Paradoxo do futebol: empate entre Vasco e Flamengo gera cobranças distintas aos técnicos

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É curioso como, quase sempre, a forma de avaliar desempenhos e resultados no futebol está ligada às expectativas. As entrevistas coletivas dos treinadores após o 0 a 0 de Vasco e Flamengo, no sábado, são exemplos bem claros. Fábio Carille ouviu perguntas sobre a capacidade de resistir de sua equipe, sobre o fato de ter criado oportunidades no início do jogo, e fez questão de elogiar a competitividade vascaína. Já Filipe Luís teve que passar boa parte do tempo explicando por que o Flamengo não conseguiu vencer.

Um desavisado não conseguiria relacionar as entrevistas às estatísticas do jogo: foram 17 finalizações rubro-negras contra seis do adversário. A métrica dos gols esperados, que mede quantos gols cada time deveria ter marcado de acordo com a qualidade das oportunidades criadas, mostrava um 2,08 a favor do Flamengo contra um 0,44 para o Vasco.

O fato é que o campo, em geral, é reflexo da realidade administrativa, e, principalmente, econômica, dos clubes. O Vasco, hoje, compete com muitas limitações, algo que tem se refletido nos clássicos dos últimos anos. Então, antes do jogo, a grande dúvida era que tipo de resistência o time de Carille conseguiria oferecer. E se seria capaz de incomodar mais o adversário.

O fato é que a partida não oferece respostas tão claras. Quem olhar o chute de Paulo Henrique na trave ou a defesa de Rossi na finalização do ótimo Nuno Moreira terá argumentos para dizer que o Vasco competiu melhor. Mas, conforme o jogo foi andando, e especialmente quando foi preciso recorrer ao banco, as chances foram minguando, e a partida terminou com um exercício de resistência dos vascaínos.

Já o fato de manter o placar em branco pode sugerir, ainda, que o time de Carille fez ótimo trabalho defensivo — o que nem sempre foi verdade. Assim como a falta de gols do Flamengo pode fazer parecer que Filipe Luís não acertou o plano de jogo — outro equívoco, ao menos no primeiro tempo.

Na etapa inicial, o lado esquerdo do ataque rubro-negro foi a chave do jogo. Ayrton Lucas iniciava as jogadas mais próximo dos zagueiros, atraindo Rayan. Além disso, De La Cruz atraía Jair, gerando espaços entre zagueiros e meias do Vasco. Por ali, Arrascaeta recebia com espaço na meia esquerda. O Flamengo juntava jogadores naquele setor e construía jogadas. Já terminou a primeira etapa com o domínio do clássico.

Mas aí entra outro problema, que é crônico do Flamengo. Juntando as duas partidas que não venceu neste Brasileiro, contra Internacional e Vasco, o time soma 36 finalizações e apenas um gol, marcado num lance de bola parada contra os gaúchos. O gradual retorno de Pedro e a necessidade de usá-lo com moderação expõe que a montagem do elenco não parece ter resolvido a questão. E o uso de Bruno Henrique na função do “nove” não costuma ajudar. Gérson foi quem melhor atacou a área. Fez muito bem o trabalho de se mover até o lado esquerdo para tabelar ou infiltrar na área: finalizou três vezes, mas sem acerto — tampouco é um homem-gol, artigo escasso no Flamengo.

Há outros paradoxos neste clássico. O Vasco do segundo tempo se protegeu um pouco melhor, mas, para isso, precisou acumular muita gente na frente da área, perdendo os escapes em contragolpes. E se é fato que Léo Jardim fez grandes defesas no segundo tempo, elas já não traduziam uma grande atuação ofensiva do Flamengo. Estes lances ocorrem mais para o fim do jogo, em cruzamentos distantes da área, aproveitando a presença de Pedro. O domínio era grande, a contundência nem tanto.

No contraste entre expectativa e realidade, é natural que o Vasco leve do Maracanã a sensação de ter parado o então líder do Brasileiro. E que o Flamengo lamente as chances perdidas. Mas os dois lados levam para casa questões a resolver.

Decepcionante

O Fluminense controlou o 1º tempo com Ganso ditando ordens no meio-campo. Mas faltavam movimentos de volantes ou laterais atacando a área, já que o camisa 10 quase sempre atua por trás da linha da bola. Em vantagem no 2º tempo, o time administrou muito mal o resultado, com linhas baixas, muita precipitação nas chances de contragolpe e substituições que não funcionaram. O castigo veio com o empate do Vitória no final.

Não engrena

O Botafogo até conseguiu equilibrar o 1º tempo com o Atlético-MG, mas produzia muito pouco ofensivamente. Voltou mal do intervalo, sofreu o gol e se ofereceu ao jogo direto, de idas e vindas, que favorece os donos da casa. Num desses lances, David Ricardo foi expulso e o jogo praticamente se decidiu. Ainda parece um time em busca de identidade. Por ora, o planejamento de 2025 cobra um preço.

Jogo não jogado

O futebol brasileiro normalizou que alguns clássicos se transformem em “não jogos”.

O Gre-Nal é um caso. No sábado, apesar dos 18 minutos de acréscimos, houve só 47 minutos de bola rolando. Entre discussões, VAR e o erro do árbitro que não marcou um pênalti para o Grêmio, o 1 a 1 refletiu o jogo. A partida física do 1º tempo foi melhor para o tricolor. O Internacional, que caiu de rendimento, cresceu após o intervalo.

Fonte: O Globo