Loucos por futebol adoram camisas de clubes. Também veneram os estádios por onde passam bom tempo ora vibrando com a vitória de seu time, ora sofrendo com a derrota. No meio disso tudo, surge um "arquiteto dos sonhos em papel". Há quatro anos, o carioca Christian Gama, 43 anos, causou certo frisson com as
miniaturas dos mantos sagrados
. Os colecionadores adoraram. Agora, é a vez de os palcos do futebol virarem arte em suas mãos.
Pode ser o Maracanã cheio em dia de Fla-Flu. Pode ser também o Camp Nou no aclamado Barcelona x Real Madrid. Ou o velho e histórico Pacaembu relembrando os históricos Corinthians x Palmeiras. Tem para todo gosto. Do Gre-Nal no Beira-Rio ou Olímpico ao Atlético-MG x Cruzeiro no novo ou velho Mineirão. Estádios da Copa de 2016 e do mundo inteiro são feitos por Christian e seu pai, Joaquim Castro, de 65 anos. Com tamanho médio de 26cm por 19cm - quase uma folha A4 -, ao custo médio de R$ 60, as maquetes se tornam um belo enfeite para os mais fanáticos.
O estalo de fazer o "stadium paper" - como Christian o batizou - surgiu pelo fato de as camisas já não renderem mais o esperado. Desempregado há quatro anos, ele resolveu ganhar a vida realizando sonhos de torcedores. Há quatro meses começou com as maquetes, todas feitas de vários tipos de papel,
de acordo com a estrutura. Primeiro é feita a amostra crua, no computador. Depois de aprovada, é jogada a tintura, tudo pelo computador
(veja no vídeo abaixo)
.
- Sempre quis fazer
estádios. Meu pai também. Olhando na internet, pesquisando,
achamos num jornal da Bahia uma pessoa que montava os da
Copa do Mundo. Alguém negociava num site de vendas da internet.
Compramos um e fizemos, achamos muito legal. Só que era limitado.
Decidimos desenhar. Montei, pedi para meu pai também montar e eu passar a
desenhar. Resolvemos fazer os que dava para fazer. Começamos
pelos mais simples, e agora estamos evoluindo.
Morador de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Christian disse que desde a criação do "stadium paper" os pedidos não param - já foram 18 criados até o momento. E há encomendas das mais inusitadas - mas o Maracanã é o mais pedido.
- Tem um que nem lembro o nome. Ele nem é reto, plano, é numa
subida de morro. É de um time da Romênia, o cara que pediu é fanático
pelos times de lá. Eu disse que nem tinha como montar. Gosto de fazer as
coisas bem-feitas. Outro é da quarta divisão da Hungria. Mas aparecem
estádios que eu nem conhecia, eu explico que preciso de tempo. Estádio
demora...
O tempo para entrega varia conforme a arquitetura
do estádio. Alguns precisam de apenas dois ou três dias. Outros necessitam de prazo maior, de 15 a 20 dias.Os cuidados são enormes, o trabalho é bem mais minucioso do que dos tempos das miniaturas de camisas. Christian se empenha no momento em "construir" um dos mais badalados da Europa. Nada fácil, por sinal.
- A gente tem que desenhar e
achar os encaixes direitinho, para não ficar torto. Primeiro temos que
achar fotos de qualidade dos estádios, para podermos
transformar o desenho no mais parecido possível. Temos de fazer a base,
medida do estádio, sua arquitetura. Eu costumo dizer que demora em média 20
dias. Mas tem estádio que dura até mais. Estamos num projeto de fazer o
Stamford Bridge, do Chelsea. Já estamos há mais de 30 dias nele e não conseguimos
chegar na metade.
O preço varia de acordo com a dificuldade.
Mas tem a média de R$ 60. Christian já avisa: o do Chelsea certamente vai custar mais,
senão não vale a pena. Os estádios dos clubes de coração do "arquiteto" - São Januário, do Vasco, e o Juventus Stadium, do Juve, da Itália - já foram devidamente preparados. Mas tem um que Christian sonha ainda fazer, por uma questão sentimental.
- Pela
história, pelo que eu ouvia dos meus avós, quero fazer o Monumental de Nuñez, do River Plate, da Argentina.
Nem é tão difícil, mas quero que fique o mais perfeito possível. Ali
teve o gol do Juninho Pernambucano na Libertadores pelo Vasco contra o River, eu acho um estádio
muito bacana. Tem também o estádio de Wembley, quero muito fazer. Mas
estamos no projeto do estádio do Chelsea, que é longo. Às vezes a gente
dá uma parada porque precisa montar um mais rápido.
Dar uma de arquiteto de estádios, para Christian, é realizar um sonho bastante divertido aliado à necessidade de ter o ganha-pão. Quatro anos atrás ele foi demitido do trabalho e
começou a criar as camisas para coleção própria. Quando pôs no ar o site e passou a negociar, segundo ele, "virou uma febre", mas depois as vendas caíram. Daí a necessidade de inovar. Além das maquetes, ele criou um kit com a camisa e a taça de
campeão. As flâmulas são o próximo passo. Mas já pensa mais adiante.
- Cada estádio pronto eu até choro. Um elogio... Fico
emocionado. Amo futebol. Sonho também fazer bustos dos
principais ídolos do mundo: George Best, Dassaev, Yashin, com escudo
grande. É um projeto grande, tem que ver como vai desenhar o rosto,
botar em 3D, pra não ficar uma coisa reta. Não vai ser agora, tem que
ser uma coisa de cada vez.
As encomendas não param. Há pedidos de estádios de clubes paulistas do interior. Tem também o Barradão, do Vitória, da Bahia. Ele segue uma lista de espera dos colecionadores.
- São Januário e Engenhão
são estádios com arquitetura mais complicada. O Camp Nou, do
Barcelona, o do Lyon, da França, do Sevilla, da Espanha, também. Tem uns 15
pedidos de estádio - afirmou Christian, que promete manter o sonho em boa produção.