o Mister, que transbordou para fora de campo. Em campo, melhor para Vitória: fez história ao conquistar o terceiro título do Campeonato Português consecutivo no Estádio da Luz, além de ter levado o Benfica às quarta da Champions League, acabando eliminado pelo Bayern de Munique. O conto de fadas seguiria na temporada seguinte, com um inédito tetracampeonato. O treinador faturou ainda a Taça de Portugal de 2016/17 e a Taça da Liga de 2015/16.

Ao longo da passagem, deixou claro seu estilo: o da eficiência. Jogando um futebol de proposta mais voltada para a reação, o contra-ataque, seu Benfica amassou recordes e estatísticas no futebol português. No primeiro título, terminou com 88 pontos de 102 em disputa, o melhor ataque (88 gols marcados) e a segunda melhor defesa (22 gols sofridos, um a mais que o Sporting). Na temporada seguinte, fez 82 pontos, mas liderou em ataque (72 gols marcados) e defesa (18 gols sofridos).

Rui Vitória (direita) durante a passagem pelo Spartak de Moscou Foto: KACPER PEMPEL / REUTERS
Rui Vitória (direita) durante a passagem pelo Spartak de Moscou Foto: KACPER PEMPEL / REUTERS

Eficiência e foco no contra-ataque

Rui Vitória gosta que seus jogadores tenham envolvimento completo tanto no ataque, quanto na defesa. Atua com linhas de quatro ou três defensores, apesar de ter consagrado um 4-3-3 clássico no Benfica, que podia alternar, também, para um 4-2-3-1. A base de seu jogo é o uso dos pontas, armas no ataque, na defesa e principalmente na transição ofensiva. O técnico gosta de sufocar os adversários no próprio campo até abrir o placar e assim ter mais tranquilidade para defender o resultado.

Quando consegue aplicar bem sua proposta e sair na frente, seus times tendem a compactar as linhas e recuá-las, esperando os espaços aparecerem para contra-atacar. Já quando tudo não corre como o planejado, o treinador gosta do envolvimento de boa parte de sua equipe na construção das jogadas desde a defesa. Na frente, prefere que seu meio faça o trabalho de operário para conseguir liberar os atacantes de lado de campo e o centroavante, mais móvel (o brasileiro Jonas foi artilheiro sob seu comando). Quando aciona seus pontas, dá liberdade para optar pelos cruzamentos ou pelas jogadas individuais. Assista ao melhores momentos de Benfica 1x0 Porto, pela 7ª rodada do Campeonato Português de 2018/19:

É um estilo de jogo que depende muito da capacidade dos homens de frente aproveitarem bem as chances criadas, além da necessidade de uma execução com poucos erros individuais. Estes foram os problemas que o técnico enfrentou na sua saída do Benfica, em 2019, e no Spartak, sua última experiência em clubes e a segunda internacional — treinou também o Al Nassr, da Arábia Saudita. No clube russo, viu o aproveitamento de suas passagens anteriores cair de mais de 60% para menos de 40%. Sua saída foi anunciada na última quarta-feira.

— Adaptação é uma palavra-chave na minha profissão. Você pode ter uma ideia de jogo favorita, mas o contexto deve permitir colocá-la em prática. O técnico tem que equilibrar esses dois mundos, não pode ser teimoso. Nunca joguei só pelo resultado, mas ao mesmo tempo, nunca ignorei o contexto envolvido em impor obsessivamente meu estilo de jogo — explicou em depoimento ao site "Coaches Voice".

Trabalho com revelações e passado com Gabigol

Apesar de não ser conhecido como uma figura polêmica, Rui Vitória tem um passado com o atacante Gabigol, do Flamengo. Os dois dividiram o vestiário do Benfica entre 2017, em parceria que não decolou. O atacante, emprestado pela Inter de Milão, reclamou das poucas oportunidades. O treinador chegou a criticar o apelido do brasileiro.

— É Gabriel. Gabigol é coisa de artistas. Não gosto muito de chamar meus jogadores assim.

Em abril, o técnico lembrou, em entrevista ao site Uol, que Gabigol enfrentou grande concorrência na posição quando atuou no clube. Ele elogiou o atacante e avaliou que, após o sucesso com a camisa rubro-negra, estaria mais preparado para atuar na Europa novamente.

— Talvez por ser mais novo, às vezes a maturidade, um contexto diferente. Os atacantes muitas vezes precisam de mais um ano em termos de experiência, assim começam a entender o campeonato, as defesas. A maturidade é importante. A culpa não foi dele, não foi minha. Foi o contexto.

Apesar do episódio, o técnico trabalhou com duas das principais revelações recentes no Estádio da Luz: o meia Renato Sanches e o atacante o João Félix. O segundo se tornaria o português mais caro da história ao ser comprado pelo Atlético de Madrid por 120 milhões de euros.

— Era um desejo do clube ter jogadores da base no time principal, mas contou também com a minha vontade. Decidimos juntos que era a hora de dar a chance a cinco ou seis garotos — afirmou ao Coaches Voice.

Fonte: O Globo
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